segunda-feira, 22 de março de 2010

Filme do Desassossego


Carta a Armando Cortes-Rodrigues, em 4 de Outubro de 1914:

…Nem lhe mando outra pequenas coisas que tenho escrito nestes dias. Não São muito dignas de serem mandadas, umas; outras estão incompletas; o resto tem sido quebrados e desconexos pedaços do Livro do Desassossego. Verdade seja que descobri um novo género de paulismo. …
O meu estado de espírito actual é de uma depressão profunda e calma. Estou há dias ao nível do Livro do Desassossego. E alguma coisa dessa obra tenho escrito. Ainda hoje escrevi quase um capítulo todo.

Em 19 de Novembro de 1914:

O meu estado de espírito obriga-me agora a trabalhar bastante, sem querer, no Livro do Desassossego. Mas tudo fragmentos, fragmentos, fragmentos.


Chama-se o “Filme do Desassossego”, versão para cinema do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, semi-heterónimo de Fernando Pessoa. O projecto é do cineasta João Botelho, que para explicar como está a rodar o filme, indicou ter encontrado no livro três coisas maravilhosas, três indicações cinematográficas.
“Uma é sobre a luz, a mesma luz que ilumina a face dos santos deve iluminar os sapatos dos homens comuns, isto é uma regra fundamental no cinema que eu amo. A segunda é sobre a distorção do tempo, o tempo no cinema é como nos sonhos, nunca é o tempo real. E a terceira é a coisa mais brilhante de todas, experimentem ler o Livro do Desassossego em voz alta”

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