ANOTAÇÕES , QUASE AVULSAS,
PARA O DIA 21
O poeta é um animal longo
desde a infância
Luiza Neto Jorge
Ao dobrar a última esquina de amanhã, pousa-se o andar
das horas no Dia Mundial da Poesia.
A poesia é a mãe de todas as sílabas.
E junta-as, à hora certa, para lhes dar alimento.
A poesia não enuncia.
Ela sabe que está dentro do que diz.
A poesia não dá nome à evidência
Toda a sua clareza é anterior ao visível.
A poesia sabe que a certeza dói.
É um golpe de arma branca, no sorriso dos espelhos.
A poesia nunca trai os segredos do mundo.
Apenas os coloca, sobre a mesa, como se fossem bagos de
trigo.
A poesia, só a grande poesia, pode ter o cheiro a alma.
Depois de amanhã, não irei ler nenhum poema.
Deixo a poesia de pousio, dou afago de lombada aos livros
onde ela mora, e digo-lhe da minha gratidão.
A minha vida deve-lhe anos de vida e a minha morte a cara
lavada.
Aprendi com Luiza Neto Jorge que o poema ensina a cair, e
devo a António Ramos Rosa a benção de uma verdade: não posso
adiar o coração.
O papel pede-me um ponto final.
Antes disso, no entanto, ofereço-vos, em versão de Jorge
Sousa Braga, três versos, tenros e luminosos, de Issa Kobayashi:
Dia de primavera-
A porta das traseiras
Abre-se sozinha
(in) Jornal “ Terra Nostra” de 19.03.2010
PARA O DIA 21
O poeta é um animal longo
desde a infância
Luiza Neto Jorge
Ao dobrar a última esquina de amanhã, pousa-se o andar
das horas no Dia Mundial da Poesia.
A poesia é a mãe de todas as sílabas.
E junta-as, à hora certa, para lhes dar alimento.
A poesia não enuncia.
Ela sabe que está dentro do que diz.
A poesia não dá nome à evidência
Toda a sua clareza é anterior ao visível.
A poesia sabe que a certeza dói.
É um golpe de arma branca, no sorriso dos espelhos.
A poesia nunca trai os segredos do mundo.
Apenas os coloca, sobre a mesa, como se fossem bagos de
trigo.
A poesia, só a grande poesia, pode ter o cheiro a alma.
Depois de amanhã, não irei ler nenhum poema.
Deixo a poesia de pousio, dou afago de lombada aos livros
onde ela mora, e digo-lhe da minha gratidão.
A minha vida deve-lhe anos de vida e a minha morte a cara
lavada.
Aprendi com Luiza Neto Jorge que o poema ensina a cair, e
devo a António Ramos Rosa a benção de uma verdade: não posso
adiar o coração.
O papel pede-me um ponto final.
Antes disso, no entanto, ofereço-vos, em versão de Jorge
Sousa Braga, três versos, tenros e luminosos, de Issa Kobayashi:
Dia de primavera-
A porta das traseiras
Abre-se sozinha
(in) Jornal “ Terra Nostra” de 19.03.2010
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