terça-feira, 28 de junho de 2011

ExtraTexto


A single man (Tom Ford)2009

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Viajar com Chaplin



" Queria umas férias emocionais. Talvez esteja a colocar, logo de início, uma condição difícil de executar, mas asseguro-vos que até os palhaços têm os seus momentos racionais e eu precisava de alguns."

Depois de sete intensos anos de trabalho em Hollywood, Charlie Chaplin encontrava-se física e emocionalmente esgotado e tinha apenas um desejo: escapar-se. Aproveitando a estreia em Londres do seu filme O Garoto de Charlot inicia uma viagem à Europa que o levará à sua terra natal, mas também a Paris e à Alemanha. Em A minha viagem pela Europa conhecemos o outro lado do mais famoso actor e realizador do cinema mudo. Ficamos a par das suas fraquezas, dos seus desejos, da sua vontade de ser amado e querido, mas também conhecemos, através do seu relato, uma Europa que acordava da guerra em todo o seu esplendor e força. Em Londres, sente-se extasiado com a recepção calorosa que recebe e revê com saudade e emoção alguns dos locais e personagens da sua infância e juventude. Conhece também personalidades interessantes como H.G. Wells, que o fascinam pela sua genial simplicidade. Em Paris, mais um banho de multidão e um mergulho no espírito de frivolidade com que a França procura esquecer a devastação da guerra. Finalmente em Berlim, Chaplin redescobre o prazer do anonimato, antes de regressar à América com uma nova visão do mundo e com a alegria de ter reencontrado a candura de espírito e a curiosidade quase infantil que sempre o caracterizaram.

Charlie Chaplin, A Minha Viagem Pela Europa, Ed. Matéria-Prima,2011.

domingo, 26 de junho de 2011

Nuances do Cinzento


As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens
Raul Brandão
Edição Artes e Letras


“ Há aqui sobretudo um tom que eu quero notar, porque nunca o vi assim em parte alguma: o cinzento graduado até ao infinito, o cinzento destes dias de sol e névoa misturados, que só pertence aos Açores, onde a terra toma todas as nuances do cinzento, desde o cinzento – roxo ao cinzento – cor de chumbo, com cinzentos – claros mais afastados. Cinzento composto de névoa e sol, que paira sobre a larga paisagem humedecida. Cinzento mais próximo que se pega às árvores e que varia constantemente de cor, desde a cor pérola ao laivo quase doirado, conforme as distâncias, a aragem, as nuvens que correm e se afastam, transformado a todas as horas o quadro e fazendo da planície uma larga cena movimentada onde estão sempre a aparecer novos motivos de decoração.”

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Nervo



UM FIO SOLTO

Encontrá-lo aí mesmo, como se
pendurado no vazio. Desenredá-lo levemente
e puxar, procurando aquele ponto de tensão
sem, no entanto, o encontrar. Puxar mais e
mais, fervorosamente. Daí a nada
mais parece que é o fio que te puxa a ti.
E puxa, horrorizando-te, enquanto
imaginas que costura do teu mundo
agora se descose.

Diogo Vaz Pinto, Nervo, Averno, 2011.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Leonor



“Perecível e sem mácula, tal como te vejo de alva, musselina e mel, pescoço longo de cisne, sorriso de sobressalto। Ametistas e topázios a entrançarem-te a espiga dos cabelos, olhos já perlados de crepúsculo। E deste modo irás ser para sempre a minha vida desde agora: seguindo-te, pérola turva, numa obscura ameaça resolvida, tão logo transformada em obsessão e envenenado fascínio. Infindável loucura.”


Um romance sinfónico sobre a Marquesa de Alorna, Leonor de Almeida Portugal, neta dos Marqueses de Távora, uma figura feminina ímpar na história literária e política de Portugal. A escritora Maria Teresa Horta, persegue-a e vigia-a nos momentos mais íntimos, atraída pela desmesura de Leonor, no seu permanente conflito entre a razão e a emoção. Acompanha-a no voo de uma paixão, que seduz os espíritos mais cultos da época, o chamado "século das luzes", e abre as portas ao romantismo em Portugal
Um maravilhoso e apaixonante romance sobre a extraordinária e aventurosa vida da Marquesa de Alorna.
As Luzes de Leonor, Maria Teresa Horta, Ed.D.Quixote, 2011.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Apenas Miúdos - Patti Smith



“Finalmente, junto ao mar, onde Deus está em toda a parte, acalmei-me gradualmente. Pus-me a olhar para o céu. As nuvens tinham as cores de um Rafael. Uma rosa ferida. Tive a sensação de que fora ele próprio a Pinta-las. Hão-de vê-lo. Hão-de reconhecê-lo a sua mão. Essas palavras vieram até a mim e eu soube que um dia veria um céu desenhado pela mão do Robert. Vieram as palavras e a seguir uma melodia. Levei os mocassins na mão e fui caminhando à beira da água. Tinha transfigurado os aspectos mais retorcidos do meu luto, projectando-os como um pano brilhante, uma canção em memoria do Robert.
Pequeno pássaro esmeralda para longe quer voar.

Se eu fechar a mão, irá ele ficar?
Pequena alma esmeralda, pequeno olho esmeralda.
Pequeno pássaro esmeralda, teremos de nos despedir?
Ao longe ouvi um chamamento, as vozes dos meus filhos. Correram para mim. Nesse instante de eternidade, detive-me. Vi-o de súbito a ele, aos seus olhos verdes, às suas madeixas escuras. Ouvi a voz dele acima das gaivotas, dos risos das crianças e do rumor das vagas. Sorri para mim, Patti, como eu estou a sorrir para ti.”

Este é o primeiro livro de Patti Smith em prosa. É um livro de memórias - que começa no Verão em que Coltrane morreu, do Verão do amor livre e de todos os motins, do Verão em que conheceu a figura central deste livro - o lendário fotógrafo americano Robert Mapplethorpe. Mas é também um retrato de época - dos dias do Chelsea Hotel e de Nova Iorque no fim dos anos 1960 - e uma comovente história de juventude e amizade. Just Kids é uma fábula em que encontramos poesia, rock’n’roll, sexo e arte que começa numa história de amor e acaba numa elegia.

Apenas Miúdos, Just Kids, Patti Smith, Ed.Quetazl, 2011.

domingo, 19 de junho de 2011

Poesia de Eugénio de Andrade



Frésias

Uma pátria tem algum sentido
quando é a boca
que nos beija a falar dela,
a trazer nas suas sílabas
o trigo, as cigarras,
a vibração
da alma ou do corpo ou do ar,
ou a luz que irrompe pela casa
com as frésias
e torna, amigo, o coração tão leve.

Poesia de Eugénio de Andrade, ed. Modo de Ler,2011.

sábado, 18 de junho de 2011

Uma Oliveira para Saramago

"Então Blimunda disse, Vem. Desprendeu-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda.”
José Saramago

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Jorge Semprúm

1923-2011


«A vida ainda era passível de ser vivida. Bastava esquecer, decidi-lo com determinação, brutalmente. A escolha era simples: a escrita ou a vida. Teria eu a coragem – a crueldade para comigo mesmo – de pagar esse preço?»







Correr






Logo após a guerra, em 1946, nos campeonatos organizados pelas forças aliadas em Berlim, atrás do cartaz Checoslováquia, para grande chacota do público presente, vem apenas um único atleta, magro e escanzelado. Mas quando nos 5.000 metros aquele atleta não só se desembaraça em poucos minutos dos seus mais possantes adversários com uma volta de avanço, como agora começa a ultrapassá-los nova¬mente, um a seguir ao outro e, enquanto estes abran¬dam, ele volta a acelerar, cada vez mais. De boca aberta ou aos gritos o público do estádio já não aguenta mais. Mais do que duas voltas! Vocifera o locutor do estádio. Em pé, a exultar, estão oitenta mil espectadores. Aquilo não é normal, gritam, aquele tipo faz tudo o que não deveria fazer e ganha! O nome daquele rapaz magro e louro de sorriso aberto nunca mais ninguém o esquecerá: Emil Zatopek. Pou¬cos anos e dois Jogos Olímpicos depois, Emil torna-se invencível.

«Punhos fechados, rodando caoticamente o torso, Emil também faz sempre qualquer coisa diferente com os seus braços. E toda a gente sabe que corremos com os braços. Para propulsionarmos melhor o corpo, devemos utilizar os membros superiores para aligeirar as pernas do seu próprio peso: nas provas de distância, reduzindo os movimentos da cabeça e dos braços obtém-se um melhor rendimento. Porém, Emil faz completamente o contrário, ele aparenta correr sem se preocupar com os braços, cuja impulsão convulsiva parte de uma posição demasiado alta e os quais descrevem curiosas deslocações, por vezes erguidos ou rejeitados, para trás, pendurados ou abandonados numa gesticulação absurda, os seus ombros também se meneiam, e os seus cotovelos, também esses exageradamente levantados, vão como se ele transportasse uma carga demasiado pesada. Durante a corrida parece-se com um pugilista que combate a sua sombra, todo o seu corpo assemelha-se a um mecanismo avariado, deslocado, doloroso, exceptuando a harmonia das suas pernas, que mordem e mastigam a pista com voracidade. Resumindo, faz tudo de modo diferente dos outros, que por vezes acham que ele faz coisas absurdas.»

Correr de Jean Echenoz, Ed.Cavalo de Ferro,2011.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Top Livros - Artes e Letras

1 - A História do Povo Açoriano - José M.Teixeira Dias - Publiçor
2 - Dicionário Sentimental - Fátima Sequeira Dias - Publiçor
3 - O Cemitério de Praga - Umberto Eco - Gradiva
4 - Liberade - Jonathan Franzen - Dom Quixote
5 - Dois Poetas e Um Pintor - Emanuel Jorge Botelho, António Teves, Urbano - Artes e Letras
6 - Quarto Livro de Crónicas -António Lobo Antunes - Dom Quixote
7 - Snu e a Vida Privada com Sá Carneiro - Cândida Pinto - Livros D'Hoje
8 - A Mentira Sagrada - Luis Miguel Rocha - Porto Editora
9 - A Humilhação - Philip Roth - Dom Quixote
10 - As Ilhas Desconhecidas - Raul Brandão - Artes e Letras

quinta-feira, 2 de junho de 2011