«Permitam-me que o reitere: a água é igual ao tempo e fornece à beleza o seu duplo. Parcialmente de água, também nós servimos da mesma forma a beleza. Aflorando a água, esta cidade apura as feições do tempo, embeleza o futuro. Nisso consiste o papel desta cidade no universo. Porque a cidade é estática, ao passo que nós nos movemos. A lágrima é disso a prova. Porque nós passamos e a beleza fica. Porque nos dirigimos para o futuro, enquanto a beleza é o eterno presente. A lágrima é a nossa tentativa de permanecer, de ficar para trás, de nos fundirmos com a cidade. Mas isso é contra as regras. A lágrima é um retrocesso, um tributo do futuro ao passado. Ou então é o resultado que se obtém quando se subtrai a maior da menor parcela: a beleza, do homem. O mesmo vale para o amor, porque também o nosso amor é maior do que nós.»
Marca de Água de Joseph Brodsky.
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