quarta-feira, 27 de julho de 2011

De Olhos Abertos


«Em Petite Plaisance, quando empurra a porta, por baixo da varanda de onde pendem espigas de milho (símbolo local de prosperidade, oferenda a um qualquer deus desconhecido, deixado pelos índios, quem sabe?), o visitante tem o sentimento de penetrar com naturalidade numa terra onde o ar é diferente. O olhar de Marguerite Yourcenar, ao mesmo tempo longínquo e cortês, com algo de irónico, pousa sobre ele, avalia-o, julga-o. E começa então a falar, com a segurança daquele que acredita...»

Este livro reune diversas entrevistas que Marguerite Yourcenar (1903-1987) concedeu a Matthieu Galey. Ao longo dessas conversas, Yourcenar descreve o itinerário da sua existência nómada, desde a infância antes da Guerra de 1914, junto de um pai excepcional, até à deslocação para a ilha de Montes Desertos, na costa este dos Estados Unidos. Mesmo ao abordar a sua vida quotidiana, Yourcenar revela um invulgar dom para situar os seres, os acontecimentos e as circunstâncias numa perspectiva mais ampla. Sem reservas, com uma simplicidade e sabedoria conquistada ao longo dos anos, os "olhos abertos" de Yourcenar demoram-se nos mais variados aspectos dos mundos antigo e contemporâneo. No conjunto, este é o testemunho que Yourcenar nos deixou sobre os seus sentimentos, acções e pensamentos.

De Olhos Abertos, Marguerite Yourcenar, Conversas com Mathieu Galey.
Tradução de Renata Correia Botelho.
Relógio D'Água,2011.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde



«Qualquer estátua – é sabido – contém um princípio vital que uns dizem derivar do artista que a moldou, outros, da entidade que representa, outros ainda do próprio vigor da pedra, que apesar de cortada e extraída continua a nascer e a crescer nas pedreiras. Talvez seja ilusória aquela aparente rigidez das formas. Provavelmente, a estátua observa o que se passa em volta. Tudo vê, ouve e guarda. Mas apenas actua nos momentos propícios, raros e ponderosos. E sendo assim, deve haver um segredo para penetrar na alma das estátuas. Um gesto, um vocábulo, um pensamento piedoso emergindo no tempo e na conjugação astral adequados. Ou talvez apenas uma pessoa bem determinada, escolhida pelo favor dos deuses, seja apta a chegar à alma que se disfarça na pedra.»

Mário de Carvalho, Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde, Ed. Caminho.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Rosa do Mundo

William Waterhouse

«Há muitos e muitos milhares de anos, a poesia aproximou-se do homem e tão próximos ficaram, que ela se instalou no seu coração. E começaram a ver o mundo conjuntamente estabelecendo uma inseparável relação que perdurará para sempre. Não demorou muito a que a poesia se emancipasse, autonomizando-se. Como uma rosa de cujas pétalas centrípetas emana a beleza e o mais intenso perfume, sem nunca prescindir da defesa vigilante dos seus espinhos, assim cresceu livre a poesia carregada de silencioso mistério e sedução.»

Manuel Hermínio Monteiro, in Rosa do Mundo - 2001 poemas para o futuro, 2001, p. IX.,Ed. Assirio e Alvim.


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Livros Para Ler nas Férias - Sugestões I



O Homem do Turbante Verde
Mário de Carvalho
Ed. Caminho,2011.

Numa altura em que o interesse pela narrativa curta se renova por todo o lado e depois da reedição muito esperada de "Contos da Sétima Esfera", surge este perturbador "O Homem do Turbante Verde". Cenários evocadores dos nossos dias enlaçam-se com os destinos de uma juventude confrontada com preplexidades e dilemas de um tempo histórico ainda recente. Percursos aventurosos numa África irreal, toda feita de caprichos literários, vão de par com histórias sombrias, cheias de inquietação e susto. A ironia afável conjuga-se com a crueldade. Uma estranheza, ora inquietante ora divertida, acompanha o delírio mais inesperado. Uma linguagem que aposta na clareza, sem fazer quaisquer concessões ao facilitismo.



Tiago Veiga - Uma Biografia
Mário Cláudio
Ed. Dom Quixote,2011.

Tiago Veiga cresceu numa aldeia do Alto Minho em 1900, e nesse mesmo lugar viria a morrer em 1988. Bisneto pelo lado paterno de Camilo Castelo Branco, e só de muito poucos conhecido ainda, Veiga protagonizaria uma singularíssima aventura poética na história da literatura portuguesa.
A sua biografia, redigida aqui por Mário Cláudio que o conheceu pessoalmente, não deixará de configurar de resto matéria de suplementar interesse pela relevância das figuras com que Veiga se cruzou, e entre as quais se destacam poetas como Jean Cocteau e Fernando Pessoa, Edith Sitwell e Marianne Moore, Ruy Cinatti e Luís Miguel Nava, políticos como Bernardino Machado e Manuel Teixeira Gomes, pensadores como Benedetto Croce, e até simples ornamentos do mundanismo internacional como a milionária Barbara Hutton.




As Luzes de Leonor
Maria Teresa Horta
Ed. Dom Quixote,2011.

Leonor de Almeida Portugal, neta dos Marqueses de Távora, uma figura feminina ímpar na história literária e política de Portugal. A escritora Maria Teresa Horta durante 13 anos, persegue-a e vigia-a nos momentos mais íntimos, atraída pela desmesura de Leonor, no seu permanente conflito entre a razão e a emoção. Acompanha-a no voo de uma paixão, que seduz os espíritos mais cultos da época, o chamado “século das luzes”, e abre as portas ao romantismo em Portugal. Um maravilhoso e apaixonante romance sobre a extraordinária e aventurosa vida da Marquesa de Alorna.


segunda-feira, 4 de julho de 2011

Urbano - O Terceiro Dia


Dia 7 de Julho, quinta-feira, às 21h00, inauguração da exposição O TERCEIRO DIA, do artista Urbano, na Fonseca Macedo - Arte Contemporânea, Ponta Delgada.

sábado, 2 de julho de 2011

O Pintor Debaixo do Lava-Loiças


A liberdade, muitas vezes, acaba por sobreviver graças a espaços tão apertados quanto o lava-loiças de um fotógrafo. Esta é a história, baseada num episódio real, de um pintor eslovaco que nasceu no final do século XIX, no império Austro-Húngaro, que emigrou para os EUA e voltou a Bratislava e que, por causa do nazismo, teve de fugir para debaixo de um lava-loiças.

-- Para ganhar uma guerra -- disse Sors --, há duas condições: não morrer e não matar. É só nesse caso que se pode sair vitorioso de uma guerra.
Matej Soucek ria-se. Estava ali sem pensar em nada e apontava para a frente, contra o inimigos, e a sua vida fazia mais sentido de cada vez que disparava.
-- No final é que vamos ver, Sors. Quando isto acabar é que vamos ver quem sai vitorioso.