segunda-feira, 28 de maio de 2012

Hoje na SolMar lançamento borderCrossings leituras transatlânticas, de Vamberto Freitas

" As Ilhas Desconhecidas" pela objectiva de Jorge Barros




O Casino Terra Nostra, nas Furnas, acolheu ontem, no âmbito das comemorações do Dia da Região, o lançamento de um álbum com o título “As Ilhas Desconhecidas: Notas e Paisagens”, o clássico da literatura portuguesa, assinado por Raul Brandão, que Jorge Barros ilustrou com fotografias inéditas da sua autoria.
Trata-se de um volume ímpar, que resulta do levantamento fotográfico, levado a cabo por Jorge Barros, entre 1988 e 2011 por todo o arquipélago. Neste livro, a sua objetiva capta, da forma singular que o carateriza, a paisagem natural e a vivência humana das ilhas, propiciando igualmente uma releitura da própria obra que lhe serve de (pre) texto.

Já está à venda na Livraria SolMar.

sábado, 19 de maio de 2012

Ar de Dylan



"Vílnius evocou a recordação dum graffiti que parecia acabado de escrever por Guy Debord com a própria mão: Ne travaillez jamais (não trabalhem nunca). E Débora disse que, numa época de crise como aquela em que viviam, talvez o mais alto a que eles pudessem aspirar fosse encarnar o espírito da crise. Agiriam sempre de tal forma que, sempre que tivessem uma ideia, resistiriam a levá-la à prática. Não haveria ninguém no mundo tão consciente da desilusão que se segue a toda a obra humana, e isso faria que evitassem qualquer acção evitando assim o fracaso. Posto que havia crise, ser a própria crise podia salvá-los dela. Depois me dirás, disse Vílnius, como é que se faz para nos convertermos na crise".

Enrique Vilas - Matas, Ar de Dylan, Ed. Teodolito, 2012.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Convite


Daniel Gonçalves apresenta o seu novo livro dia 16 Maio, pelas 20.30, na livraria.
A apresentação da obra estará a cargo de Renata Correia Botelho.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A memória inventada num tempo de guerra


 “…Vais regressar a um país de bufos e beatas. Uns vão querer saber como anda a pátria por estes lados. As outras hão-de perguntar-te se os pretos vão à missa e se deixaste algum filho atrás. Aqueles poucos da tua idade que escaparam a África e à América farão, um dia, a pergunta desde sempre fisgada; ‘E as pretas’? Vais dizer o quê? Onde começarás a mentir para comprar o teu sossego? Quando precisares de fugir, talvez o regresso a este tempo seja o teu último refúgio, a forma de proteger o espaço íntimo a que tens direito.”

África Frente e Verso era o livro de Urbano Bettencourt que (nos) faltava, despeja força e sangue, raiva e amor numa consistente e volumosa obra que no seu todo me parece um clarão que ilumina como poucas toda uma sociedade, e a (pouca) sorte de sucessivas gerações. Faz parte de uma literatura cuja arte maior tem sido sempre a coragem de desconstruir os meandros submersos da nossa sociedade, ante as forças mais arcaicas que até há poucos anos nos dominaram, essas que apontam sempre o estrangeiro para quem não estava ou está satisfeito, ou não conseguia nem consegue meter-se nos seus espertíssimos esquemas de enriquecimento, ou sequer numa vida de mera sobrevivência quieta e legítima. Poderá ser que a poesia e prosa deste autor não patenteie ordinariamente ideologias, como gostavam os nossos neo-realistas. Será precisamente a sua serenidade e hábeis recursos literários que primeiro nos fazem admirar a sua beleza, astúciae originalidade – e só depois digerir as suas ideias. Qualquer leitor mais atento irá inevitavelmente além do puro prazer do texto. O resto está escondido no subtexto, tão actuante como palavra a preto e branco.

Vamberto Freitas (in) Açoriano Oriental, 11 Maio, 2012.

Urbano Bettencourt, África Frente e Verso, Ponta Delgada, Letras Lavadas Edições, 2012.


sábado, 5 de maio de 2012

A Confissão da Leoa


"Tristeza não é chorar. Tristeza é não ter para quem chorar"


"Os nossos jovens colegas trabalhavam no mato, dormindo em tendas de campanha e circulando a pé entre as aldeias. Eles constituíam um alvo fácil para os felinos. Era urgente enviar caçadores que os protegessem. Os caçadores passaram por dois meses de frustração e terror, acudindo a diários pedidos de socorro até conseguirem matar os leões assassinos. Mas não foram apenas essas dificuldades que enfrentaram. De forma permanente lhes era sugerido que os verdadeiros culpados eram habitantes do mundo invisível, onde a espingarda e a bala perdem toda a eficácia. Aos poucos, os caçadores entenderam que os mistérios que enfrentavam eram apenas os sintomas de conflitos sociais que superavam largamente a sua capacidade de resposta. Vivi esta situação muito de perto. Frequentes visitas que fiz ao local onde decorria este drama sugeriram-me a história que aqui relato, inspirada em factos e personagens reais."

Mia Couto, a confissão da leoa, Ed. Caminho, 2012.


terça-feira, 1 de maio de 2012