A
temática de Minima Azorica O meu mundo é deste reino, livro de
ensaios da autoria de Onésimo Teotónio Almeida, incide na afirmação de uma identidade
específica: a açoriana.
Na
obra supramencionada, Onésimo Almeida realça a quão problemática fora a
aceitação da reflexão em torno da tese da identidade, pelo que foram
necessários longos períodos de tempo para que se verificasse o estabelecimento
da mesma. A este propósito é fulcral fazer referência ao ensaio intitulado Minima Azorica, ou a fala de açorianos no
meio do mar patente no terceiro volume da obra BorderCrossings Leituras Transatlânticas, da autoria do ensaísta
Vamberto Freitas que afirma: “[…] Levou
muitos séculos para nomearmos o que nos aconteceu e nos moldou como povo- a
açorianidade […]”.
Não
obstante viver no continente americano, Onésimo Almeida revela-se incapaz de
esquecer a sua origem açoriana, razão pela qual alega: “[…] Jamais escondi que os Açores me foram e são, ainda e sempre, um
lugar íntimo. […] Os primeiros vinte e dois anos de vida imprimem um caráter a
qualquer um […]”. Uma das diversas ideias a destacar da sua obra assenta,
sem dúvida, no desinteresse do público continental face à cultura açoriana e,
consequentemente, na irracionalidade da insistência em obter tal interesse. É, precisamente, neste contexto que o Onésimo
Almeida afirma: “[…] Esforço vão, como
tantos outros no país. A partir de certa altura, achei mais sábio desistir. Não
vale a pena tentar captar o olhar e os ouvidos de quem vive há séculos obcecado
com a atenção dos estrangeiros […]”. Significa isto que de, acordo com o
autor, o importante é focarmo-nos na afirmação da nossa cultura em detrimento
da preocupação com a indiferença nacional. Esta indiferença perante a cultura
açoriana é reiterada por Vamberto Freitas: “[…]
Não tem sido nada fácil a nossa afirmação histórica e cultural como parte
fundamental e indesligável da restante nação”.
Segundo
Onésimo Almeida, a reforçar a existência da açorianidade surge a elevada
publicação literária açoriana, de qualidade, que tende a superar a nacional. É
neste âmbito que, de entre uma multiplicidade de autores, se alude a alguns açorianos,
tais como, Pedro da Silveira, Natália Correia, Vitorino Nemésio, Dias de Melo,
Daniel Sá, Fernando Aires, Antero de Quental, Emanuel Félix, José Enes,
Madalena Férin, Rogério Silva e José Martins Garcia, os quais em muito
contribuíram para a dinamização da história cultural literária. A açorianidade
transparece na forte influência que a geografia e os elementos físicos que a
compõem exercem sob a escrita dos autores mencionados. Quer isto dizer que, de
acordo com autor, o isolamento, as tempestades, os vulcões, as chuvas
prolongadas e os cataclismos açorianos produzem um ambiente específico que
molda a cultura e, por conseguinte, a escrita que, assim, apresenta traços
peculiares. São destes elementos climatéricos que decorre a predominância da
melancolia e da fatalidade na produção literária açoriana.
A
necessidade de afirmação da identidade açoriana é fruto do confronto com a realidade
cultural exterior, representada pelo continente português, do qual resulta a
consciencialização açoriana das diferenças existentes nessa mesma realidade e a
consequente necessidade de afirmação de uma identidade distinta. Deste modo,
faz todo o sentido o subtítulo da obra Minina
Azorica: O meu mundo é deste reino.
Sara Simão
Helena Frias
Ponta Delgada 14 de julho, 2016
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