«Caríssima D,
Bem, estou aqui há um mês, no sítio mais lindo que possas
imaginar. Uma vista de oliveiras e ciprestes, uma ilhota e o mar. Há dias em
que o céu está tão límpido e azul e o sol tão quente que podia ser junho. De
vez em quando sopra um vento da Sibéria e o mar por baixo da minha janela agita-se.
O local em que me encontro é ideal para escrever,»
Debaixo do Sol, As cartas de Bruce Chatwin escolhidas e
editadas por Elizabeth Chatwin e Nicholas Shakespeare, Ed.Quetzal
«Nunca
mostrava a ninguém o seu trabalho até se sentir satisfeito com ele, mas lia-mo
em voz alta. Tudo devia fazer sentido e fluir com facilidade. As cartas são os
únicos textos que ele não refez. Na sua opinião, escrever era uma labuta. Um
computador facilitava-a em demasia.
E agora que a comunicação se tornou tão fácil
e rápida com os telemóveis e o correio eletrónico, já ninguém escreve cartas. Não
há apontamentos dos meninos da escola para guardar como se fossem tesouros e
porventura não há cartas de amor nem relatos de viagens. Alguém imprime as
comunicações que recebe para as conservar?Por isso, as cartas de Bruce, que ele escreveu desde muito novo até ao fim da vida, constituem um derradeiro exemplo de uma forma tradicional de comunicação que agora pode desaparecer.»
Elizabeth Chatwun , Prefácio, Debaixo do Sol.
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