quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Poemário Assírio & Alvim 2012



Lábios rubros em botão
Onde o amor vem dormir,
Bebi do meu coração
Todo o amor que eu sei sentir.

Fernando Pessoa (1888-1935)
Quadras

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

No Reservations




O famoso chef Bourdain depois de ter passado nos Açores, com o seu No Reserventions, esteve a semana passada em Lisboa na companhia de António Lobo Antunes, do qual confessou-se admirador. Foram aos Fados no Bairro Alto, e no de Cais de Sodré, comeu bifanas ao som dos Dead Combo.
Editado agora em Portugal (Livros d' Hoje), Bourdain traz-nos Les Halles, um livro de culinária ímpar: engraçado, audaz, dotado do encanto e da fanfarronice típicos de Bourdain. Traga uma faca afiada, um grande apetite e vontade de aprender, pois Bourdain vai ensinar-lhe tudo o que precisa de saber para preparar os pratos clássicos dos bistrôs. Enquanto o leitor é orientado, em passos simples, por receitas como vitela assada com batata frita à Les Halles, escargots aux noix e foie gras aux pruneaux, vai sentir-se como se o autor estivesse ao seu lado na cozinha – a atirar-lhe insultos quando deixar queimar o molho, e depois a dar-lhe uma palmada nas costas quando acertar com o bife tártaro. Repleto de fotografias atraentes e com 110 receitas, este livro é receita garantida para os apreciadores de livros de culinária, aspirantes a chefes e admiradores de Bourdain.



domingo, 4 de dezembro de 2011

Inédito de Renata Correia Botelho no Público, P2, 03-12-2011.

O riso e a sombra

a noite cai em riste
sobre o corpo suspenso
do palhaço – ancorado,
preso por um fio
à luz morna que lhe projecta
na madeira a sombra frágil.
Os seus olhos fechados,
onde viveu já o rumo
alado do trapezista
antes de ver o mundo
do ponto de vista da queda,
abrigam agora o riso
emprestado à burlesca
tragédia de se estar vivo.

Renata Correia Botelho




Momento final do espectáculo Maintenant, de Sky de Sela, fotografado por Renata Correia Botelho.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Vida e Destino

Vassily Grossman

«Vassili Grossman, adoptando a estrutura global de Tolstói em Guerra e Paz, pinta em Vida e Destino um imenso fresco da Rússia soviética, com incidência nos anos da Segunda Guerra Mundial, na ofensiva alemã e na defesa e, depois, na contra-ofensiva soviética, que culminou na libertação de Stalinegrado e dos territórios ocupados pelos nazis.
Entregue ao editor em 1961, Vida e Destino passou de imediato para as mãos do KGB e teve o privilégio não só de ser proibido como o de desaparecer da face da Terra durante vinte anos. O seu manuscrito só apareceu na Suíça em 1980, graças a ilustres dissidentes soviéticos.
Na Rússia, apenas em 1988, depois da glasnost, viria a ser publicado. A nada disto assistiu já Vassili Grossman, uma vez que faleceu de cancro de rim três anos depois de ter entregue o seu manuscrito e de o ver apreendido pelas autoridades.»
A obra proibida, aparece em microfilme " Vida e Destino", feito a partir de duas cópias que escaparam ao KGB, foi transportado no fundo falso de uma caixa de biscoitos de gengibre e depois enviado para o Ocidente, pela rede de dissidentes que incluía o físico Andrei Sakharov.


Stieg Larsson segundo David Fincher

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Plano Regional de Leitura Açores

Convidam-se os artistas de artes performativas, musicais ou multimédia, em nome individual ou colectivo, a apresentarem projectos artísticos de promoção do livro e da leitura, destinados ao público escolar para o ano lectivo 2011/2012.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A Greve


Greve é o livro de estreia da ilustradora Catarina Sobral e também o primeiro título de uma autora portuguesa na colecção Orfeu Mini.
Um dia, os pontos decretaram greve. Os pontos? Quais pontos? TODOS os pontos! Primeiro, foi a escrita foi a colapsar… Nas escolas, nos museus, nas fábricas, nos hospitais, ninguém se entendia. O ponto de fuga desapareceu. E o ponto verde. E o ponto de encontro. Tudo e todos chegavam atrasados. E era impossível fazer o ponto da situação. Até que…


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Má Classificação no Top Livros do Atual

O Jornal Expresso no seu suplemento "Atual" iniciou a publicação da tabela dos livros mais vendidos em Portugal. O leitor tem assim acesso aos dez livros mais vendidos semanalmente em Ficção, Não Ficção, e uma categoria específica, escolhida todas as semanas.
Esta tabela cobre 75% do mercado livreiro português, caso para perguntar o que acontece aos restantes 25%.
Como a intenção é de informar o leitor, aqui fica uma chamada para o erro na classificação do título Alta Definição – O Que Dizem o Teus Olhos de Daniel Oliveira, tratando-se de um livro de entrevistas, não poderia estar inserido na tabela de Ficção, a menos que as mesma sejam pura ficção.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O mapa e o terriório


Se a história deste romance nos fosse contada por Jed Martin, talvez ele começasse por falar da avaria da caldeira do seu apartamento, num dia 15 de Dezembro. Ou solitários Natais passados com o pai, um arquitecto famoso que sonha construir cidades fantásticas mas ganha a vida a projectar resorts de férias.
Talvez não falasse do suicídio da mãe quando tinha apenas sete anos, porque são muito ténues as recordações que dela guarda. Mas mencionaria certamente Olga, uma lindíssima russa, que conheceu por ocasião da primeira exposição do seu trabalho fotográfico baseado nos mapas de estradas Michelin.
Apesar de indiferente à fama e à fortuna, Jed poderia mencionar o êxito estrondoso que alcançou com uma série de quadros de célebres personalidades de todos os meios, retratadas no exercício da sua profissão. Um dos retratados é Michel Houellebecq (sim, o autor), num trabalho conjunto que mudará a vida de ambos: fonte de vida para um e razão de morte para outro.

Em O mapa e o território (Prémio Goncourt 2010), Houellebeq explora os temas que lhe são mais caros; a solidão, os limites das relações amorosas, o absurdo mundo em que vivemos, fazendo um retrato mordaz mas contido da sociedade contemporânea.

O mapa e o território de Michel Houellebeq, tradução de Pedro Tamen, editado pela Alfaguara , 2011.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Ruy Belo Homem de Palavra(s)


Enterro Sob o Sol

Era a calma do mar naquele olhar
Ela era semelhante a uma manhã
teria a juventude de um mineral
Passeava por vezes pelas ruas
e as ruas uma a uma eram reais
Era o cume da esperança: eternizava
cada uma das coisas que tocava
Mas hoje é tudo como um fruto de setembro
ó meu jardim sujeito à invernia
A aurora da cólera desponta
já não sei da idade do amor
Só me resta colher as uvas do castigo
Sou um alucinado pela sede
Caminho pela areia dêem-me um
enterro sob o sol enterro de água


Ruy Belo, Todos os Poemas.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Poema de Tomas Transtromer - Nobel da Literatura de 2011



Allegro


Toco Haydn depois de um dia infeliz
Experimento nas maõs um suava ardor.

As teclas obedecem. Batem brandos martelos.

A tonalidade é verde, viva, aprazível.
A tonalidade diz que a liberdade existe

E que alguém se nega a pagar imposto ao imperador.

Meto as mãos nos meus bolsos-haydn
E faço de conta que encaro o mundo com calma.

Iço depois a bandeira-haydn, que significa:

“ Nós não nos rendemos, mas queremos paz.”


Traduções, do Sueco,
de Alexandre Pastor

domingo, 30 de outubro de 2011

É Na Terra Não é Na Lua



"É NA TERRA NÃO É NA LUA" de Gonçalo Tocha Vencedor DocLisboa

"No filme, cada pessoa é tratada de uma maneira diferente, de acordo com a relação que criava com cada uma. Fazia o exercício de pensar como é que podia engrandece-las através da imagem e da minha interação com elas. É o caso, por exemplo, da senhora Inês, da loja de artesanato. Queria comprar um gorro do Corvo, e ela não tinha, então, pedi-lhe para me fazer um e assim aproveitava para filmar o processo. Acabou por ser um símbolo muito forte no filme, também porque acompanhava a evolução da nossa relação. Agora, ando sempre com o gorro. É como se estivesse a vestir o Corvo."

Gonçalo Tocha (in JL)

sábado, 29 de outubro de 2011

URBANO neste meio de mar

Exposição Antológica URBANO neste meio de mar
Núcleo de Arte Sacra e Núcleo de Santa Bárbara
28 de Outubro de 2011 a 29 de Janeiro de 2012

sábado, 22 de outubro de 2011

O Burro e o Bolo de Massa Cevada


"No século passado vivia nos Mosteiros, ilha de S.Miguel, uma pobre viúva com uma única filha em idade de casar. Apesar da rapariga namorar há muito tempo com um rapaz da freguesia, não havia maneira do rapaz marcar a data do casamento.
A viúva querendo ver a filha casada, o mais rapidamente possível resolveu recorrer aos seus conhecimentos de feitiçaria para apressar o casamento. Assim, certa noite, antes do nascer do sol, a mãe acordou a filha e foram ambas para a cozinha fazer um bolo de massa cevada que a rapariga deveria oferecer ao rapaz. A massa foi colocada em cima de um pano branco, alvo como a neve, e amassado pela rapariga enquanto a mãe rezava uma orações só do seu conhecimento.
Quando ao fim da tarde o rapaz se apresentou em casa da futura sogra para namorar, encontrou à sua espera um bolo de massa cevada alto e fofo como ele nunca tinha visto. O rapaz desconfiado achou que aquilo não era normal afirmando não ter fome, no momento, prometeu comer uma fatia do bolo mais tarde. No entanto, já a caminho de casa o rapaz passou por uma arribana e vendo lá dentro um burro atirou-lhe o bolo.
O burro não se fez rogado e saciou a fome com aquele maravilhoso pitéu. Quase imediatamente, o animal ficou muito agitado e rebentando a corda que o amarrava saiu numa correria louca em direcção à casa da viúva e da filha. Todos os esforços para afastar o burro foram em vão e o animal zurrava cada vez mais alto demonstrando o seu amor pela rapariga. O rapaz, perante este cenário, afastou-se o mais depressa que as pernas lhe permitiam, e nunca mais quis saber da rapariga."

As Lendas No Imaginário Açoriano de Avelino Santos e Lúcia Santos
Blu Edições, 2011.

Nova Edição - As Lendas no Imaginário Açoriano



« As lendas são a prova de que as tradições de um povo permanecem vivas e que cada geração recebe e guarda com carinho uma herança que tem sido religiosamente guardada e passada de geração em geração. As lendas revelam o mais íntimo e profundo do ser humano, não se centrando unicamente em seres imaginários, mas exprimindo as crenças e as convicções do meio cultural onde as pessoas se movem, porque a lenda é a “ dramatização do fogo nas entranhas da Terra, é a estupefacção e a admiração dos vulcões vomitando lava ardente, pedras incandescentes, cinzas amortalhadoras (...) o mar com os seus mistérios e encantos; as lagoas com os seus bramidos e policromias; á a lua, o sol, as plantas.”»

Da Introdução


As Lendas no Imaginário Açoriano de Avelino Santos e Lúcia Santos.

Blu Edições, 2011.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

domingo, 25 de setembro de 2011

5 Minutos de Cultura

O desejo de ser inutíl


"Reflectir, encarar as coisas, assumir as responsabilidades, prosseguir o seu trabalho ou seja o que for que se empreendeu mesmo quando as circunstâncias se tornam adversas, é isso um homem, alguém que enfrenta os seus problemas, que leva até ao fim o que se propôs fazer, que procura ser rigoroso consigo próprio. Eu tento ser assim, e trato de me defender quando os meus princípios éticos são atacados."

Hugo Pratt, O desejo de ser inútil, Relógio D'Água

domingo, 11 de setembro de 2011

Antero de Quental 11 Setembro de 1891



Na Mão De Deus

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva no colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!


Antero de Quental
, Sonetos Completos.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Livraria SolMar no Público


Henry James nasceu em 1843, na cidade de Nova Iorque, e morreu em Londres, em 1916. Na expressão de Jorge de Sena, nasceu norte-americano e morreu inglês.
James publicou dezenas de romances, contos e novelas, escreveu poderosíssimas páginas, criou encantadoras personagens e os seus escritos constituem uma deliciosa leitura. Os seus livros baseiam-se em observações psicológicas subtis de indivíduos que passam por situações emocionais intensas. A relação entre a América “ingénua” e a Europa culta, e os contrastes entre os seus valores morais e estéticos eram tema favorito de Henry James, talvez consequência de uma vida repartida entre os dois lados do Atlântico.
A novela retrata a menina Daisy Miller, “ surpreendente e admiravelmente bonita”, uma jovem americana, liberal, de modos desfasados do seu tempo, coquete, mas honesta. O seu contemplativo enamoramento por Winterbourne, um norte-americano, um rico herdeiro que se movimenta entre os códigos restritos da compostura e timidez, será vítima da inevitável regulação social.
Nas opulentas estâncias de veraneio europeias, nas margens do lago de Genebra, e na Cidade Eterna “pelas cínicas ruas de Roma”, Winterbourne contemplava e desencontrava Daisy no afago de uma brisa inocente e cruel. Debaixo do enredo melodramático da novela, Henry James revela, magistralmente, e a mais subtil tragédia da inocência perdida e dos sonhos desfeitos.

Texto de José Carlos Frias (in) Público, 19 Agosto de 2011, Daisy Miller, Colecção Não Nobel.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Marca de Água


«Permitam-me que o reitere: a água é igual ao tempo e fornece à beleza o seu duplo. Parcialmente de água, também nós servimos da mesma forma a beleza. Aflorando a água, esta cidade apura as feições do tempo, embeleza o futuro. Nisso consiste o papel desta cidade no universo. Porque a cidade é estática, ao passo que nós nos movemos. A lágrima é disso a prova. Porque nós passamos e a beleza fica. Porque nos dirigimos para o futuro, enquanto a beleza é o eterno presente. A lágrima é a nossa tentativa de permanecer, de ficar para trás, de nos fundirmos com a cidade. Mas isso é contra as regras. A lágrima é um retrocesso, um tributo do futuro ao passado. Ou então é o resultado que se obtém quando se subtrai a maior da menor parcela: a beleza, do homem. O mesmo vale para o amor, porque também o nosso amor é maior do que nós.»

Marca de Água de Joseph Brodsky.

sábado, 13 de agosto de 2011

Inferno


«Diz: --Tudo é inútil, se o último local de desembarque tiver de ser a cidade infernal, e é lá no fundo que, numa espiral cada vez mais apertada, nos chupar a corrente.
E Polo: -- O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver un, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.»

As Cidades Invisíveis de Italo Calvino.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Leitura

«A essência do acto perfeito de leitura é, como vimos, de reciprocidade dinâmica, de resposta à vida do texto. O texto, embora inspirado, não pode ter uma existência significativa se não for lido (que estímulo de vida existe num Stradivarius que não é tocado?). A relação do verdadeiro leitor com o livro é criativa. O livro tem necessidade do leitor tal como este tem necessidade do livro.»
George Steiner, Paixão Intacta.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Possibilidade

Jorge Molder

«Continuo a fazer de conta que não sou cego, continuo a encher a minha casa de livros. Há dias ofereceram-me uma edição de 1966 da Enciclopédia Brockhaus. Senti a presença desse livro na minha casa, senti-a como uma espécie de felicidade. (...) Senti como que uma gravitação amistosa. Penso que o livro é uma das possibilidades de felicidade concedida aos homens.»

J.L.Borges, O Livro.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

De Olhos Abertos


«Em Petite Plaisance, quando empurra a porta, por baixo da varanda de onde pendem espigas de milho (símbolo local de prosperidade, oferenda a um qualquer deus desconhecido, deixado pelos índios, quem sabe?), o visitante tem o sentimento de penetrar com naturalidade numa terra onde o ar é diferente. O olhar de Marguerite Yourcenar, ao mesmo tempo longínquo e cortês, com algo de irónico, pousa sobre ele, avalia-o, julga-o. E começa então a falar, com a segurança daquele que acredita...»

Este livro reune diversas entrevistas que Marguerite Yourcenar (1903-1987) concedeu a Matthieu Galey. Ao longo dessas conversas, Yourcenar descreve o itinerário da sua existência nómada, desde a infância antes da Guerra de 1914, junto de um pai excepcional, até à deslocação para a ilha de Montes Desertos, na costa este dos Estados Unidos. Mesmo ao abordar a sua vida quotidiana, Yourcenar revela um invulgar dom para situar os seres, os acontecimentos e as circunstâncias numa perspectiva mais ampla. Sem reservas, com uma simplicidade e sabedoria conquistada ao longo dos anos, os "olhos abertos" de Yourcenar demoram-se nos mais variados aspectos dos mundos antigo e contemporâneo. No conjunto, este é o testemunho que Yourcenar nos deixou sobre os seus sentimentos, acções e pensamentos.

De Olhos Abertos, Marguerite Yourcenar, Conversas com Mathieu Galey.
Tradução de Renata Correia Botelho.
Relógio D'Água,2011.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde



«Qualquer estátua – é sabido – contém um princípio vital que uns dizem derivar do artista que a moldou, outros, da entidade que representa, outros ainda do próprio vigor da pedra, que apesar de cortada e extraída continua a nascer e a crescer nas pedreiras. Talvez seja ilusória aquela aparente rigidez das formas. Provavelmente, a estátua observa o que se passa em volta. Tudo vê, ouve e guarda. Mas apenas actua nos momentos propícios, raros e ponderosos. E sendo assim, deve haver um segredo para penetrar na alma das estátuas. Um gesto, um vocábulo, um pensamento piedoso emergindo no tempo e na conjugação astral adequados. Ou talvez apenas uma pessoa bem determinada, escolhida pelo favor dos deuses, seja apta a chegar à alma que se disfarça na pedra.»

Mário de Carvalho, Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde, Ed. Caminho.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Rosa do Mundo

William Waterhouse

«Há muitos e muitos milhares de anos, a poesia aproximou-se do homem e tão próximos ficaram, que ela se instalou no seu coração. E começaram a ver o mundo conjuntamente estabelecendo uma inseparável relação que perdurará para sempre. Não demorou muito a que a poesia se emancipasse, autonomizando-se. Como uma rosa de cujas pétalas centrípetas emana a beleza e o mais intenso perfume, sem nunca prescindir da defesa vigilante dos seus espinhos, assim cresceu livre a poesia carregada de silencioso mistério e sedução.»

Manuel Hermínio Monteiro, in Rosa do Mundo - 2001 poemas para o futuro, 2001, p. IX.,Ed. Assirio e Alvim.


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Livros Para Ler nas Férias - Sugestões I



O Homem do Turbante Verde
Mário de Carvalho
Ed. Caminho,2011.

Numa altura em que o interesse pela narrativa curta se renova por todo o lado e depois da reedição muito esperada de "Contos da Sétima Esfera", surge este perturbador "O Homem do Turbante Verde". Cenários evocadores dos nossos dias enlaçam-se com os destinos de uma juventude confrontada com preplexidades e dilemas de um tempo histórico ainda recente. Percursos aventurosos numa África irreal, toda feita de caprichos literários, vão de par com histórias sombrias, cheias de inquietação e susto. A ironia afável conjuga-se com a crueldade. Uma estranheza, ora inquietante ora divertida, acompanha o delírio mais inesperado. Uma linguagem que aposta na clareza, sem fazer quaisquer concessões ao facilitismo.



Tiago Veiga - Uma Biografia
Mário Cláudio
Ed. Dom Quixote,2011.

Tiago Veiga cresceu numa aldeia do Alto Minho em 1900, e nesse mesmo lugar viria a morrer em 1988. Bisneto pelo lado paterno de Camilo Castelo Branco, e só de muito poucos conhecido ainda, Veiga protagonizaria uma singularíssima aventura poética na história da literatura portuguesa.
A sua biografia, redigida aqui por Mário Cláudio que o conheceu pessoalmente, não deixará de configurar de resto matéria de suplementar interesse pela relevância das figuras com que Veiga se cruzou, e entre as quais se destacam poetas como Jean Cocteau e Fernando Pessoa, Edith Sitwell e Marianne Moore, Ruy Cinatti e Luís Miguel Nava, políticos como Bernardino Machado e Manuel Teixeira Gomes, pensadores como Benedetto Croce, e até simples ornamentos do mundanismo internacional como a milionária Barbara Hutton.




As Luzes de Leonor
Maria Teresa Horta
Ed. Dom Quixote,2011.

Leonor de Almeida Portugal, neta dos Marqueses de Távora, uma figura feminina ímpar na história literária e política de Portugal. A escritora Maria Teresa Horta durante 13 anos, persegue-a e vigia-a nos momentos mais íntimos, atraída pela desmesura de Leonor, no seu permanente conflito entre a razão e a emoção. Acompanha-a no voo de uma paixão, que seduz os espíritos mais cultos da época, o chamado “século das luzes”, e abre as portas ao romantismo em Portugal. Um maravilhoso e apaixonante romance sobre a extraordinária e aventurosa vida da Marquesa de Alorna.


segunda-feira, 4 de julho de 2011

Urbano - O Terceiro Dia


Dia 7 de Julho, quinta-feira, às 21h00, inauguração da exposição O TERCEIRO DIA, do artista Urbano, na Fonseca Macedo - Arte Contemporânea, Ponta Delgada.

sábado, 2 de julho de 2011

O Pintor Debaixo do Lava-Loiças


A liberdade, muitas vezes, acaba por sobreviver graças a espaços tão apertados quanto o lava-loiças de um fotógrafo. Esta é a história, baseada num episódio real, de um pintor eslovaco que nasceu no final do século XIX, no império Austro-Húngaro, que emigrou para os EUA e voltou a Bratislava e que, por causa do nazismo, teve de fugir para debaixo de um lava-loiças.

-- Para ganhar uma guerra -- disse Sors --, há duas condições: não morrer e não matar. É só nesse caso que se pode sair vitorioso de uma guerra.
Matej Soucek ria-se. Estava ali sem pensar em nada e apontava para a frente, contra o inimigos, e a sua vida fazia mais sentido de cada vez que disparava.
-- No final é que vamos ver, Sors. Quando isto acabar é que vamos ver quem sai vitorioso.

terça-feira, 28 de junho de 2011

ExtraTexto


A single man (Tom Ford)2009

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Viajar com Chaplin



" Queria umas férias emocionais. Talvez esteja a colocar, logo de início, uma condição difícil de executar, mas asseguro-vos que até os palhaços têm os seus momentos racionais e eu precisava de alguns."

Depois de sete intensos anos de trabalho em Hollywood, Charlie Chaplin encontrava-se física e emocionalmente esgotado e tinha apenas um desejo: escapar-se. Aproveitando a estreia em Londres do seu filme O Garoto de Charlot inicia uma viagem à Europa que o levará à sua terra natal, mas também a Paris e à Alemanha. Em A minha viagem pela Europa conhecemos o outro lado do mais famoso actor e realizador do cinema mudo. Ficamos a par das suas fraquezas, dos seus desejos, da sua vontade de ser amado e querido, mas também conhecemos, através do seu relato, uma Europa que acordava da guerra em todo o seu esplendor e força. Em Londres, sente-se extasiado com a recepção calorosa que recebe e revê com saudade e emoção alguns dos locais e personagens da sua infância e juventude. Conhece também personalidades interessantes como H.G. Wells, que o fascinam pela sua genial simplicidade. Em Paris, mais um banho de multidão e um mergulho no espírito de frivolidade com que a França procura esquecer a devastação da guerra. Finalmente em Berlim, Chaplin redescobre o prazer do anonimato, antes de regressar à América com uma nova visão do mundo e com a alegria de ter reencontrado a candura de espírito e a curiosidade quase infantil que sempre o caracterizaram.

Charlie Chaplin, A Minha Viagem Pela Europa, Ed. Matéria-Prima,2011.

domingo, 26 de junho de 2011

Nuances do Cinzento


As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens
Raul Brandão
Edição Artes e Letras


“ Há aqui sobretudo um tom que eu quero notar, porque nunca o vi assim em parte alguma: o cinzento graduado até ao infinito, o cinzento destes dias de sol e névoa misturados, que só pertence aos Açores, onde a terra toma todas as nuances do cinzento, desde o cinzento – roxo ao cinzento – cor de chumbo, com cinzentos – claros mais afastados. Cinzento composto de névoa e sol, que paira sobre a larga paisagem humedecida. Cinzento mais próximo que se pega às árvores e que varia constantemente de cor, desde a cor pérola ao laivo quase doirado, conforme as distâncias, a aragem, as nuvens que correm e se afastam, transformado a todas as horas o quadro e fazendo da planície uma larga cena movimentada onde estão sempre a aparecer novos motivos de decoração.”

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Nervo



UM FIO SOLTO

Encontrá-lo aí mesmo, como se
pendurado no vazio. Desenredá-lo levemente
e puxar, procurando aquele ponto de tensão
sem, no entanto, o encontrar. Puxar mais e
mais, fervorosamente. Daí a nada
mais parece que é o fio que te puxa a ti.
E puxa, horrorizando-te, enquanto
imaginas que costura do teu mundo
agora se descose.

Diogo Vaz Pinto, Nervo, Averno, 2011.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Leonor



“Perecível e sem mácula, tal como te vejo de alva, musselina e mel, pescoço longo de cisne, sorriso de sobressalto। Ametistas e topázios a entrançarem-te a espiga dos cabelos, olhos já perlados de crepúsculo। E deste modo irás ser para sempre a minha vida desde agora: seguindo-te, pérola turva, numa obscura ameaça resolvida, tão logo transformada em obsessão e envenenado fascínio. Infindável loucura.”


Um romance sinfónico sobre a Marquesa de Alorna, Leonor de Almeida Portugal, neta dos Marqueses de Távora, uma figura feminina ímpar na história literária e política de Portugal. A escritora Maria Teresa Horta, persegue-a e vigia-a nos momentos mais íntimos, atraída pela desmesura de Leonor, no seu permanente conflito entre a razão e a emoção. Acompanha-a no voo de uma paixão, que seduz os espíritos mais cultos da época, o chamado "século das luzes", e abre as portas ao romantismo em Portugal
Um maravilhoso e apaixonante romance sobre a extraordinária e aventurosa vida da Marquesa de Alorna.
As Luzes de Leonor, Maria Teresa Horta, Ed.D.Quixote, 2011.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Apenas Miúdos - Patti Smith



“Finalmente, junto ao mar, onde Deus está em toda a parte, acalmei-me gradualmente. Pus-me a olhar para o céu. As nuvens tinham as cores de um Rafael. Uma rosa ferida. Tive a sensação de que fora ele próprio a Pinta-las. Hão-de vê-lo. Hão-de reconhecê-lo a sua mão. Essas palavras vieram até a mim e eu soube que um dia veria um céu desenhado pela mão do Robert. Vieram as palavras e a seguir uma melodia. Levei os mocassins na mão e fui caminhando à beira da água. Tinha transfigurado os aspectos mais retorcidos do meu luto, projectando-os como um pano brilhante, uma canção em memoria do Robert.
Pequeno pássaro esmeralda para longe quer voar.

Se eu fechar a mão, irá ele ficar?
Pequena alma esmeralda, pequeno olho esmeralda.
Pequeno pássaro esmeralda, teremos de nos despedir?
Ao longe ouvi um chamamento, as vozes dos meus filhos. Correram para mim. Nesse instante de eternidade, detive-me. Vi-o de súbito a ele, aos seus olhos verdes, às suas madeixas escuras. Ouvi a voz dele acima das gaivotas, dos risos das crianças e do rumor das vagas. Sorri para mim, Patti, como eu estou a sorrir para ti.”

Este é o primeiro livro de Patti Smith em prosa. É um livro de memórias - que começa no Verão em que Coltrane morreu, do Verão do amor livre e de todos os motins, do Verão em que conheceu a figura central deste livro - o lendário fotógrafo americano Robert Mapplethorpe. Mas é também um retrato de época - dos dias do Chelsea Hotel e de Nova Iorque no fim dos anos 1960 - e uma comovente história de juventude e amizade. Just Kids é uma fábula em que encontramos poesia, rock’n’roll, sexo e arte que começa numa história de amor e acaba numa elegia.

Apenas Miúdos, Just Kids, Patti Smith, Ed.Quetazl, 2011.

domingo, 19 de junho de 2011

Poesia de Eugénio de Andrade



Frésias

Uma pátria tem algum sentido
quando é a boca
que nos beija a falar dela,
a trazer nas suas sílabas
o trigo, as cigarras,
a vibração
da alma ou do corpo ou do ar,
ou a luz que irrompe pela casa
com as frésias
e torna, amigo, o coração tão leve.

Poesia de Eugénio de Andrade, ed. Modo de Ler,2011.

sábado, 18 de junho de 2011

Uma Oliveira para Saramago

"Então Blimunda disse, Vem. Desprendeu-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda.”
José Saramago

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Jorge Semprúm

1923-2011


«A vida ainda era passível de ser vivida. Bastava esquecer, decidi-lo com determinação, brutalmente. A escolha era simples: a escrita ou a vida. Teria eu a coragem – a crueldade para comigo mesmo – de pagar esse preço?»







Correr






Logo após a guerra, em 1946, nos campeonatos organizados pelas forças aliadas em Berlim, atrás do cartaz Checoslováquia, para grande chacota do público presente, vem apenas um único atleta, magro e escanzelado. Mas quando nos 5.000 metros aquele atleta não só se desembaraça em poucos minutos dos seus mais possantes adversários com uma volta de avanço, como agora começa a ultrapassá-los nova¬mente, um a seguir ao outro e, enquanto estes abran¬dam, ele volta a acelerar, cada vez mais. De boca aberta ou aos gritos o público do estádio já não aguenta mais. Mais do que duas voltas! Vocifera o locutor do estádio. Em pé, a exultar, estão oitenta mil espectadores. Aquilo não é normal, gritam, aquele tipo faz tudo o que não deveria fazer e ganha! O nome daquele rapaz magro e louro de sorriso aberto nunca mais ninguém o esquecerá: Emil Zatopek. Pou¬cos anos e dois Jogos Olímpicos depois, Emil torna-se invencível.

«Punhos fechados, rodando caoticamente o torso, Emil também faz sempre qualquer coisa diferente com os seus braços. E toda a gente sabe que corremos com os braços. Para propulsionarmos melhor o corpo, devemos utilizar os membros superiores para aligeirar as pernas do seu próprio peso: nas provas de distância, reduzindo os movimentos da cabeça e dos braços obtém-se um melhor rendimento. Porém, Emil faz completamente o contrário, ele aparenta correr sem se preocupar com os braços, cuja impulsão convulsiva parte de uma posição demasiado alta e os quais descrevem curiosas deslocações, por vezes erguidos ou rejeitados, para trás, pendurados ou abandonados numa gesticulação absurda, os seus ombros também se meneiam, e os seus cotovelos, também esses exageradamente levantados, vão como se ele transportasse uma carga demasiado pesada. Durante a corrida parece-se com um pugilista que combate a sua sombra, todo o seu corpo assemelha-se a um mecanismo avariado, deslocado, doloroso, exceptuando a harmonia das suas pernas, que mordem e mastigam a pista com voracidade. Resumindo, faz tudo de modo diferente dos outros, que por vezes acham que ele faz coisas absurdas.»

Correr de Jean Echenoz, Ed.Cavalo de Ferro,2011.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Top Livros - Artes e Letras

1 - A História do Povo Açoriano - José M.Teixeira Dias - Publiçor
2 - Dicionário Sentimental - Fátima Sequeira Dias - Publiçor
3 - O Cemitério de Praga - Umberto Eco - Gradiva
4 - Liberade - Jonathan Franzen - Dom Quixote
5 - Dois Poetas e Um Pintor - Emanuel Jorge Botelho, António Teves, Urbano - Artes e Letras
6 - Quarto Livro de Crónicas -António Lobo Antunes - Dom Quixote
7 - Snu e a Vida Privada com Sá Carneiro - Cândida Pinto - Livros D'Hoje
8 - A Mentira Sagrada - Luis Miguel Rocha - Porto Editora
9 - A Humilhação - Philip Roth - Dom Quixote
10 - As Ilhas Desconhecidas - Raul Brandão - Artes e Letras

quinta-feira, 2 de junho de 2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Liberdade

Os Dias da Revolução


Alexandra Lucas Coelho viveu a Revolução do Egipto no Cairo. Esteve na Praça Tharir, dormiu na Praça Tharir e foi da Praça Tharir que viu Hosni Mubarak cair do poder e todo um país celebrar em êxtase. Falou e conviveu com muitas pessoas, com todo o tipo de pessoas que fizeram a revolução, assistindo, em directo e sem filtros, ao ímpeto revolucionário. Tahrir! Os Dias da Revolução é um relato totalmente inédito, comovente, por vezes avassalador. A autora de Caderno Afegão e Viva México partilha com os leitores o seu diário pessoal dos loucos dias de Fevereiro de 2011 que mudaram o destino de todo o mundo árabe.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Onésimo - Português sem Filtro



«O bem que os livros de Onésimo me têm feito – não sei como pagá-lo.»
Eugénio Lisboa

«Portugal, os portugueses, a América, os americanos, os luso-americanos e os Açores acabam fundindo-se osmoticamente nestas páginas, porque nelas inscrevi o quotidiano dos mundos que habito, as personagens que encontrei, as minhas ou as nossas dúvidas e interrogações, as agruras e os prazeres da vida, mais a graça e as ironias com que ela gosta de nos brindar se estamos atentos. A unidade delas está na diversidade que afinal - vou reparando - todos vestimos, na procura do sentido da vida e das coisas.»

Onésimo Teotónio de Almeida é um dos grandes pensadores e prosadores dos nossos dias. Originário da ilha de São Miguel (Açores) e professor de filosofia e literatura na Brown University, em Providence, Rhode Island, EUA, onde está radicado há quase 40 anos, Onésimo Teotónio de Almeida tem mais de uma centena de ensaios e textos publicados em Portugal, E.U.A, Brasil, França e Inglaterra.

quinta-feira, 19 de maio de 2011


Os escritores Maria Filomena Mónica e António Barreto vieram visitar-nos.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Serafins

Tomaz Borba Vieira - Atam-lhe asas de serafins...III



O ROSTO DOS SERAFINS - I

"A palavra surrealismo já apareceu associada ao nome de Tomaz Vieira. Contudo, julgo que não se poderá dizer que este pintor é surrealista. Nunca ele disse de si tal coisa e é pouco provável que algum dia o venha a dizer. Todavia, julgo que podemos encontrar uma zona de contacto entre a sua obra e esse movimento cultural sem que uma coisa se converta, necessariamente, na outra. Acontece que o surrealismo, na sua essência, pretende ser um libertador do inconsciente, a parte mais blindada do eu, aonde só tem sido possível chegar através de processos psicanalíticos agressivos. Por isso as obras surrealistas são muitas vezes desconcertantes porque se percebe que os artistas ficam sempre na fronteira entre o consciente e o inconsciente. Para se falar do inconsciente é sempre necessário utilizar a racionalidade criando-se uma zona de conflito que os artistas pretendem resolver de modo a tornar o discurso inteligível. Há artistas que, junto à fronteira acima referida, conseguem avançar um pouco mais, não sendo necessário que se denominem surrealistas. Ninguém vai a essa zona da psique humana sem inquietação. Dê-se o nome que se der a uma obra de arte que tem origem nas profundezas da alma o resultado é sempre estranheza e inquietação. Cito como exemplo António Dacosta que mesmo nas suas últimas obras, depois do longo interregno a que se impôs, e, de certo modo, afastando-se do surrealismo, nos traz uma simplificação extraordinária vinda da memória mais profunda do seu eu individual. Se há pintor açoriano que se move nessa zona do ser é Tomaz Vieira". (...) continua aqui .
José Maria França Machado


segunda-feira, 16 de maio de 2011

História Do Povo Açoriano


"Este História do Povo Açoriano é, seja-me permitida a analogia, um Breviário para as nossas horas.
Quem o for lendo, devagarinho, ouvirá o som de uma longa oração."

Do prefácio de Emanuel Jorge Botelho

História do Povo Açoriano de José Maria Teixeira Dias, Ed. Publiçor, 2011.

Sixties e os Seventies

Fotografia de Anne Stichelmans

«Que só meu próprio amor acendo. E atesto a chama da Victória que me deu na margarida branca o mundo todo.»

Vitorino Nemésio



Inaugurou na sexta-feira, dia 13 de Maio, no Núcleo de Santa Bárbara, a exposição Irreverência e Requinte, 1964 - 1974 Mulheres Mudanças.
Exposição comissariada por Anne Stichelmans e coordenada por Adelaide Teixeira.

Em 1979 e 1980, o Museu Carlos Machado adquiriu uma colecção de peças do guarda-roupa de Margarida Victória Jácome Correia (1919 - 1996), datada principalmente das décadas de sessenta e setenta. Esta aquisição dá testemunho da vontade, na época, de «modernizar» e expandir as colecções do Museu, confirmando, assim, a importância do vestuário e da moda, quer enquanto fenómenos sociais e artísticos, quer como manifestações de contemporaneidade.
Este guarda-roupa constitui um conjunto excepcional, com um nível de qualidade provavelmente único em São Miguel. Cada uma das peças apela a um sentido de requinte, de perfeição e de fantasia que emanam da alta-costura.
As roupas expostas evocam os Sixties e os Seventies, essa época fabulosa em que, à semelhança das transformações que agitam as sociedades ocidentais, também a moda radicaliza a sua linguagem. Atrevida e inconformista, torna-se o estandarte de uma juventude que protesta contra a ordem estabelecida, e das mulheres que lutam pelo reconhecimento da sua autonomia.
Em paralelo com os vestidos de Margarida, a exposição reproduz a aventura de alguns jovens e mulheres micaelenses (numa amostra aleatória) que desafiando as dificuldades da distância geográfica e do isolamento cultural, seguem a moda e vivem-na «em tempo real», lembrando aquela que é a sua verdadeira aposta: a contemporaneidade...

sábado, 14 de maio de 2011

Prémio Camões


" (...) é de noite e estamos ambos sós
leitura e escritura
criador e criatura
na mesma inumerável voz."

in, Os Livros

O escritor português Manuel António Pina ganhou o Prémio Camões, o maior prémio literário de língua portuguesa.

sexta-feira, 13 de maio de 2011


Eduardo Lourenço esteve esta manhã na Livraria Solmar, acompanhado por Mário Mesquita.








O reputado ensaísta aqui junto de Mário Mesquita e Luiz Fagundes Duarte

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Antero de Quental 1º Roteiro Cultural




Do nascimento ao último percurso provável de Antero de Quental pelas ruas de Ponta Delgada até ao banco onde o poeta decidiu o lugar e tempo para matar-se, a primeira publicação do projecto "Roteiros Culturais dos Açores" 'traça' os lugares da cidade marcados pela vida do poeta. Em mapa anotado, com fotografias, uma resenha histórica e tábua cronológica dos passos do também filósofo.
O desdobrável é o primeiro de vários que se vão seguir, em tornos das vidas de personalidades do Açores que marcaram e foram marcadas pelas cidades e ilhas onde viveram.
Em fase de preparação, prevendo-se a sua publicação até Outubro próximo, estão já os Roteiros Culturais de Vitorino Nemésio e Manuel de Arriaga, sob orientação científica de Luíz Fagundes Duarte.
A apresentação pública deste roteiro a que o AO teve acesso, será feita na próxima sexta-feira, dia para o qual também está prevista uma reconstituição dos últimos passos do poeta. "Fazendo uma viagem que se supõe que Antero de Quental terá feito justamente antes de se suicidar no Campo de São Francisco", revela o director regional da Cultura.
Jorge Paulus Bruno, questionado sobre a utilidade do uso deste roteiro por parte de guias turísticos para, por exemplo, trilhar esses percursos, diz que é, precisamente, umas das utilizações que pode ter. "Esse é um dos objectivos consignados no Plano de Governo, associar também cultura ao turismo, trabalharmos em conjunto", afirma Paulus Bruno, acrescentando que estas publicações permitem aos guias turísticos ou a qualquer visitante dispor de uma "ferramenta" que permite "rever a memória de determinadas personalidades, não só percorrendo sítios que eles percorreram mas, acima de tudo, terão conhecimento dos ambientes, de um modo que hoje em dia é possível revê-los, que eles frequentavam naquele tempo."


Continuar em reporter--x.blogspot.com

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Insónias



Sofrendo de insónias, o conde russo Hermann Von Keyserling, tinha solicitado a Goldberg seu serviçal e jovem talentoso cravista que tocasse uma obra intimista para lhe tornar mais suportáveis as longas horas privadas de sono. Um certo dia, o conde pediu a Bach que compusesse alguns trechos com essa finalidade, com um carácter simultaneamente doce e alegre. Foi essa circunstância que nos valeu esta incomparável suite de variações. O conde ficou tão encantado que decidiu chamar-lhes «as minhas variações».A cada noite de insónia mandava chamar o cravista: « meu caro Golberg, toca mais uma das minhas variações».
Não temos um Golberg, mas podemos escutar Glenn Gould e as suas célebres interpretações das quais se pode dizer que a gravação feita em 1955 praticamente reinventou a obra. Gould foi um daqueles intérpretes que escondem o compositor debaixo do piano para ficarem sozinhos na fotografia. Certo é que o seu piano nos torna mais suportáveis as nossas longas horas privadas de sono.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

23 Abril Dia Mundial do Livro

Ilustração de João Vaz de Carvalho




quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Invenção do Dia Claro

Almada Negreiros 1917



"Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida.
Não chegam, não duro nem para metade da livraria.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.
No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas muito bem vestidas de quem precisa salvar-se.
"

José de Almada Negreiros, in A Invenção do Dia Claro.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Victoria

Claude Monet

Victoria, livro de rara beleza narrativa, é uma das obras mais representativas de Knut Hamsun. O enredo marca o regresso do autor de «Pan» – escrito quatro anos antes – ao tema do trágico desencontro amoroso, que tem na descrição da beleza taciturna e melancólica da natureza nórdica o seu espelho. Johannes, filho de um modesto moleiro, que em jovem sonha trabalhar numa fábrica de fósforos para ter os dedos sempre sujos de enxofre e assim não ter de apertar a mão a ninguém, ama Victoria, jovem de família aristocrata mas com poucos meios financeiros. Contudo, o deles será um amor impossível, pois Victoria vê-se obrigada a casar com o rival Otto para salvar a família da bancarrota.


"Meu Deus, como o seu coração batia; não batia, tremia. Queria dizer alguma coisa, mas não conseguia. Só movia os lábios. Um perfume emanava da sua roupa, do seu vestido amarelo, ou talvez apenas da sua boca."


Victoria de Knut Hamsun, Ed. Cavalo de Ferro, 2011.