quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Livraria SolMar no Público


Henry James nasceu em 1843, na cidade de Nova Iorque, e morreu em Londres, em 1916. Na expressão de Jorge de Sena, nasceu norte-americano e morreu inglês.
James publicou dezenas de romances, contos e novelas, escreveu poderosíssimas páginas, criou encantadoras personagens e os seus escritos constituem uma deliciosa leitura. Os seus livros baseiam-se em observações psicológicas subtis de indivíduos que passam por situações emocionais intensas. A relação entre a América “ingénua” e a Europa culta, e os contrastes entre os seus valores morais e estéticos eram tema favorito de Henry James, talvez consequência de uma vida repartida entre os dois lados do Atlântico.
A novela retrata a menina Daisy Miller, “ surpreendente e admiravelmente bonita”, uma jovem americana, liberal, de modos desfasados do seu tempo, coquete, mas honesta. O seu contemplativo enamoramento por Winterbourne, um norte-americano, um rico herdeiro que se movimenta entre os códigos restritos da compostura e timidez, será vítima da inevitável regulação social.
Nas opulentas estâncias de veraneio europeias, nas margens do lago de Genebra, e na Cidade Eterna “pelas cínicas ruas de Roma”, Winterbourne contemplava e desencontrava Daisy no afago de uma brisa inocente e cruel. Debaixo do enredo melodramático da novela, Henry James revela, magistralmente, e a mais subtil tragédia da inocência perdida e dos sonhos desfeitos.

Texto de José Carlos Frias (in) Público, 19 Agosto de 2011, Daisy Miller, Colecção Não Nobel.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Marca de Água


«Permitam-me que o reitere: a água é igual ao tempo e fornece à beleza o seu duplo. Parcialmente de água, também nós servimos da mesma forma a beleza. Aflorando a água, esta cidade apura as feições do tempo, embeleza o futuro. Nisso consiste o papel desta cidade no universo. Porque a cidade é estática, ao passo que nós nos movemos. A lágrima é disso a prova. Porque nós passamos e a beleza fica. Porque nos dirigimos para o futuro, enquanto a beleza é o eterno presente. A lágrima é a nossa tentativa de permanecer, de ficar para trás, de nos fundirmos com a cidade. Mas isso é contra as regras. A lágrima é um retrocesso, um tributo do futuro ao passado. Ou então é o resultado que se obtém quando se subtrai a maior da menor parcela: a beleza, do homem. O mesmo vale para o amor, porque também o nosso amor é maior do que nós.»

Marca de Água de Joseph Brodsky.

sábado, 13 de agosto de 2011

Inferno


«Diz: --Tudo é inútil, se o último local de desembarque tiver de ser a cidade infernal, e é lá no fundo que, numa espiral cada vez mais apertada, nos chupar a corrente.
E Polo: -- O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver un, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.»

As Cidades Invisíveis de Italo Calvino.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Leitura

«A essência do acto perfeito de leitura é, como vimos, de reciprocidade dinâmica, de resposta à vida do texto. O texto, embora inspirado, não pode ter uma existência significativa se não for lido (que estímulo de vida existe num Stradivarius que não é tocado?). A relação do verdadeiro leitor com o livro é criativa. O livro tem necessidade do leitor tal como este tem necessidade do livro.»
George Steiner, Paixão Intacta.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Possibilidade

Jorge Molder

«Continuo a fazer de conta que não sou cego, continuo a encher a minha casa de livros. Há dias ofereceram-me uma edição de 1966 da Enciclopédia Brockhaus. Senti a presença desse livro na minha casa, senti-a como uma espécie de felicidade. (...) Senti como que uma gravitação amistosa. Penso que o livro é uma das possibilidades de felicidade concedida aos homens.»

J.L.Borges, O Livro.