quarta-feira, 29 de julho de 2009

Viajar com Livros - Adriano


As viagens regulares constituíam uma forma tão enraizada de viver, que Marguerite Yourcenar (1903-1987) as desejava como se fossem um vício. Por isso viajou de forma tão compulsiva durante os anos 80, a sua última década de vida. Não viajar era o mesmo que morrer. Trouxe para a sua escrita esta ânsia entre os heróis da história. Adriano viajou por todo o seu império romano, de Roma às Estepes do Cáucaso. Yourcenar capta de forma notável no seu fabuloso livro Memórias de Adriano, as viagens longínquas do homem que se sentia compelido a vaguear mundo fora. A reconstrução da vida de Adriano (76-138), é um romance histórico, intelectualmente exigente. O maior dos últimos imperadores romanos, reinou durante vinte anos. Governou com pulso forte e implementou a maior campanha de construções, grandes pálacios, incluindo a Villa Adriana e o Panteão um dos edifícios mais visitados em Roma. Incentivou as artes e os seus amores ficaram patentes em milhares de estátuas, no fundo foi um romano com espírito grego.
"Apercebi-me rapidamente de que escrevia a vida de um grande homem. Daí, maior respeito pela verdade, mais atenção e, quanto a mim, maior silêncio."

Cidade Eterna

Fotografia Helena Frias


Roma fundada segundo a lenda, por dois gémeos alimentados por uma loba depois de terem sido lançados ao rio Tibre, cada pedra guarda um pouco dos mais 2700 anos de história da « cidade eterna». O grande império romano lançou as bases do direito actual, da politica e da cidadania. Em séculos de legado, construiu estradas, pontes e aquedutos, deixou-nos o latim e o sistema numérico, e uma herança cultural que se estende à arte e à arquitectura. A arte da perfeição está patente na praça de São Pedro, no Vaticano, o alto da cúpula da basílica, os tectos da Capela Sistina, com os frescos de Miguel Ângelo, as salas de Rafael e as magníficas colecções que fazem deste museu um dos melhores do mundo. Roma é um encontro entre o sagrado e o profano, com mais de quatrocentas igrejas, o religioso convive com as fontes barrocas, muitas delas com figuras nuas. A prefeita metáfora da Roma de hoje mais do que um postal ilustrado, o Coliseu é uma redoma hístorica que guarda as raízes de uma das mais importantes civilizações ocidentais. Os italianos, chamam-lhe " dolce far niente", entre passeios e momentos de descanso e deleite em cafés e restaurantes com qualidade gourmet.
Roma sempre inspirou artistas, cenário de filmes como La Dolce Vita, de Fellini, ou a Fonte dos Desejos, de Jean Negulesco, Fontana Di Trivi. Segundo a tradição, lançar uma moeda de costas para fonte garante o regresso a Roma, que lida de trás para a frente, significa "Amor".

terça-feira, 28 de julho de 2009

Costela Açoriana


"Sempre sonhei. Sempre ouvi a frase fatal: tem os pés na terra! Mas com os pés na terra, não se voa. Sempre sonhei voar. Como o Buzz Lightyear, do Toy Story, sempre quis ir até ao infinito e mais além.
Como professor universitário foi o que fiz, mas, quando com os meus co-fundadores criei a YDreams, percebi que era essencial combinar o «voo do sonho» com os pés na terra. Como vencer a ausência de perspectiva, a aversão ao risco, a falta de autoconfiança e a tendência para criticar em vez de gerar ideias pervasivas na nossa sociedade?"
Temos a inteligência e as ferramentas essenciais para «voar», basta aprender a fazê-lo com qualidade.
António Câmara nasceu em Lisboa em 1954, mas sua mãe, Beatriz do Canto da Câmara, é natural de São Miguel, ilha onde mantém família próxima.Tem orgulho nas suas raízes açorianas (passava quase todos os anos férias nas Furnas), e já realizou vários projectos nos Açores. Lidera a YDreams, que é uma das referências mundiais na área das novas tecnologias. Licenciou-se em Engenharia Civil no instituto Superior Técnico, é professor catedrático na Universidade Nova de Lisboa. Doutorado em engenharia de sistemas ambientais na Virgínia Tech, ganhou em 2006 o Prémio Pessoa, e diz que “ as tecnologias vão desenvolver-se em cada vez mais sentidos, ao mesmo tempo que se vão tornar também cada vez mais “ invisíveis”.
António Câmara, acaba de publicar o livro Voando com os Pés na Terra (Editora Bertrand).

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O Mágico

"A música é magia, é impossível ve-la, mas sim senti-la, é ar, energia, sensibilidade. O nosso tempo e o nosso mundo, o que precisa é de sensibilidade."
Gustavo Dudamel
Perto do mar a música é mais sábia:
Humaniza o seu som,
E põe nas suas cadências um estranho
Estremecimento do coração.
Jorge González Bastias

Um dos rostos mais visíveis nos circuitos da música clássica, Gustavo Dudamel, jovem maestro, uma promessa já confirmada de que muito se fala pelo facto de apenas com 27 anos, ter sido convidado para ocupar o cargo de Director Artístico da Filarmónica de Los Angeles, e também pela aclamação global de “Fiesta”, disco de 2008, com a Orquestra Simon Bolívar, neste álbum é apresentada uma selecção de obras de compositores Latino-Americanos do século XX.
O maestro conhecido pela sua exuberância em palco, é produto do chamado” sistema “ de Orquestas Juvenis Venezuelanas. Fundada pelo maestro José António Abreu, é uma obra social do Estado, a prática colectiva através da música, a educação e recuperação de crianças carenciadas. Existem actualmente, 180 “núcleos escolas” que acolham, 350000 crianças e jovens que formam uma complexa rede de Orquestas, já lhe chamam o milagre musical Venezuelano.
O fenómeno Dudamel está imparável , com o catálogo da Deustsche Grammophon em construção , este ano gravou, a 5ª Sinfonia de Tchaikovsky, o que traduz uma paixão do Maestro pelo compositor Russo” Apesar de a Venezuela estar longe da Rússia, o carácter latino de Tchaikovsky, faz nos apaixonarmos pela sua música num instante.”
Como alguém uma vez disse, não há boas e más orquestras, apenas bons e maus maestros, Gustavo Dudamel é um dos melhores.

JAZZ NO COLÉGIO


domingo, 26 de julho de 2009

James Cameron na Livraria

Numa manhã de Verão , em Julho de 2002, recebemos uma chamada telefónica do Hotel Açores Atlântico, que pretendia saber do nosso stock de livros em inglês , visto terem um hospede especial, que precisava de abastecer-se para a viagem que ia efectuar de barco. Respondemos que sim, a secção estava disponível em quantidade e qualidade. Fomos então visitados pelo estrangeiro, homem alto e magro, simpático, e satisfeito pelo facto de poder finalmente encontrar livros em inglês. Rapidamente o reconhecemos, confirmando com prestável guia que o acompanhava, que nos disse: “ Sim é ele, James Cameron, o do Titanic”.
Sentado no chão fez a sua escolha, uma caixa cheia de paperbacks de autores norte- americanos e ingleses. Conversamos, trocamos prendas, ele um autografo, e nós um álbum dos Açores.
Foi assim a ida à Livraria SolMar, do famoso realizador que um dia, ao receber um Óscar gritou “I am the king of the world” .

sábado, 25 de julho de 2009

Dia de Mar

Fotografia Helena Frias

A autora de a Menina do Mar, entre outros, deixou escrito, um conto infanto-juvenil, que até hoje nunca foi publicado em livro. É intenção da família que seja editado brevemente e faz parte do espólio que está a ser inventariado, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, no qual se encontram setenta caixas com muitos outros textos inéditos, entre os quais vários poemas.
Shophia de Mello Breyner, poetisa, evoca-se aqui na altura em que se perfazem cinco anos sobre a sua morte.



As ondas quebravam
uma a uma
eu estava só com a areia
e com a espuma
do mar que cantava só para mim


Dia do Mar , Sophia de Mello Breyner

Bret Easton Ellis



Bret Easton Ellis vai publicar, em 2010, a continuação do famoso Menos que Zero. Irá Chamar-se IMPERIAL BEDROOMS, numa referência directa ao álbum de 1982 de Elvis Costello.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Trailer Alice

Perdidos na Tradução


O novo livro de Haruki Murakami já é um sucesso, depois de cinco anos sem publicar, acaba de sair no Japão o seu último romance 1Q84. Descrito como uma narrativa complexa e surreal, que anda para trás e para a frente com a história de duas personagens, um homem e uma mulher, à procura um do outro. A primeira tiragem teve que subir dos 380 mil exemplares previstos para os 480 mil, segundo a editora Shinchosha. O sucessor de After Dark, terá sido influenciado por 1984, de George Orwel (porque a letra “Q” em japonês se pronuncia como o número 9), até o romance ser editado o escritor recusou-se a revelar detalhes, e lembrou que o secretismo à volta do livro resultou da má experiência com Kafka on the Shore(2002), em que foram revelados pormenores a mais.

A editora Shinchosha, tem promovido de várias formas, o livro 1Q84, foi o tema num programa que é assim uma espécie de Câmara Clara japonês, num intenso e produtivo diálogo, os críticos analisam a obra.
Perdidos na tradução, o gozo maior está na partilha, mesmo não percebendo nada.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Irresistível

O Museum of Modern Art de Nova Iorque(MoMa), vai acolher a partir do dia 22 de Novembro, uma grande exposição de desenhos, pinturas, storybords, maquetes, bonecos e outras criações do realizador americano Tim Burton. Os visitantes poderão ver ainda uma retrospectiva integral dos seus filmes amadores, trabalhos artísticos dos seus tempos de estudante e projecção de fitas que o influenciaram. Todo o universo surreal e exuberante de Burton, está visível nas imagens do seu último trabalho, com estreia para Abril de 2010, Alice in Wonderland.
Ficamos assim fascisnados a ver estas imagens, e esperando pacientemente, pelo acontecimento cinematográfico de 2010.
Totalmente familiar como parte integral da nossa cultura, a viagem de Lewis Carroll na toca do coelho branco é um conto para crianças, contendo alguma sátira bizarra, jogos de palavras e comédia, capaz de satisfazer qualquer leitor adulto. Alice tenta confrontar loucura com lógica, numa história que gentilmente desmascara o insensível puritanismo das práticas educativas das crianças da burguesia vitoriana.
Alice no País das Maravilhas de Carroll, é no entanto uma das raras obras, que consegue transpor a linguagem do sonho para a literatura.


quarta-feira, 22 de julho de 2009

Ai Jesus


Jorge Jesus é garantia de sucesso, o novo treinador do meu Benfica já é vencedor do campeonato dos pontapés na gramática em Portugal, só comparável a José Mourinho nas tácticas em italiano. O nosso Mister, parece ter a língua mais curta ou mais comprida do que o cérebro, e a discrepância ouve-se incontáveis vezes em disparates linguísticos. Ora vejamos:
os pinos efervescentes”, “forno interno do clube”, “bode respiratório”, “ couro de assobios”, “ embebida no espírito da vitoria”, “cherne da questão”, estes são alguns exemplos de como driblar a língua portuguesa. O Jesus a maioria das vezes é distraído, precipitado e não ignorante “sinto-me a Paula Rego do futebol”, calinada mesmo é quando se refere aos jogadores que usam a braçadeira em campo, como os seus “capitões”, mas é preciso ver que o campeão só têm a quarta classe antiga, e que não deve andar à pedrada quem tem telhados de vidro. Nos blogues, nos jornais, todos os dias, os estilhaços fazem-se notar. Queriam o quê, o Diogo Infante ou Edite Estrela, como treinadores do Glorioso. Podemos sempre recomendar, algumas leituras ao senhor Jorge Jesus, que tal:
O Memorias da Igreja do Saramago, A Massagem do Pisoa, O Amor de Posição do Amilo, O Feri Luis de Coiso do Garret, Os Fidalgos da Caça Maricas do Dinis, esperamos que o seu preferido não seja A Queda de uma Águia do Camilo.
Boas leitugas e SLB sempre.

domingo, 19 de julho de 2009

Odisseia no Espaço

Um dos primeiros filmes da história do cinema é Viagem à Lua (1902), de Georges Mélies, 14 minutos alucinantes com o nosso satélite natural dotado de nariz, olhos e boca, a ficar cego de um olho devido à colisão do foguetão.Dos muitos filmes de ficção cientifica um dos mais célebres é 2001:Odisseia no Espaço, realizado pelo grande Stanley Kubrick, baseado no conto de Arthur C. Clarke, que serviu também como consultor. O seu avançado rigor tecnológico, as magníficas cenas passadas na base lunar, e a visualização das paisagens espaciais, são sequências das melhores alguma vez filmadas.
A série Espaço 1999, criada por Jerry Anderson, marcou a história da F.C. televisiva. A lua como cenário de episódios para uma sucessão de aventuras, destacava-se o design da base, e das inesqueciveis naves Eagle, que serviam os seus astronautas.
Viagens à lua no cinema e na televisão houve muitas, mas o que fez parar o mundo inteiro, á frente dos pequenos ecrãs a 20 de Julho de 1969, foram as imagens em directo, em que se via pela primeira vez um homem na lua.


Fly Me to the Moon

Em 1961, John F. Kenndy lançou o desafio num discurso que fez história. O clima em que vivia a América encontrou um autêntico hino, uma canção In Other Words, por muitos reconhecida pelo seu primeiro verso “ Fly me to the moon”, sendo um êxito imediato. Frank Sinatra, a voz, em Julho de 1969, voou até à lua através dos altifalantes da Apolo 11.
A lua foi inspiração que morava na imaginação de cantores e compositores. Au Claire de Lune, composta por Debussy, a ópera Der Mond, e a Sonata ao Luar de Beethoven, são clássicos. Também o Jazz conquistou a espaço com o histórico standard mais vezes recriado, Blue Moon.
No ano em que Neil Armstrong e Buzz Aldrin pisaram o solo lunar, David Bowie, recriava um diálogo algures no espaço em Space Oddity. Nesta noite que ficou para a história da humanidade, a BBC, convidava os Pink Floyd para acompanhar com música ao vivo , as primeiras imagens que chegavam da lua, mais tarde em 1972, o grupo britânico gravava The Dark Side of the Moon. Boa música nos deu esta era espacial.

Com a Cabeça na Lua




Há 40 anos, três homens pisaram a superfície lunar pela primeira vez. Muito antes do homem encetar umas das mais emblemáticas viagens da sua história, já Júlio Verne (1828-1905) escrevera Da Terra À Lua, publicado em 1865, representando com imaginação uma das primeiras aventuras do género. A nave é lançada pela força de um canhão. Muitos escritores de ficção cientifica, colocaram a lua como protagonista na literatuara. Cyrno de Bergerac, no século XVII, foi dos primeiros a por o homem no nosso satélite, quando publicou O Outro Mundo ou os Estados e Impérios da Lua. Tintin no seu foguetão cheio de estética, aventurou-se na lua, fazendo as delícias aos quadradinhos de milhões de leitores.
Foram muitos os escritores com a “cabeça na lua”: Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, H.G. Wells, Robert A. Heinlein, e muitos livros da colecção Argonauta, através dos seus contos e romances, ofereceram-nos a capacidade fantástica de sonhar, uma viagem com um destino, a Lua.

sábado, 18 de julho de 2009

Autores a lápis de cores 5 - Lélia Nunes











"Socióloga, professora universitária, escritora e, sobretudo, uma apaixonada pelos Açores". Brasileira, vive e trabalha em Santa Catarina.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Os Castrados

No século XVI, a Igreja impedia as mulheres de cantar nos templos, atitude que se alargou aos teatros e palácios com a bênção da santa inquisição. A dificuldade em encontrar homens que imitassem o timbre feminino, levou à nefasta prática da castração, proceder-se à amputação dos órgãos genitais de rapazes adolescentes, na procura da voz pura e perfeita. Garantia ás vitimas ( rapazes de 10 11 e 12 anos ) carreira bonita, desde logo cheia de benesses e gratificações, o ideal para meninos pobres, que de outra maneira seriam condenados a existências desgraçadas. Antes de serem entregues às mãos dos cirurgiões, sabiam que a escolha e destino dependia de superiores vontades, entre uma vida de privações ou o deslumbramento dos belos teatros, forrados de seda, e igrejas de talha dourada. Esta prática que durou até à segunda metade do século XIX, na maioria dos casos não resultava, a voz degenerava num guinchar fanhoso, e os rapazes eram mandados à vida, entregues à sorte das docas e à eterna chacota. Na melhor hipótese, fariam carreira e enriqueceriam com a sua voz aguda. O mais famoso e consagrado dos Castratti, Carlo B. Farinelli (1705-1782), grande artista, autor e intérprete , um dos maiores cantores de todos os tempos, conseguia produzir 250 notas com uma só respiração, e sustentar uma, durante mais de um minuto.
A dramática vida de Farinelli il Castrato, está contada no livro de André Corbiau (edições Teorema), e no filme de Gérard Cobiau.

Integrado na temporada MusicAtlântico, actua amanhã, dia 17 pelas 21h30, na Igreja do Colégio, em Ponta Delgada, o contratenor mais famoso da actualidade, Philippe Jaroussky. Do programa constam árias e obras do extraordinário mundo vocal dos Castratti do século XVIII, Farinelli e Carestini.


terça-feira, 14 de julho de 2009

Coração de Leão


A Mãe é o novo disco de Rodrigo Leão onde as canções são mais solenes e melancólicas, é também o seu trabalho mais pessoal (dedicado à mãe, falecida este ano), ao mesmo tempo onde se sente mais a presença do grupo que o acompanha- o Cinema Ensemble. Certeiro nas escolhas das vozes, o dramatismo de Stuart Staples dos Tindersticks, a pop de Neil Hannon dos Divene Comedy, a voz vivida , mais falada de que cantada do argentino Daniel Melingo e a confirmção da habitual Ana Vieira, para além da Sinfonietta de Lisboa, com arranjos exuberantes.O sentido dramático, a pop , por vezes o movimento tranquilo, com o tango presente não fosse Astor Piazzola o músico de eleição de Rodrigo Leão. Um disco com uma mão cheia de canções que prometem marcar estes dias de verão.

sábado, 11 de julho de 2009

Viajar com Livros - Rimbaud


Eu escrevia silêncio, noites, anotava o inexprimível, fixava vertigens.
Arthur Rimbaud


A perpétua necessidade de fugir ao tédio, faz Rimbaud viajar para lugares frios da Europa, como a Escandinávia e a Suíça, caminhos que passam diversas vezes por Charleville. Uma expedição nos Alpes, em que escreve relatos, que inspiram montanhistas profissionais. Depois disso, no fim de 1878, vai rumar à dureza do sol no deserto. Cruza o mediterrâneo a propósito de uma campanha em Java, na distante Indonésia. Por diferentes razões conhece o Egipto, o Chipre, a Turquia e aprende outras línguas, árabe, grego, russo, entre outras. Foi comerciante em Harar (Etiópia), cruzando para lá chegar o deserto da Somália. A excitação da nova viagem e do partir atormenta-lo. Portador de génio, o poeta francês, Arthur Rimbaud (1854-1891), viveu o período de maior criação entre os 15 e os 21 anos, altura em que publicou As Iluminações. Deixou a literatura, para viver uma existência carregada de excessos: o álcool, as relações amorosas promiscuas, a libertinagem. Rimbaud viveu depressa, a sua viagem, pelo mundo dos vivos foi curta, morreu aos 37 anos vítima de cancro.

Estrangeirados

Maria João Pires, zangada por o Estado ter fechado a torneira à sua louvável mas dispendiosa escola, em Belgais (que tem os bens arrestados) anunciou que vai trocar a nacionalidade portuguesa pela brasileira. A pianista não está só, Miguel Sousa Tavares esta semana declarou “Estou a pensar ir-me embora para o Brasil”. No dia seguinte, Saramago disse lamentar a ida da pianista - já Sousa Tavares “até pode ir para Marte”, que para ele, Saramago, vai dar ao mesmo. Ainda por terras de Vera Cruz, outra eminência da cultura portuguesa contemporânea, Lobo Antunes, encontrou a felicidade, segundo o próprio, a viagem foi só risos e alegria.
Descobriram o Brasil, valha-nos a arte que é universal e não precisa de passaporte.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

O Amante

Marguerite Duras


“ Esse estalar da música de Chopin debaixo do céu iluminado de brilhantes. Não havia uma aragem e a música espalhara-se por todo o navio negro, e a rapariga chorara porque pensara naquele homem de Cholen e de súbito não tivera a certeza de não o ter amado com um amor que ela não vira porque se perdera na história como a água na areia e só agora o reencontrava nesse instante da música lançada através do mar.”
A escritora francesa que nasceu na Indochina, Marguerite Duras (1914-1996), era reservada mas provocadora no delírio das emoções e na plena beleza das palavras. Livros autobiográficos, teatro, argumentos de filmes, quase sempre com o oriente em fundo. Na solidão escrevia suas obras, em que as viagens surgem por dentro. Episódios e cenários, intrigas e romances, inspirados em lugares da infância e da adolescência com seus dilemas e fantasmas. O universo de Duras com amores e amarguras, numa época em que as viagens duravam vinte e quatro dias, em que nos navios se formavam sociedades do acaso, encontros, amantes, que irresistivelmente se tornavam por vezes transparentes como a água do mar da china do norte, ou trágicos de inesquecível encanto. “Então o barco dizia adeus ainda mais uma vez, lançava de novo os seus mugidos terríveis e tão misteriosamente tristes que faziam as pessoas chorar “. Em 1984, publica o semi-autobiográfico romance O Amante, que ganhará o prémio Goncourt e que dará origem ao filme controverso de Jean-Jacques Annaud.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Câmara Clara Nos Açores


A cultura açoriana em destaque no proximo programa na RTP2, domingo, às 21.30h
Convidados:Gabriela Canavilhas, António Machado Pires, Rogério Sousa.
A não perder por diversas razões.

Jesusalém e Pronto Final


“A primeira vez que vi uma mulher tinha onze anos e me surpreendi tão desarmado que desabei em lágrimas. Eu vivia num ermo habitado apenas por cinco homens. Meu pai dera um nome ao lugarejo. Simplesmente chamado assim: “Jesusalém”. Aquela era a terra onde Jesus haveria de se descrucificar. E pronto, final.”


Ao transcrever este parágrafo o meu computador ficou baralhado, com a criação que Mia Couto utiliza na sua prosa. Considera-se antes de tudo um poeta, e o que lhe fascina é o “poder fazer a criação poética, não só em cima da linguagem, mas em cima da narrativa.” Jesusalém, e não Jerusalém é como se intitula o seu novo romance, editado pela Caminho. Mia confirma o importante lugar que detêm nas literaturas de língua portuguesa. O escritor Moçambicano defendeu, recentemente no Rio de Janeiro, que é preciso discutir questões do âmbito social e políticas, antes da unificação ortográfica. Mia diz sentir prazer em ler autores brasileiros com “ elementos gráficos diferentes para que essa diversidade esteja presente.” Afirma-se assim resistente ao acordo ortográfico.
Na sessão de lançamento de Jesusalém, salientou que a literatura ainda pode causar encantamento e criar utopias.
“ A literatura pode mostrar o gosto de se poder sonhar e se poder construir outros dias, com o prazer de encontrar um mundo para além desse.”

Autores a lápis de cores 4 - Onésimo Teotónio de Almeida



Professor, cronista, ensaísta, dramaturgo açoriano nascido em S. Miguel. Vive e trabalha na Lusalândia

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Veneza Cidade Feminina


Fotografia Helena Frias

A literatura de viagens está ligada a textos que descrevem experiências em outros lugares, e outras culturas, despertando em cada leitor a paixão pela descoberta. É assim com Carlos Vaz Marques coordenador de uma colecção dedicada a este género literário publicada pela editora Tinta da China. A propósito disse recentemente que decide as suas viagens, com o critério prático e o critério poético, “o poético é o desejo. Tem haver justamente com o facto de ir para lugares onde possa sentir que está à beira de perder o pé. O prático é o dinheiro.” Na lista infinita na sua cabeça de lugares onde gostava de ir diz, “o meio de transporte mais barato que conheço são os livros, e a leitura como forma de viajar é o substituto ou complemento quando se pode fazer.”
A colecção já conta com cinco títulos, o último é uma obra sobre Veneza, de Jan Morris, uma célebre escritora de viagens que nasceu James, e mudou de sexo em 1972, continuando no entanto a viver com a mulher e os filhos.
Este livro é já um clássico, muitas vezes referido como o livro sobre Veneza.
Nas palavras de Paul Theroux, outro dos grandes escritores viajantes do nosso tempo, Morris é “ uma das maiores escritoras descritivas da língua inglesa”. Por isso ele lhe chama também “ a travelling genius”.
É numa permanente inquietação de viagem que a autora, percorrendo o mundo para o interpretar, tenta revelar o enigma dos lugares que visita tal como se propõe desvendar o seu próprio enigma interior.
“ Por vezes, rio abaixo, quase penso que o consigo; mas então a luz muda, o vento vira, uma nuvem atravessa-se à frente do sol e o significado de tudo isto volta uma vez mais a escapar-me.”



segunda-feira, 6 de julho de 2009

Elegy - Philip Roth

Consuela Castillo, uma estudante bem-comportada, com vinte e quatro anos, filha de exilados cubanos ricos, lança a vida do professor David Kepesh num tumulto erótico. Conferencista de grande mérito, crítico cultural e muito respeitado na sua universidade em Nova Iorque, o sexagenário, com uma vida ordenada, em que é simultaneamente livre no mundo de Eros e estudiosamente dedicado na sua actividade estética, vive aquilo a que chama uma “virilidade emancipada.” Tudo isto é posto em causa pela beleza e juventude de Consuela, que vai atira-lo para uma enlouquecida possessividade e ciúme deformador. A aventura despreocupada evolui para uma história cruel de perda.
Esta é a adaptação do romance de Philip Roth Animal Moribundo, realizado pela catalã Isabel Coixet, em que são protagonistas Ben Kingsley e Penélope Cruz nos principais papéis. Philip Roth, escritor norte-americano de origem judaica, é considerado um dos mais importantes escritores da segunda metade do século XX. O seu último romance tem como título Indignation, muito aclamado pela crítica.
Indignação é o que nós sentimos, porque nem estreia por cá o filme Elegy, assim como o seu último livro só estará traduzido e publicado no proximo Outono pela D.Quixote .
Outono parece ser a estação de Roth, não fosse ele falado todos os anos para o Nobel da Literatura.

sábado, 4 de julho de 2009

Nem Ovídio Nem Coco Chanel

Fotografia de Filipe Franco

Ao atracar em Cannes com um tom de pele mais escuro do que o habitual, a francesa Coco Chanel conhecida por gostar de praia, ar livre e desportos, torna-se numa das primeiras mulheres com o atrevimento suficiente para se bronzear. Até essa altura, anos 20, o tom de pele distinguia na sociedade os ricos dos pobres, queimados pelo sol estavam os trabalhadores do campo e do mar, ao contrário dos abastados que possuíam rostos pálidos e protegidos.
Na Arte de Amar, Ovídio escreveu: “deixem os amantes serem brancos é a cor que condiz com o amor.”
Por esta razão, os romanos pintavam os rostos com giz, chegando mesmo a usar-se arsénico como branqueador, o que levava a muitos envenenamentos involuntários.
Por aqui nos Açores, a vida do bronzeado tem sido muito curta, não por querer seguir a ideia de Ovídio, ou por falta do atrevimento de Coco Chanel, mas sim porque os raios (mas que raio) do Deus Sol não se mostram.

Palavras Cruzadas(parte 2) - Onésimo Teotónio de Almeida

quinta-feira, 2 de julho de 2009



MR a "tirar as medidas" a Onésimo Teotónio de Almeida para a caricatura dum dos próximos " Autores a lápis de cores"

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Autores a lápis de cores 3 - José Medeiros



José Medeiros é realizador e cantautor, actor e encenador. Nasceu, vive e labuta nos Açores.

Foi "caçado" pelo caricaturista Mário Roberto com banca montada no Centro Comercial Solmar.