domingo, 21 de março de 2010

Dia Mundial da Poesia - Emanuel Jorge Botelho

ANOTAÇÕES , QUASE AVULSAS,
PARA O DIA 21


O poeta é um animal longo
desde a infância


Luiza Neto Jorge


Ao dobrar a última esquina de amanhã, pousa-se o andar
das horas no Dia Mundial da Poesia.

A poesia é a mãe de todas as sílabas.
E junta-as, à hora certa, para lhes dar alimento.

A poesia não enuncia.
Ela sabe que está dentro do que diz.

A poesia não dá nome à evidência
Toda a sua clareza é anterior ao visível.

A poesia sabe que a certeza dói.
É um golpe de arma branca, no sorriso dos espelhos.

A poesia nunca trai os segredos do mundo.
Apenas os coloca, sobre a mesa, como se fossem bagos de
trigo.

A poesia, só a grande poesia, pode ter o cheiro a alma.


Depois de amanhã, não irei ler nenhum poema.
Deixo a poesia de pousio, dou afago de lombada aos livros
onde ela mora, e digo-lhe da minha gratidão.
A minha vida deve-lhe anos de vida e a minha morte a cara
lavada.
Aprendi com Luiza Neto Jorge que o poema ensina a cair, e
devo a António Ramos Rosa a benção de uma verdade: não posso
adiar o coração.

O papel pede-me um ponto final.
Antes disso, no entanto, ofereço-vos, em versão de Jorge
Sousa Braga, três versos, tenros e luminosos, de Issa Kobayashi:

Dia de primavera-
A porta das traseiras
Abre-se sozinha


(in) Jornal “ Terra Nostra” de 19.03.2010

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