“Pensas que nunca te
vai acontecer, que não te pode acontecer, que és a única pessoa no mundo a quem
essas coisas nunca irão acontecer, e depois, uma a uma, todas elas começam a acontecer-te,
como acontecem a toda a gente. Fala agora, antes que seja tarde, e depois
espera poder continuar a falar até que não haja mais nada para dizer. Afinal de
contas, o tempo está-se a esgotar. Talvez não seja pior pores de lado por agora
as tuas histórias e tentares passar em revista o que foi para ti viver dentro
deste corpo desde o primeiro dia de que tens memória de estar vivo até ao dia
de hoje. Um catálogo de dados sensoriais. Aquilo a que se poderia chamar uma fenomenologia
da respiração. É um facto
incontestável que já não és jovem. Dentro de um mês vais fazer sessenta e
quatro anos e, sem seres excessivamente velho, sem teres aquilo que qualquer
pessoa designaria por uma idade avançada, não podes deixar de pensar em todos
aqueles que não conseguiram ir tão longe como tu. Aí está um exemplo das várias
coisas que nunca poderiam acontecer, mas aconteceram mesmo.”
Paul Auster, incansável criador de ficções e de personagens inesquecíveis, vira
agora o olhar para si próprio e para o sentido da sua vida. As descobertas da
infância e as experiências da adolescência, o compromisso com a escrita – que
marcou a sua entrada para a idade adulta –, as viagens, o casamento, a
paternidade, a morte dos pais… Uma vida que transborda das páginas deste Diário
de Inverno, um definitivo autorretrato construído com a paixão e a
transbordante criatividade literária que são as marcas distintivas da
identidade deste escritor amado pelos leitores e admirado pela crítica.
Diário de Inverno, Paul Auster, Ed. Asa.
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