terça-feira, 26 de janeiro de 2016

D' este viver aqui neste papel descripto



14.1.71

"O dia da despedida, lembro-me dele como de uma anestesia; o cansaço, o sono, a saudade, a agitação entravam e saíam de mim numa leveza gasosa. Já nem me lembro bem da família que lá estava e não estava. Mas, do barco, procurei-te sem te encontrar: uma tia Luísa minúscula disse-me, por gestos, que te tinhas ido embora, e foi só então que eu tive a certeza de que me ia embora. Fui para o camarote e sentei-me na cama e ouvia os gritos e os choros sem pensar em nada, e não chorei porque um homem não chora. E nada disto importa porque temos um ao outro até ao fim do mundo."
António Lobo Antunes," D' este viver aqui neste papel descripto"

“Cartas da Guerra” é uma adaptação ao cinema da correspondência de António Lobo Antunes durante a Guerra Colonial em Angola publicada como “D’este Viver Aqui Neste Papel Descripto”, realizado por Ivo Ferreira a competir pelo urso de Ouro de Berlinale 2016.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Do Homem como literatura


"É como leitores que nós somos "literatura", paisagem invadida, submersa, iluminada por todas as emoções, sentimentos, angústias, alegrias que, para parafrasear Pessoa, não damos a nós mesmos nem à vida, mas estão lá, inscritas, incoactivas, nesse lugar sem lugar nem espaço mais virtual do que todos os espaços virtuais que chamamos livro e em virtude do qual somos literatura...
a literatura é o resto, um pouco como Pascoaes dizia da Saudade que é o que fica quando tudo morreu."

Eduardo Lourenço, Do Homem como literatura, (in) Expresso 22 Janeiro/2016



Os Últimos Heróis



Uma homenagem aos últimos heróis portugueses que arriscam a vida na pesca do bacalhau. O fotógrafo Pepe Brix viajou até aos mares da Terra Nova no arrastão “Joana Princesa”. Durante três meses e meio partilhou a vida a bordo com a tripulação daquele que é um dos últimos bacalhoeiros portugueses.Este livro é o resultado dessa viagem. Dezenas de fotografias que revelam a dureza física e psicológica de um quotidiano vivido num espaço circunscrito e em condições climáticas extremas. 
Parte das fotografias foram publicadas na edição de fevereiro de 2015, na revista National Geographic.

Os Últimos Heróis de Pepe Brix, Clube do Autor, 2015.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Veneza versão de Antero de Quental


O texto Veneza foi publicado em 1881 n' A Europa Pittoresca, volume editado em Paris por Salomão Sáragga, amigo de Antero de Quental desde o tempo das Conferências Democráticas. Ao contrário do que afirmam alguns dos primeiros comentadores, não se trata de um texto redigido integralmente por Antero. Na verdade é uma tradução de Venice, de Thomas George Bonney, e de Voyage en Italie de Hippolyte Taine, e simultaneamente uma recriação, pois Antero insere na sua versão inúmeros trechos de sua versão inúmeros trechos de sua própria autoria.

O texto de Bonney, retirado do primeiro de Picturesque Europe - recolha de crónicas de viagens publicada em Londres - pode considerar-se a base e o ponto de partida da edição portuguesa trabalhada pelo poeta açoriano, que apenas traduz algumas partes da versão inglesa. De maneira geral, Antero traduz Bonney (ou John Ruski, por ele citado) no que diz respeito às descrições de algumas obras de arte, itinerários, paisagens - como a dos canais, dos barcos e das gôndolas, ou de determinados aspectos peculiares da cidade, como os pombos - juntando amplas traduções de Taine e parágrafos de sua própria mão, quando tenciona sublinhar a relação entre arte, ser humano, paisagem e história, ou quando pretende enriquecer e enaltecer o estilo. Os excertos do livro do pensador francês, pelo contrário, são fielmente traduzidos, imprimindo uma marca poética, que antes não tinha: o resultado final é portanto um novo texto, um híbrido, entre tradução e « transplantação»

Juntam-se na presente edição, além da versão portuguesa realizada por Antero de Quental, também as ilustrações originais, e o texto inglês original de thomas George Bonney.


Veneza versão de Antero de Quental, Editora Pianola, 2015.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Primeiro Romance de Nuno Costa Santos



 Os Açores com todo o seu mistério e isolamento. A busca de uma identidade pessoal num dos territórios mais perigosos e livres, onde não existe distinção entre realidade e ficção. Um homem volta à sua terra para cumprir uma missão que lhe foi atribuída por um avô que morreu: a de recolher histórias recentes dessa terra, a ilha de São Miguel, nos Açores. Esta é a narrativa de um regresso aos lugares onde cresceu e um duplo diálogo: com o antepassado que lhe deixou uma herança inesperada e com o presente insular impuro, algures entre o sagrado e o profano. Um livro de histórias que se cruzam.

As histórias do avô, internado na estância do Caramulo, durante os anos 40 do século passado, e as das personagens com as quais o protagonista se vai encontrando: um navegador francês em apuros, um traficante de droga ressentido, uma stripper ruiva com anúncio no jornal, um homem que voltou para vingar uma recusa antiga, um fã de Kafka que descobriu que o escritor tinha o sonho de viver nos Açores, um casal chinês que procura a integração num arquipélago estrangeiro, alguém que caminha de madrugada com um terço na mão.

Céu Nublado com Boas Abertas é também a busca de uma identidade pessoal num dos territórios mais perigosos e livres, onde não existe distinção entre realidade e ficção: a literatura.


Nas livrarias a partir de Fevereiro.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

João de Melo vence Prémio Literário Vergílio Ferreira 2016


João de Melo foi eleito vencedor da 20.ª edição do galardão ao final da manhã de hoje, durante uma reunião do júri do prémio, presidido por António Sáez Delgado e que, este ano, integra Elisa Esteves, Gustavo Rubim, Carlos Reis e a escritora Lídia Jorge.

Ler aqui 

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O Conto Literário de temática Açoriana


A antologia "O conto Literário de Temática Açoriana" de Mónica Serpa Cabral, agora editada pela Companhia das Ilhas, foi apresentada pelo Dr. Paulo Meneses no passado dia 16 de Janeiro na livraria LeYa na Solmar.

A presente coletânea de contos e respetivo estudo destinam-se principalmente a valorizar o património cultural açoriano, em particular o conto açoriano, contribuindo para conservar esse património e, ao mesmo tempo, divulgar a literatura dos Açores, promovendo o interesse pela leitura de obras açorianas. O Conto Literário de Temática Açoriana: Estudo e Antologia começa por apresentar um estudo introdutório, com a explicitação de conceitos teóricos de convocação indispensável, com um resumo das teorias do conto em geral e com uma breve descrição do percurso estético-literário do conto português. Integra ainda esta parte uma contextualização histórico-literária do conto açoriano, desde o século XIX até aos nossos dias, com referência aos principais contistas e aos momentos mais marcantes dessa evolução. Numa amostragem que teve de ser necessariamente confinada para que o volume não excedesse as convenientes proporções, são apresentados, na segunda parte do livro, em reprodução integral, contos escolhidos de trinta autores que figuram entre os mais representativos da literatura açoriana, entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XXI. Os contos são precedidos de notas biobibliográficas sobre os autores representados, que incluem um olhar sobre o conto selecionado.

Mónica Serpa Cabral apresenta-nos uma seleção de contos de sua inteira responsabilidade, contudo, embora possa não ser unânime a sua escolha é de louvar o seu árduo trabalho.