segunda-feira, 27 de julho de 2015

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS - 150 anos da publicação


 
Comemora-se este ano 150 anos da publicação de “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll. A obra foi escrita com o intuito de entreter uma menina chamada Alice Liddell.
           “Alice no País das Maravilhas” publicado pela primeira vez em 1865 na Inglaterra é considerado um livro intemporal no mundo inteiro, ambíguo na sua classificação pois está entre o que é literatura para crianças e para adultos.
Ao longo dos anos esta obra foi alvo de várias adaptações, traduções, versões e ilustrações, e em Portugal não foi diferente, pois foram disponibilizadas várias edições. É relevante mencionar que a obra foi adaptada para cinema para musicais e para peças de teatro.
A importância deste livro é de tal modo que existem indivíduos que reconhecem as personagens sem o nunca ter lido.
       Em Portugal, a Editorial Presença associou-se às atividades em torno dos 150 anos de publicação, reeditando numa bela edição ilustrada com o aliciante preço de 9,90€ .
 
 
Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido como Lewis Carroll, nasceu em Inglaterra, em 1832, foi matemático, lógico, fotógrafo e romancista, sendo reconhecido como tal após o seu sucesso com “Alice no País das Maravilhas” e faleceu em 1898.

125 ANOS DE AGATHA CHRISTIE - O REGRESSO DE HERCULE POIROT




Comemorando o 125º aniversário do nascimento de Agatha Christie, escritora britânica, considerada a “rainha dos policiais”, a editora ASA celebrando a efemérite, acaba de editar um romance inédito, “Hercule Poirot e o Crime de Greenshore”. Este possui introduções e ilustrações de Tom Adams, cujas pinturas figuraram nas capas dos romances de Agatha Christie ao longo das décadas de 1960 e 1970. Mathew Prichard, neto de Christie, assina o prefácio. John Curran, perito na obra da autora, escreve no posfácio sobre a criação desta aventura.

                A convite da sua velha amiga Ariadne Oliver, Hercule Poirot vai a uma festa de verão numa aldeia encantadora do Devon. Um cenário idílico onde contavam descansar e divertir-se. Ariadne inventara até um jogo de Caça ao Assassino para animar os convivas, mas não antecipara sentir-se tão… atormentada. A sua intuição diz-lhe que algo está terrivelmente errado. E, como o magnífico detetive belga bem sabe, a intuição feminina é algo que nunca se deve menosprezar… Em 1954, Agatha Christie escreveu Hercule Poirot e o Crime de Greenshore sob o formato de conto. O objetivo era angariar fundos para a igreja da sua paróquia. Contudo, a Rainha do Crime mudou de ideias e transformou-o num romance, doando, em seu lugar, um conto de Miss Marple. Hercule Poirot e o Crime de Greenshore acabaria por não ser publicado na sua forma original, servindo apenas de base para o enredo do romance Jogo Macabro. Permaneceu “adormecido” durante sessenta anos, até agora.

Agatha Christie nasceu em Torquay, Reino Unido, em 1890, e é considerada a romancista com mais livros vendidos em todo o mundo. As diversas traduções da sua obra já ultrapassaram as de Shakespeare. O seu sucesso incessante, reforçado pelas adaptações televisivas e cinematográficas das suas obras, é prova da intemporalidade das suas personagens, bem como do engenho inigualável dos seus enredos.

                                                                                                    

Agatha Christie, Hercule Poirot e o Crime de Greenshore, Edições ASA, 2015.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Ela move-se




«POEMAS VESTIDOS – A poesia veste-se, despe-se, usa-se, oferece-se, respira-se. A poesia pode não mudar o mundo, mas é um sinal de esperança. O Daniel Gonçalves, poeta maior, escreveu “ Poemas vestidos” porque, como me escreveu numa dedicatória, “ o momento certo para a poesia é como o do abraço”, depois do nosso encontro improvável, uma arte em que os açorianos e a aves migratórias se tornaram especialistas. O Daniel é o poeta do amor indizível, da saudade imaculada, da distância que magoa. O amor, tal como a terra, move-se numa órbita invisível. As coisas, os lugares, as mãos, vestem-se duma doçura que sabe a redenção ou a perdição. Quando os garajaus rondarem as marés, nas longas noites de Verão, é tempo de desafiar os versos do Daniel, lentamente, como quem abre um portulano e sabe que esperar não é perder.»

  Pedro Gomes (in) Açoriano Oriental, 22 de julho, 2015



                Daniel da Silva Gonçalves é professor e poeta. O escritor foi galardoado com vários prémios entre os quais o 1º prémio do Concurso Internacional de Poesia do Centro Internazionale Amici Scuola (CIAS) promovido pela UNESCO em 1993 na Itália; em 2007, foi galardoado com o prémio Labjovem Açores, obra selecionada para o Plano Regional de Leitura dos Açores e o Prémio de Manuel Alegre em 2010.




terça-feira, 21 de julho de 2015

Os livros são comparáveis a seres vivos





“Os livros são comparáveis a seres vivos, a pessoas amadas,
permanecendo ligados às circunstâncias do encontro
e às emoções que suscitam.”
Marcel Proust


 
A invenção do livro está intimamente ligada á escrita e á leitura. Aquilo que está impresso tem uma dimensão cultural inultrapassável, dirigindo-se a um leitor, possuindo como finalidades: o conhecimento, a reflexão, o ensino, a evasão, a difusão do pensamento e a preservação da memória coletiva. O livro é um dos grandes meios da história da comunicação. Desde o séc XV, com a prensa de Johannes Gutenberg, até aos nossos dias, assiste-se a uma expansão a nível mundial, num aumento de quantidade de obras publicadas, numa maior distribuição, de tal modo que este passa a estar presente no nosso quotidiano.

Em finais do séc. XX, na década de 90, a internet alcança a população em geral, através do World Wilde Web, tendo como seu mentor Tim Bernners. Lee. Surgem grandes mudanças, que na forma como a informação é transmitida, que na alteração em quase todas as áreas do nosso modo de vida. É aqui que nasce o e-book, ou seja, o livro em suporte eletrónico, a par de um admirável mundo novo- a Era do Digital. Ganhando cada vez mais força na sociedade contemporânea, esta é a revolução digital do próprio livro. A questão que se coloca é se o livro tradicional, e a sua existência enquanto tal, estarão ameaçados pelo e-book? Para isso, temos de perceber quais as valências de um e de outro. No caso do livro digital, este será sempre uma cópia do seu antecessor, tem grafia e páginas semelhantes às do livro impresso, mas numa sociedade de imagens, eis que o computador nos fixa na obrigatoriedade de ler. No digital o acesso é mais rápido, a sua capacidade de armazenamento é maior, ocupando muito pouco espaço, por exemplo: como consultar os 35 volumes e 71.818 artigos, da Encyclopédie de Denis Diderot? A resposta é: online. Umberto Eco, distingue dois tipos de livros, aqueles de consulta e aqueles de ler. Reconhecemos, então, que há outras possibilidades de relação com o livro, combinando acessibilidades múltiplas e que os modos de leitura têm-se alterado ao longo da história.

Hoje, tudo é digital, tudo é móvel, a procura de e-books aumentou exponencialmente, principalmente nos EUA e Inglaterra, alastrando-se para o resto do mundo, bem como, o aumento e oferta de novos aparelhos, tais como: portáteis, smartphones e tablets. O avanço tecnológico é vertiginoso, o que foi ontem, já não o é hoje. As questões ambientais que se aponta ao livro tradicional, como o gasto de papel e tinta, são tão pertinentes como a gestão de resíduos dos equipamentos, e do consumo energético de que estes necessitam para funcionar. Significa que, para o leitor, será sempre necessário energia elétrica para manter esses aparelhos operacionais. Ao adquirir novos equipamentos obriga-nos a toda uma mudança arquitetónica mental, até à habituação do sofisticado grito tecnológico. A nossa capacidade de leitura no ecrã, é bem mais reduzida, devido às nossas limitações físicas. Num estudo levado a cabo pela Universidade da Harvard, provou-se que o e-book interfere no sono, principalmente naqueles que leem na cama, a luz emitida pelos dispositivos incomoda e não ajuda. Neste mundo da Internet os focos de distração são muitos, com um clique podemos aceder a links, a ler uma notícia de última hora ou até mesmo a ver a página do facebook. No livro impresso isso já não acontece, ele é encerrado em si mesmo e é fiel a si próprio. Umberto Eco e Jean- Calude Carrière, na obra Obsessão de Fogo dizem-nos o seguinte «O livro é como uma colher (…). Uma vez inventados, não se pode fazer melhor. Não se pode fazer uma colher que seja melhor que uma colher.»

O livro tradicional tem uma dimensão sensorial, emocional e afetiva únicas. Podemos estabelecer uma relação física através do toque das capas, da textura do papel, do cheiro, da tinta, numa experiência singular e individual. São potencialmente eternos desde que bem conservados, são resistentes ao choque, embora possam cair e danificar-se, não impossibilita a leitura. Ir a uma biblioteca, autênticos templos do livro, onde o acesso é gratuito na consulta, sendo permitido o empréstimo, ou ir a uma livraria, agarrar, ler alguns parágrafos antes de comprar, é sem dúvida o reflexo das múltiplas possibilidades que o livro oferece.

Roger Chartier, numa entrevista intitulada Da história da Cultura Impressa à História cultural do Impresso sugere que o livro impresso deveria copiar as mais-valias da técnica eletrónica, permitindo ao leitor escrever nas margens, como dentro do próprio texto, para que este torne mais maleável. Aqui levanta-se o problema dos direitos de autor, e neste caso estaríamos a ser coautores.

Os livros representam um negócio importante e sempre o foram desde a Idade Média. Contudo, depara-se na atualidade com dois graves problemas. O primeiro está relacionado com o fator económico, o elevado custo de produção do livro físico, tendo em conta a impressão, a distribuição e o seu comércio, em comparação com o e-book, que apresenta resultados de rentabilidade mais elevados para os editores, ao eliminarem os intermediários através da venda direta online. O segundo problema, é a importante defesa dos direitos de autor, pois não estão criadas condições nas plataformas digitais de proteção contra a cópia indevida.

Podemos afirmar que o livro é um resistente, pois sobrevive desde o séc. XV, até aos dias de hoje, bem ao contrário, a internet ainda é jovem. Neste espaço, e neste tempo, anunciou-se a morte do livro, mas a realidade tem vindo a mostrar o contrário. Segundo o Financial Times, contrariando todas a expetativas, as vendas do livros em papel sofreram um aumento em 2014, no mercado livreiro dos EUA, Reino Unido e Austrália, enquanto as publicações em dispositivos eletrónicos diminuíram. Este novo paradigma tem tendência a manter-se, segundo os especialistas, o incremento da compra do livro impresso tem sido fortemente influenciado por um público mais jovem – muito curioso é que os jovens leitores acreditam que a informação verdadeira está fora da Internet. A venda de títulos como A Culpa É das Estrelas, de John Green ou a saga Crepúsculo de Stephenie Meyer, está no topo das preferências dos jovens adolescentes entre os 13 e 17 anos.

Concluindo, podemos afirmar que o perigo efetivo para o livro, quer em suporte digital, quer em papel, será sempre a falta de hábitos de leitura.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Simplesmente Onésimo



            (…)
             
“ Na passada sexta-feira, com Onésimo em São Miguel, em mais um regresso de quem está sempre presente, foi tempo de um encontro de Amigos, na Livraria Solmar, com José Carlos Frias sempre atento e dedicado anfitrião, para uma informal apresentação do Onésimo, Único e Multímodo e do Identidade, Valores, Modernidade. Vamberto Freitas, referência obrigatória quando se fala de recensão e crítica literária nos Açores, fez a apresentação dos livros, cabendo a Osvaldo Cabral, jornalista, antigo Diretor da RTP/ Açores e atual Diretor Executivo do jornal Diário dos Açores, falou sobre Onésimo e o Pico da Pedra, as influências culturais que o ambiente de infância e juventude podem ter na personalidade e no caminho do sucesso e do saber. Foi um pouco de “lavar a alma” de recordações e de sentimentos, porque disto mesmo se faz o viver e o pulsar da terra em cada um de nós.” (…)
            “ Só posso dizer muito obrigado por tudo quanto me deram e continuarão a dar e que apenas se apaga neste sincero abraço de parabéns! “

Santos Narciso,
 Leituras do Atlântico, 20 de julho,2015 (in) Atlântico Expresso
 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Inês Dias - " O Deserto do Papel ", de Inês Pereira Botelho : Way to Blue



WAY TO BLUE
- Apresentação de O Deserto do Papel, de Inês Pereira Botelho
 (Ponta Delgada, Junho de 2015)


Há pessoas que são como lugares, E, neste caso, famílias que são como lugares: regressar para junto delas traz-nos de volta a um lugar em que há sempre alguém contente por se cruzar connosco num aeroporto (como a Inês e a sua família); um lugar em que não se esquecem as músicas – leia-se, as pessoas – da nossa vida, por mais voltas que esta dê (e estou a falar da Renata Correia Botelho); em que a poesia ensina a unir as pontas do mar (e falo do Emanuel Jorge Botelho), em que o milagre da vida acontece diariamente, como no poema em forma de lapinha que a Lorena Correia Botelho criou para mim.
É precisamente esse o lugar a que os livros da Inês (nascida em 2004) nos trazem, tanto o primeiro – A Cinza Roxa (2011) – como este novo O Deserto do Papel. Os textos são concisos, gerados à volta de imagens que partem do mais ínfimo, de pormenores que, através do seu olhar quase fotográfico, se transformam em metáforas de algo muito maior. Já em A Cinza Roxa a Inês começava por escrever “ O meu mundo é o meu segredo e o meu tesouro” e de facto, os textos agora reunidos possuem uma profunda dimensão humana, atenta aos outros, seja no poema sobre “Aquelas crianças solitárias/com a sombra vazia “ (p.19), seja no terno poema intitulado “ Os hábitos do rapaz solitário” (p.13), ou ainda no texto sobre “ A Guerra” (p.33).

Mas não se pense que esta dimensão ética dos textos da Inês se reduza ao Homem. Pelo contrário, sabem integrar o Homem na Natureza, permitindo-nos assistir à passagem das estações ao longo das páginas ou às flores que nascem e “ganham asas” do poema “ Na Páscoa” (p.9), e fazendo-nos sobretudo acreditar que há mesmo um deus entre as ervas, que não nos deixa esquecer os mais pequenos e desprotegidos. A título de exemplo, não resisto a citar na íntegra o poema “Um gato invulgar”, dedicado a Daniela Gomes:

   “Sempre que passava pelo
    parque natural da rua
             da arte, encontrava um gato
             preto com pintas vermelhas
             a que chamava o gato do relvado.
             Nos dias em que o sono
             o enrolava na noite, as nuvens
             serviam-lhe de companhia e o céu
             de abrigo. Era o que tinha aquele
             gato com frio. Quem por lá passava
             não via o animal!
             Até sozinho passava"

Curiosamente, alguns dos textos do livro foram produzidos em contexto de aula. E tendo contado a minha vida durante muito tempo em anos escolares e não em anos civis, não posso deixar de me sentir verdadeiramente feliz com o facto de a escola funcionar, desta vez - e como deveria funcionar de todas as vezes -, enquanto sítio encorajador de produção e não de repetição, de consciência em vez de indiferença.
Uma outra dimensão muito presente neste livro é a da luz. Há uma constante procura dessa luz que torne a noite menos escura – ou, nas palavras da própria Inês, de “uma vela acesa sobre a escuridão” (p.34). Trata-se de uma luz capaz de redimir o mundo e de revelar uma alegria profundamente íntima mas partilhável em tudo, desde “ O mundo dos sonhos “ (p.11) ao poema “Inverno”, que inicia o livro e que cito:

   “ Por vez o inverno é bom
              o vento assobia baixinho
              e entre a névoa nasce um sol frio.”


No fundo, a maravilhosa capa que a Daniela Gomes fez sintetiza estas duas dimensões: aquele gato é um segredo adormecido sobre si próprio, aguardando, aconchegado e sereno, “ o dia seguinte” (p.13). Que os dias e as palavras da Inês sejam sempre assim, e nos continuem a iluminar.


Inês Dias
Livraria Solmar / Ponta Delgada, 25 de junho de 2015


            Inês Pereira Botelho nasceu a 16 de Março de 2004, em Ponta Delgada, ilha de São Miguel, Açores.
           Os poemas agora publicados foram escritos entre 2012 e 2015. Contando sempre com o total envolvimento da autora, sofreram alterações muito pontuais, que basearam-se sobretudo em pequenos ajustes na parte gramatical.
      Alguns dos textos em prosa, igualmente intervencionados de forma mínima, foram produzidos ao longo do 4º ano de escolaridade (2013/2014), em contexto de aula. Os dois textos finais datam já de 2015.