quarta-feira, 31 de março de 2010

Já Mentiram?


Já mentiram sobre livros que leram?Aqueles que mais pessoas disseram ter lido sem que isso fosse verdade. Sendo Guerra e Paz de Leon Tolstoi, seguido do Ulisses de James Joyce, os livros que segundo uma sondagem levada a cabo pelo site do Reino Unido World Book Day, revelou que dois terços dos inquiridos disseram ter lido sem que isso fosse verdade. A razão da mentira, na maior parte dos casos, era simples, disseram ainda os inquiridos; impressionar o interlocutor. Outras conclusões do inquérito, 41 por cento dos que responderam às questões confessaram ter ido espreitar à ultima página para saber o que acontece antes de terem terminado o livro, e 96 por cento admitiram ter ficado acordadas até tarde para acabar um livro.
Ainda bem que a suposta leitura de um livro serve para impressionar o interlocutor.

terça-feira, 30 de março de 2010

Feliz Eleito

José Ferraz de Almeida, Moça com livro
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“Mas, passado um bocado, comecei a fazer cálculos de cabeça, com um resultado bastante inesperado. Antes de entrar, vê bem, disse para comigo que se lesse um livro por dia, o que seria com certeza bastante absorvente, acabaria, nalgum momento, por chegar ao fim, e poderia então aspirar a uma certa posição na vida intelectual, mesmo que de vez em quando saltasse um ou outro. Mas o que pensas que o bibliotecário me respondeu quando vi que o que nosso passeio nunca mais acabava e lhe perguntei quantos volumes continha exactamente esta absurda biblioteca? Três milhões e meio, respondeu-me! Quando ele me disse isso estávamos perto dos setecentésimo milhar: a partir desse momento não cessei de fazer cálculos com lápis e papel: e segundo as minhas previsões precisaria de dez mil anos para concluir o meu projecto.”

O Homem Sem Qualidades, Robert Musil, Ed D. Quixote.

A constatação do número infinito de leituras possíveis, como não pensar, face à incalculável quantidade de livros publicados, que qualquer empreitada de leitura, mesmo multiplicada por toda uma vida, é uma angustia, considerando todos os livros que permanecerão para sempre ignorados.
A leitura é, mesmo para os grandes leitores que a ela consagram a sua existência, o gesto de abrir um livro que esconde sempre o gesto inverso, que se efectua simultaneamente e que por isso mesmo passa despercebido: o gesto involuntário de não abrir aquele preterido, em vez do feliz eleito.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Macaquins no Sotão


Já pensou que na sua colecção de livros de quadradinhos pode ter um livro muito valioso. No mês passado, uma BD do Batman, de 1939, foi comprada num leilão por €796.566.00. O homem morcego venceu o Super-Homem de outra revista mais antiga, que na mesma semana tinha sido vendida por €735.500. Macaquins, autênticos tesouros no sótão.

Apreciá-los


Livros que não se esquecem, existem obras que marcaram a história da literatura, assim como existem personagens cuja vida se estende muito além das páginas que primeiro habitaram. Dizia Ítalo Calvino que os clássicos são: “aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para apreciá-los”.”
Ler ou reler os clássicos são sempre boas opções, afinal Calvino, também ele autor de obras que conquistaram um lugar na história, sabe certamente do que fala.
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Porquê Ler os Clássicos, Italo Calvino, Ed. Teorema

domingo, 28 de março de 2010

Lady Sings The Blues

“ Pode-se estar toda vestida de cetim branco com rosas no cabelo e longe como tudo das canas de açúcar e mesmo assim sentir que se está a trabalhar numa plantação.
De qualquer maneira os músicos brancos andavam a swingar pela rua 52 de uma ponta à outra, mas as únicas caras pretas que por lá havia eram Teddy Wilson e eu. Teddy tocava piano nos intervalos no Famous Door e eu cantava. Não havia apanha de algodão entre o Leon and Eddie,s e o East River, mas parecia mesmo que estávamos numa plantação. E éramos obrigados não só a ver isso tudo, mas também a viver com isso. Assim que acabávamos de fazer o nosso número, nos intervalos, tínhamos que sair pelas traseiras e ficar sentados na rua.”

Lady Sings The Blues, Billie Holiday, Ed. Antígona

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O lançamento da primeira edição deste livro no verão de 56, causou certa polémica. As críticas estranharam várias passagens, como as de prostituta na adolescência, as descrições da sua personalidade e da sua mãe, no entanto este livro contribuiu para um aumento na frequência dos concertos e na venda de dos discos. Lady Sings the Blues, é pois uma metáfora feliz a anunciar um rol de tristezas contadas por uma senhora cantora. Billie Holiday, conta 41 dos 44 anos que viveu, numa linguagem crua, simples com muito calão, a vida que levou com aquela cor de pele, clara para os pretos, escura para os brancos. Mas os testemunhos legados pela cantora, fundamentais para entender o jazz, a sua discografia é a melhor amostra de como um solista usa e recria um tema, com tremenda intensidade e personalidade, num estilo muito expressivo e amargo, que tal como o livro roça muitas vezes o trágico.

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“Foi há muitos anos, ainda Billie estava viva, mas não me esqueço da reacção do locutor da Rádio Renascença quando uma noite metemos no ar um disco dela:
«Está na rotação errada!», disse-me aflito.
«É assim mesmo!», disse-lhe discretamente.”
José Duarte

Jaze Duarte


Falar muito
Dezembro de 1958

As primeiras palavras são de saudação a todos, sem distinção de gostos musicais. O anseio principal é que este programa ( Cinco Minutos de Jazz) venha a agradar a gregos e troianos, saciando, por um lado, os que gostam de jazz, aproximando, por outro, os que, sem o conhecerem, o criticam e desprezam. Será um esforço de divulgação da verdadeira música de Jazz a juntar a poucos que em Portugal se têm feito, entre nós existem, só em Lisboa, dois clubes e uma modesta publicação periódica exclusivamente dedicada ao jazz. Na rádio transmitem-se três pequenos programas. Parafraseando Alexis Carrel, «O Jazz, esse desconhecido» parece ser título bom para este programa. E, pronto, por hoje já falamos muito e, como jazz é música, passemos a ouvi-la.
Em primeiro lugar, o nosso indicativo: «Mahogany Hall Blues Stomp» por Loius Armstrong e os seus «All Stars».

João Na Terra Do Jaze, José Duarte, Ed. Sextante Editora.


“Um, dois, três, quatro… isto não acaba, Zé, vós todos de algum modo resistentes.”
José Mário Branco

sábado, 27 de março de 2010

Dia Mundial do Teatro

Aventuras Lusitanas


Em 1957, Edgar P. Jacobs levou Blake &Mortimer à nossa ilha de São Miguel, para o Enigma da Atlântida, não é contudo a primeira vez que um herói da BD franco-belga tem Portugal representado nas pranchas. Jean Granton, criou para Michel Vailltant, na célebre revista Tintim, o Rallye em Portugal, e os lusitanos passaram pelos álbuns de Astérix, sem esquecer o célebre Sr. Oliveira da Figueira, que Hergé imortalizou nas aventuras de Tintim. Agora é a vez de Lois Lorcey, um herói do século XVII visitar Portugal, personagem criado por Jacques Martin, recentemente falecido e que ficou conhecido universalmente pelas aventuras de Alix .
Martin acompanhou o projecto no princípio, mas apenas a introdução é assinada por ele, sendo o texto e os desenhos do português Luís Diferr. O álbum chama-se Portugal, e terá edição em meados de Abril, pela Casterman, devendo a edição portuguesa pela ASA, chegar às livrarias em inícios de Maio. Um olhar histórico sobre Portugal de finais do século XVII e inícios do século XVIII, visitando lugares como o Convento de Mafra, a Torre de Belém, o Convento de Cristo, entre muitos outros lugares de aventura.

MUSEUMS


ABE, ACEBO X ALONSO, AIRES MATEUS, AOKI, ARM, BAN, BEHNISCH, CHIPPERFIELD CHEN, COOP HIMMELB, DELUGAN MEISSL, ELLIS WILLIAMS, GEHRY, GONZÁLEZ, GRAFT, GRIMSHAW, HADID, HERZOG & DE MEURON, HOK, ISOZAKI, VANDREIKE, MADER, MAKI, MANGADO, MEIER, MENDES DA ROCHA, SIZA, MORI, MVRDV, NIETO SOBEJANO, NISHIZAWA, OLGIATI, PEI, PIANO, SANNAA, SCHNEIDER, MONEO, FINSTERWLADER, SNOHETTA, SOUTO MOURA, SSM ARCHITEKTEN STOUT, TSCHUMI, UNSTUDIO, URBANUS, WANG SHU, ZHANGLEI.
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ARCHITECTURE NOW! MUSEUMS , Taschen

sexta-feira, 26 de março de 2010

Jesus Tanto Livro

“De todas estas, para mim, naturalmente, a mais interessante é a Book-Season, a estação dos livros.
Isto não quer dizer que fora desta estação (Outubro a Março) se não publiquem livros em Inglaterra- longe disso, Santo Deus! Como não quer dizer que fora da London-Season se não dance, ou fora da Travelling-Season se não viaje. Significa simplesmente que as grandes casas editoras de Londres e de Edimburgo reservam, para as lançar nesta época, as suas grandes novidades. Um livro de Darwin, um estudo de Mantthew Arnold, um poema de Tennyson, um romance de Georges Meredith serão evidentemente guardadas para a estação. De resto, durante todo o ano, não se interrompe, não cessa essa publicidade fenomenal, essa vasta, ruidosa, inundante torrente de livros, alastrando-se, fazendo pouco a pouco, sobre a crosta da terra vegetal do globo, uma crosta de papel impresso em inglês.
Não sei se é possível calcular o número de volumes publicados anualmente em Inglaterra. Não me espantaria que se pudessem contar por dezenas de milhares. …
Enfim, ao que parece, é uma formidável e grandiosa estação de livros. Aos romances, nem aludo: montões, montanhas- e monturos.!
Uma pastora meio selvagem das Ardenas, que nunca vira outro espectáculo mais grato ao seu coração do que as cabras que guardava, foi um dia trazida das suas serranias a Paris, quando no boulevard passava, com a tricolor ao vento, um regimento em marcha. A pobre donzela fez-se branca como a cera, e só pôde murmurar, numa beatitude suprema.
-Jesus!,tanto homem!
Eu sei que estou aqui fazendo o papel ridículo desta pastora, e balbuciando, com a boca aberta como se chegasse também das Ardenas:
-Jesus!, tanto livro!

Cartas de Inglaterra, Eça de Queirós


Da longa estada em Inglaterra, fica o humor inglês que perpassa pelos seus livros, expondo a ridículo situações de carácter social. Cartas de Inglaterra pertencem a este período e vão sendo enviadas a partir de 1877, em forma de crónicas, para o jornal do Porto.
E que crónica, Eça de Queirós, escreveria hoje ao ver a grandiosa estação de livros em Portugal?
Como ele diria: Mas o resto da comparação complete-a, antes, o leitor astuto.”

quinta-feira, 25 de março de 2010

Quando o Mar Galgou a Terra

Excerto do filme de 1954, Quando o Mar Galgou a Terra: Realização: - Henrique Campos. Produção: - Filmes Albuquerque. Argumento: - Armando Cortes Rodrigues. Obra Original: - "Quando o Mar Galgou a Terra". Autor Original: - Armando Cortes Rodrigues. Adaptação: - Henrique Campos. Fotografia: - João Moreira.Elenco: - Mariana Villar, Fernando Curado Ribeiro, Alves da Costa, Brunilde Júdice, Paulo Renato.Realizador motivado pela paisagem, Henrique Campos rodou Quando o Mar Galgou a Terra no arquipélago dos Açores, com incidência para as Furnas, em São Miguel. Em causa, a obra de Armando Cortes Rodrigues - “o drama duma rapariga na defesa da sua honra”, esmaltado pelo “amor dos pobres à terra e ao trabalho”. Assim expunha publicitariamente a produtora Filmes Albuquerque. Não ficaram de fora os testemunhos documentais, com realce para a Procissão do Senhor Santo Cristo dos Milagres.Bravura, exaltação. O mar, a terra; um homem e uma mulher. Campos logra uma dimensão épica instilada no conflito regional - cujo simbolismo esbate, no entanto, quer a conflitualidade inerente à estrutura comunitária, quer a espectacular imponência configurada pela Ilha Verde. Victor Bonjour elaborou o fundo musical, com excertos - caso raro no cinema português da época - de R. Wagner e A. Tchaikovski. O Grupo Coral do Colégio de São Francisco Xavier (Ponta Delgada) entoou as melodias religiosas; com intervenção instrumental por Francisco Sabino, Bento Lima; e cantares folclóricos de Carreiro da Costa e António de Aguiar. A crítica foi condescendente para este modesto sucesso popular.

Fonte: Cinema Português

Embarquei com Ele


Este livro fascinante e inesquecível é o relato ao mesmo tempo imaginário, real e cultural, de uma viagem aos Açores em busca dos últimos baleeiros.
Relatos breves, fragmentos, transcrições e apêndices compõem A Mulher de Porto Pim, um livro agora reeditado. Um belíssimo artefacto literário com estrutura tão dispar quanto profundamente unitária. Neste espaço em que Tabucchi se move, convivem a verdade e a ilusão, realidade e a metáfora. Concretas e visíveis são as baleias, mas também poderosos arquétipos que atravessam lendas e literatura; certas e evidentes são as tempestades, mas os naufrágios são sobretudo os das aventuras inacabadas, histórias impossíveis, vidas destroçadas.

“ Fui lá (aos Açores) com uma mitologia: ver como era uma caça à baleia.
E outro motivo: ver os lugares de Antero, e por isso comecei por São Miguel, visitei a ilha, o cemitério, a casa e o sítio onde ele se suicidou. Depois, como não consegui encontrar por lá baleeiros, comecei a tentar as outras ilhas, até que consegui encontrar um, no Faial. E embarquei com ele…”
Antonio Tabucchi, (in) Jornal Expresso

A Mulher de Porto Pim, Antonio Tabucchi, Ed, Difel

O Delírio da Linha




Loredano: O Delírio da Linha

“A força dos desenhos de Loredano equivale a sua capacidade de fazer ver antes de ler e, assim, sugerir sentidos subliminares ao leitor. Virar uma página e se deparar com um desenho seu é fatal para o olhar: toda a página se desenha e se configura pela sedução e ritmo da sua linha.
A caricatura nasce no intervalo entre a aparência pública e a fisionomia privada. Ela inventa a aparência e desloca a fisionomia. A caricatura obriga o olhar a perceber no rosto o que não está nele, mas que passa a ser percebido uma vez realizado o desenho, aderindo implacavelmente à fisionomia do retratado. Alguns «desenhos» de Loredano são definitivos, concebem um olhar e servem como uma espécie de cânone visual para futuros desenhistas. Quem quiser desenhar hoje um Walter Benjamin, um Machado de Assis, uma Clarice Lispector, um Fernando Pessoa não pode desconhecer e não se deixar influenciar, para o bem e para o mal, pelos vários já realizados por Loredano.”

Luiz Camillo Osorio, Curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

Loredano, Caricaturas, Ed. Assírio&Alvim.

quarta-feira, 24 de março de 2010

O Estado da Cultura


«Ás vezes, as formas indirectas de apoio são as mais úteis. Diz João Rodrigues, editor da Sextante. E, entanto, beneficiaria se, por exemplo, o Estado desse alguns benefícios fiscais aos pequenos livreiros, travando assim a “agonia do mercado das livrarias independentes”. São estas livrarias que dão espaço a produtos diferentes dos livros de grande rotação que invadem as grandes livrarias e os hipermercados e que “expulsam os clássicos, os jovens escritores a grande literatura”. Para os pequenos editores, as pequenas livrarias são um espaço para chegarem aos seus públicos. A asfixia de uns leva à dos outros.»
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Alexandra Prado Coelho, (in) Jornal Público, 24 Março

Nódoa

O Rapaz Nódoa, Tim Burton
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Sei que às vezes o incomoda
não saber correr nem voar,
mas a sua grande arrelia
é a conta da lavandaria.
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Nas suas fantasias cinematográficas, Tim Burton desvenda um universo de estranhas criaturas, aliando o onírico ao macabro. Neste livro, o autor forja um elenco de crianças enternecedoramente desajustadas que se esforçam por ser amadas neste terrível mundo cruel. São vinte e três histórias de humor sinistro, ilustradas a caneta, lápis e aguarela, em que as personagens, heróis com corpos deformados e hábitos invulgares, projectam os nossos próprios sentimentos de alienação, fazendo-nos rir de uma infância que julgamos ter deixado para trás.

A Morte Melancólica Do Rapaz Ostra & Outras Estórias
Editora: Antígona

Le Corbusier


O MODULOR MODULOR 2 Le Corbusier
O Modulor (1.º vol.), originalmente publicado em 1950, incide na explicação do sistema de medidas concebido por Le Corbusier entre 1943 e 1950 designado Modulor. Baseado nas dimensões do corpo humano e da matemática, trata-se de uma fórmula de coerência a partir da qual é possível gerar duas séries de medidas em harmonia com o corpo humano e entre si, estabelecendo uma ponte entre dois sistemas métricos: o sistema anglo-saxónico e o métrico decimal.
Modulor 2 (1955) analisa o impacto e as diferentes reacções provocados nos leitores pelo volume anterior. Obra de uma universalidade e intemporalidade ímpares, tornou-se constante objecto de estudo em todo o mundo.
Uma edição da Orfeu Negro.

terça-feira, 23 de março de 2010

Vampiros


Como é do conhecimento geral, os livros, além de terem como factor de degradação as diferenças de humidade e temperatura, têm também um outro inimigo: os papirófagos( insectos que se alimentam de papel). No edifício, A Casa da Livraria, nome por que era conhecida a Biblioteca Joanina, em Coimbra, com três andares alberga cerca de 200.000 volumes, havendo no piso nobre cerca de 40.000 volumes. Todos os cuidados são poucos, e prendem-se com o facto de estarmos perante livros antigos, as próprias estantes são feitas de madeira de carvalho, que , para além de ser extraordinariamente densa, dificultando a penetração destes bichinhos, exala também um odor que os repele. Os livros contam ainda com mais um aliado neste combate diário pela conservação; com efeito, no interior deste templo de livros, habita uma colónia de morcegos, vampiros, que durante a noite, se vão entretendo a comer os insectos que por ali aparecem, mantendo, portanto, todos estes volumes livres do seu ataque.
Nós que pensávamos que os vampiros só atacavam os tops de vendas de livros, com as suas sagas suculentas, Twilligt de Stephenie Meyer, o agridoce travo de sangue, colocou os adolescentes a devorarem livros antes do nascer do sol.
Ficamos também a saber que os papirófagos, são insectos, que apesar de não terem cérebro devoram livros , e que os vampiros, definitivamente são amigos dos livreiros.

Espremedor de Laranjas


“ O desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas, fazem-me a mesma pergunta há 15 anos.
O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, a roda, esse tipo de objecto que, uma vez inventado, não muda jamais. Não se pode fazer uma colher que seja melhor que uma colher. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído, o livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os electrónicos chegaram, mas percebemos que a sua vida útil não passa de dez anos.
O e-book, pode eliminar algum género de livros e de documentos: os quarenta volumes da enciclopédia para os quais era necessário arranjar um quarto a mais nos nossos apartamentos, isso acabou certamente, terão a gramática no seu computador portátil. Mas nada eliminará o amor ao livro.
Se passar duas horas no seu computador a ler um romance, os seus olhos tornar-se-ão bolas de ténis. Além disso, o computador depende da presença da electricidade e não pode ser lido numa banheira, nem mesmo deitado de lado na cama.
Das duas, uma: ou o livro permanecerá o suporte de leitura, ou existirá alguma coisa que se assemelhará àquilo que o livro nunca deixou de ser mesmo antes da invenção da impressa. As variações em torno do objecto livro não lhe modificaram a função, nem a sintaxe, há mais de quinhentos anos.
Philippe Starck tentou inovar no campo dos espremedores de laranjas, mas o seu modelo, para salvaguardar uma certa pureza estética, deixa passar as pevides.”
Umberto Eco, (in) Jornal Estado de São Paulo.

Umberto Eco numa entrevista ao jornal brasileiro “Estado de São Paulo”, a quando da publicação no brasil do livro, “Não Contem com o Fim do Livro”, com edição portuguesa da editora Difel, com o título “ A Obsessão do Fogo”, uma homenagem sorridente à galáxia Gutenberg. O livro em que o académico italiano Umberto Eco, aceita o convite do colega francês, Jean-Phillippe de Tonac, para discutir com ele e com o argumentista Jean-Claude Carrière, se vamos ou não acabar com os livros. Estas conversas encantarão todos os leitores e apaixonados do objecto livro. E não é impossível que alimentem também a nostalgia dos possuidores de e-books.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Filme do Desassossego


Carta a Armando Cortes-Rodrigues, em 4 de Outubro de 1914:

…Nem lhe mando outra pequenas coisas que tenho escrito nestes dias. Não São muito dignas de serem mandadas, umas; outras estão incompletas; o resto tem sido quebrados e desconexos pedaços do Livro do Desassossego. Verdade seja que descobri um novo género de paulismo. …
O meu estado de espírito actual é de uma depressão profunda e calma. Estou há dias ao nível do Livro do Desassossego. E alguma coisa dessa obra tenho escrito. Ainda hoje escrevi quase um capítulo todo.

Em 19 de Novembro de 1914:

O meu estado de espírito obriga-me agora a trabalhar bastante, sem querer, no Livro do Desassossego. Mas tudo fragmentos, fragmentos, fragmentos.


Chama-se o “Filme do Desassossego”, versão para cinema do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, semi-heterónimo de Fernando Pessoa. O projecto é do cineasta João Botelho, que para explicar como está a rodar o filme, indicou ter encontrado no livro três coisas maravilhosas, três indicações cinematográficas.
“Uma é sobre a luz, a mesma luz que ilumina a face dos santos deve iluminar os sapatos dos homens comuns, isto é uma regra fundamental no cinema que eu amo. A segunda é sobre a distorção do tempo, o tempo no cinema é como nos sonhos, nunca é o tempo real. E a terceira é a coisa mais brilhante de todas, experimentem ler o Livro do Desassossego em voz alta”

Sob Escuta

domingo, 21 de março de 2010

Dia Mundial da Poesia - Álamo Oliveira


Mar com poeta dentro


o corpo da ilha não tem nome
próprio de quem se rodeia de orvalhos antigos.
quando navega não tem
rumo nem destino.
no cais a penumbra branca desce
sobre a viagem adormecida.

desconhece-se que poeta foi ver o mar por dentro.
mas sabe-se quem grafitou com sonhos
os muros da solidão.

(in)nove rumores do mar
antologia de poesia açoriana contemporânea

Dia Mundial da Poesia - Urbano Bettencourt



Regressos, reencontros


Ouves a voz dessa mulher
nos dias que sobram de Setembro:
um rumor solar de asas
vindo de longe
como quem atravessou a harmonia inteira
do mundo
Ouves essa voz vibrando na manhã
e tudo em ti é regresso e onda:
os araçás da infância, os figos,
as sementes onde a vida espera a Primavera,
uma mulher cantando no balcão sobre o mar,
uma ilha defronte

Onde for o lugar de tudo isto e a memória
desse lugar,
ai encontrarás a raiz exacta
das palavras,
a seiva
de que a vida sustenta.

(in) Lugares Sombras Afectos

Dia Mundial da Poesia - Emanuel Jorge Botelho

ANOTAÇÕES , QUASE AVULSAS,
PARA O DIA 21


O poeta é um animal longo
desde a infância


Luiza Neto Jorge


Ao dobrar a última esquina de amanhã, pousa-se o andar
das horas no Dia Mundial da Poesia.

A poesia é a mãe de todas as sílabas.
E junta-as, à hora certa, para lhes dar alimento.

A poesia não enuncia.
Ela sabe que está dentro do que diz.

A poesia não dá nome à evidência
Toda a sua clareza é anterior ao visível.

A poesia sabe que a certeza dói.
É um golpe de arma branca, no sorriso dos espelhos.

A poesia nunca trai os segredos do mundo.
Apenas os coloca, sobre a mesa, como se fossem bagos de
trigo.

A poesia, só a grande poesia, pode ter o cheiro a alma.


Depois de amanhã, não irei ler nenhum poema.
Deixo a poesia de pousio, dou afago de lombada aos livros
onde ela mora, e digo-lhe da minha gratidão.
A minha vida deve-lhe anos de vida e a minha morte a cara
lavada.
Aprendi com Luiza Neto Jorge que o poema ensina a cair, e
devo a António Ramos Rosa a benção de uma verdade: não posso
adiar o coração.

O papel pede-me um ponto final.
Antes disso, no entanto, ofereço-vos, em versão de Jorge
Sousa Braga, três versos, tenros e luminosos, de Issa Kobayashi:

Dia de primavera-
A porta das traseiras
Abre-se sozinha


(in) Jornal “ Terra Nostra” de 19.03.2010

sábado, 20 de março de 2010

Como A Arte Antecipa A Ciência


O menino prodígio da divulgação científica “norte-americana”, o jovem Jonah Lehrer, é doutorado em neurociências e fez parte da equipa de Eric Kandel, Nobel da Medicina em 2000, mas já antes graduara-se em Literatura Inglesa e estudara também em Oxford, com uma famosa bolsa que é apenas atribuída a estudantes de excepção. Jonah Lhrer é editor da “Wired” e colaborador de publicações científicas de referência como a “ Nature”.

Proust era um Neurocientista é a aclamada estreia de Jonah Lehrer. A partir da obra de oito artistas, Lehrer pretende mostrar como a arte nos revelou os segredos da nossa mente muito antes de a ciência ter meios para o fazer. A forma como recordamos (Proust), ouvimos(Stravinsky) ou vemos (Cézanne) é explorada numa narrativa apaixonante, que ilumina o modo como percepcionamos a realidade. À luz deste livro, nunca mais leremos um romance de Virginia Wolf sem pensarmos na “consciência do eu”, ou um poema de Walt Whitaman sem evocarmos “o sentimento de si” de que nos falava António Damásio.

Paris, 1913, oito da noite, hora da estreia mundial de A Sagração da Primavera. Nesse mesmo ano, na mesma cidade, era publicado o primeiro volume de Em Busca do Tempo Perdido. Num ano apenas, a música e a literatura tinham mudado radicalmente de feição, e a arte de Stravinsky e de Proust antecipava, em quase um século, algumas das mais importantes descobertas da Neurociência.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Imprevisível Agora

Em novembro de 2008, os Estados Unidos da América elegeram um novo presidente. Mas o colapso de vinte anos de conservadorismo republicano significa que o país já está a conduzir uma auto-avaliação intensiva à trajectória da sua história; como caiu em numerosas crises e como uma América que começou como “a última esperança da Humanidade” acabou por ser tão desacreditada e difamada por quase todo o mundo.
O Futuro da América (Ed. Cicilização), escrito por um autor que passou metade da sua vida nos EUA, descreve sobre a sua identidade como nação e sobre o seu lugar no mundo. Schama traça a história por trás da crise actual descrevendo a história do excepcionalísmo americano, a “diferença americana” que tanto significa para o seu povo mas que o guiou tanto para calamidade como para o triunfo. O Futuro da América argumenta que, se quisermos mesmo saber o que está em jogo, temos de absorver e compreender a história da América, pois compreender é essencial para ter esperança.

“Ouvi-me, diz Obama, ouvi-me e alcançareis o futuro. Contudo, quando presto atenção, o que é ouço é o passado da América, não como um peso acorrentado á “mundança”, mas como o sólido piso acima do qual se desloca o elevado dirigível da sua retórica. O Futuro da América é todo ele visão, mistério, sem contornos definidos e alegremente ansioso. O passado da América rebenta de sóbria verdade. Entre os dois está o imprevisível Agora.”




Simon Schama é professor universitário de História da Arte e de História na Columbia University e autor galardoado de catorze livros traduzidos para vinte línguas. Simon já escreveu bastante sobre música, arte, política e gastronomia para publicações como o The Guardian, a Vogue e a New Yorker. A sua premiada obra televisiva, como autor e apresentador da BBC, abrange duas décadas e inclui a série A History of Britain e a série, galardoada com um Emmy, Power of Art.
O Futuro da América foi transmitido na BBC2 no outono de 2008.

Em Nome do Pai

“Pousei-te as mãos nos ombros fracos. Toda a força te esmorecera nos braços, na pele ainda pele viva. E menti-te. Disse aquilo em que não acreditava. Ao olhar amarelo, ofegante, disse que tudo serias e seríamos de novo. E menti-te. Disse vamos voltar para casa, pai; vamos que eu guio a carrinha, pai; só enquanto não puder, pai; vá, agora está fraco mas depois, pai, depois, pai. Menti-te. E tu, sincero, a dizeres apenas um olhar suplicante, um olhar para eu nunca mais esquecer. Pai.”

Morreste-me, José Luís Peixoto, Ed. Quetzal


O texto que deu a conhecer o jovem escritor José Luís Peixoto, é uma obra intensa, avassaladora e comovente. O relato da perda do pai. Um livro de culto, sobre uma dor que não pode deixar ninguém indiferente, ao mesmo tempo uma homenagem e uma memória redentora.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Pai

Sebastião Salgado

A casa onde às vezes regresso


A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos

durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo

tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração


José Tolentino Mendonça


quarta-feira, 17 de março de 2010

Choque na Educação


Esta provocante compilação de ensaios populariza pesquisas recentes que desafiam a sabedoria convencional acerca da educação. Os autores exploram habilmente uma série de temas de interesse para os pais, e as suas descobertas são muitas vezes surpreendentes. O conceito de educar os filhos, não baseados no senso-comum, mas sim na ciência. O livro de Po Bronson e Ashley Merryman, Choque na Educação (Lua de Papel), levanta uma série de questões: acerca da inteligência não acredite nos testes, ás razões que os levam a mentir quase sempre bem intencionadas, o sono- quanto mais dormem, mais inteligentes, o bullying- os maiores bullies são sempre os irmãos. Mas a polémica estalou com um dos dez tópicos da obra - o excesso de elogios que predomina na relação entre pais e filhos, foi capa da revista “New York Magazine” e deixou educadores perplexos. Se para os adultos o elogio constante funcionaria como garantia, assegurando que as crianças não desaproveitam os seus talentos, os autores dizem o contrário, dizer às crianças que são inteligentes não impede de ter um desempenho fraco, até as pode prejudicar.
Po Bronson, quando questionado sobre se o livro não confia de mais na ciência, o autor responde: “Não é uma questão de fé, cada capítulo do livro baseia-se em pesquisas com mais de dez anos, reproduzidas por vários especialistas. Há uma tendência para não questionar algumas tradições porque estão entre nós desde sempre. O que descobrimos foi que os instintos estão poluídos por uma mistura de esperanças vãs, preconceitos morais, modas, história pessoal e psicologia ultrapassada.”
O seu filho é especial, mas segundo o jornalista com base em investigação cientifica, se lhe diz isso pode prejudicá-lo.
No mínimo polémico, este novo olhar sobre a educação.

terça-feira, 16 de março de 2010

Festa do Chocolate da Colmeia no Solmar

Festa do Chocolate. Uma iniciativa da Colmeia dia 19 a 21 de Março
Praça central do Solmar Avenida Center.
Dia do Pai com Livros e Chocolate

A primeira operação é torrar o cacau. Para o fazer é conveniente utilizar uma bandeja de lata em vez do comal, pois o óleo que os grãos largam perde-se entre os poros do comal. É importantíssimo ter cuidado com este tipo de indicações, pois a qualidade do chocolate depende de três coisas, que são: que o cacau que se utiliza esteja em bom estado e não estragado; que se misturem na sua confecção diferentes tipos de cacau e, por fim, do seu grau de torrefacção. Quando o cacau já está torrado, limpa-se utilizado um crivo para separar a casca do grão. Por baixo da pedra onde se vai moer, põe-se um prato com uma boa chama e quando a pedra estiver quente, começa-se a moer o grão. Mistura-se então o açúcar, esmagando-o com um maço e moendo as duas coisas ao mesmo tempo. A seguir divide-se a massa em bocados. Com as mãos moldam-se as tabletes, redondas ou ao comprido, conforme o gosto, e põem-se a arrefecer. Com a ponta da faca podem fazer-se as divisões que se quiser.

Ingredientes Chocolate

2 libras Cacau Soconusco
2 libras Cacau Maracaibo
2 libras Cacau Caracas
Açúcar entre 4 a 6 libras consoante o gosto

Laura Esquivel, Como Água para Chocolate, Ed. Asa

O Mundo Alucinante






O jornalista e psicólogo Guillermo Fariñas, 48 anos, está sem comer nem beber há 18 dias, esta é a sua 23ª greve de fome, e um protesto contra a morte de Orlando Zapata, que sucumbiu ao 85ª dia de greve de fome, a lutar pela libertação de 26 presos políticos cubanos. Por causa de uma das suas anteriores greves de fome - contra a censura na Net na ilha de Fidel de Castro, Guillermo recebeu um prémio em 2006 da organização Repórteres Sem Fronteiras.
Em Cuba, mais precisamente em Holguín, no seio de uma família de camponeses, em 1943 nasceu Reinaldo Arenas. Desiludido com a revolução, à qual havia aderido de imediato e com a qual colaborou, acabou por se tornar sua vítima, passando dois anos preso. Quando, em 1980, pôde finalmente sair de Cuba, acabou por se instalar em Nova Iorque onde, padecendo de sida, se suicidou em 1990.
É autor de uma vasta obra que inclui a sua autobiografia, publicada postumamente, Antes Que Anoiteça (1992), adaptada ao cinema em 2000, num filme realizado por Julian Schanabel com Jarvier Bardem como protagonista.
Dos muitos romances e da qual se destaca este , O Mundo Alucinante, agora reeditado pela D.Quixote, este livro que o autor classifica simplesmente com “romance de aventuras”, contém em si mil romances diferentes, sendo ao mesmo tempo muito mais do que um romance.
Frei Servando Teresa de Mier, célebre personagem histórica convertida para a ficção, viveu entre os séculos XVIII e XIX. Tal como o romancista, devido às suas ideias pouco ortodoxas, este frade, sofreu perseguições, e deu muitas vezes por si na prisão.
Neste mundo alucinante , em Havana as greves de fome e os presos políticos preexistem, morre-se na luta pela liberdade, como se o tempo tivesse parado na ilha, dando uma dimensão fabulosa e quase mítica à obra deste grande escritor cubano chamado Reinaldo Arenas.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Metamorfose

Dia 16 Março, pelas 18h00 na livraria
Da autoria do fotógrafo António Luís Campos e texto de Pedro Pires, Metamorfose é um álbum fotográfico que nos revela o mundo das frágeis mas espectaculares borboletas.
Mesclando arte e ciência, Metamorfose condensa em 140 páginas um todo que navega entre a exuberância visual de cor e forma. Com imagens originais e textos informativos mas acessíveis, segue uma abordagem estética e científica.

Os Amores d'Astrée e Céladon

Hoje no 9500 Cineclube, pelas 21h30
“Os jovens indecisos e os adultos imaturos de Rohmer são intrigantes, estão intrigados, intrigam. A intriga, em Rohmer, é um pretexto, porque cada narrativa é apenas uma versão da história. As personagens vivem iludidas, mas não é grave, porque o cinema é também uma ilusão e , de algum modo, a vida também é, ou pelo menos o modo como conduzimos as nossas vidas. Eric Rohmer sempre pareceu uma figura paterna, ou pelo menos um irmão mais velho, mesmo em relação aos companheiros de geração. Mas foi até ao fim um aliado dos jovens, fascinado com a teatralidade com que os jovens fazem dos factos consumados pretensas estratégias intencionais.
Nos meus Rohmers favoritos, e Rohmer é o meu cineasta favorito, há sempre epifanias fugazes e contraditórias, agridoces”

Pedro Mexia, jornal Publico

domingo, 14 de março de 2010

O Verão de Coetzee






Sem nunca ter conhecido pessoalmente Coetzee, um jovem biógrafo inglês trabalha num livro sobre o escritor. Uma série de entrevistas a pessoas que foram importantes para ele, a partir dos seus testemunhos surge um retrato do jovem Coetzee. O seu projecto é concentrar-se na época entre 1972 a 1977, então o escritor na casa dos 30, segundo o biógrafo depreende, o período em que estava «a apalpar terreno como escritor».
Verão ( D.Quixote) mostra-nos um grande criador em pleno exercício autobiográfico, por vezes comovente, por vezes francamente divertido, o escritor em pleno aquecimento para o seu trabalho. Este livro de memórias ficcionadas, foi finalista do Booker Prize de 2009, tendo sido Coetzee o primeiro escritor a vence-lo por duas vezes, em 2003 foi galardoado com o Prémio Nobel de Literatura.


“Se eu penso que os artistas não são feitos para o amor? Não. Não necessariamente. Eu procuro ter uma certa abertura relativamente a isso.

Bem, uma pessoa não pode indefinidamente ter abertura, se tenciona chegar a escrever o livro. Pense bem. Estamos em presença de um homem que, na mais íntima das relações humanas, não consegue estabelecer contacto, ou só consegue estabelecer contacto fugazmente, intermitentemente. E contudo como ganha ele a vida? Ganha a vida fazendo relatórios, relatórios especializados, sobre as experiências humanas íntimas. Porque é disso que os romances tratam- não é?-, de experiências íntimas. Os romances, contrariamente à poesia ou à pintura. Não lhe parece estranho?”

Verão, J.M. Coetzee, Ed. D.Quixote

sábado, 13 de março de 2010

A Monstra

A Monstra festival de animação de Lisboa, que começou dia 11 de Março, e termina a 21, está em festa pelo seu 10º aniversário. Apresenta em estreia nacional, Mary and Max, escrito e realizado por Adam Elliot e que conta com as vozes de Toni Collette, Philip Seymour Hoffman e Eric Bana. O filme integrou o Festival de Sundance em 2009, tendo recebido uma menção honrosa, inteiramente merecida tratando-se pois de uma monstruosa obra de arte.

Era Um Sábado e Tinha Umas Horas Livres

Grahm Greene

"Era um sábado e tinha umas horas livres. Resolveu passá-las fora de casa, com um livro, enquanto ainda fazia fresco; preferia ler longe das vistas da sua secretária, que lia só livros a que chamava sérios, entre eles os do doutor Saavedra.
Escolheu uma colecção de histórias de Jorge Luis Borges. Borges partilhava dos gostos que ele próprio herdara de seu pai- Conan Doyle, Stevenson, Chesterton. Ficções parecia-lhe uma agradável variante do último romance do doutor Saavedra, que não fora capaz de terminar. Estava cansado dos heróis sul-americanos."

O Cônsul Honorário, Grahm Greene

Era um sábado e tinha umas horas livres. Resolvi passá-las em casa, com um livro, enquanto lá fora a chuva e o vento não parar.
O Cônsul Honorário é um dos livros mais famosos de Graham Greene e aquele que o próprio autor considerava como o seu melhor romance, e simultaneamente, o que lhe mais custou a escrever.
A obra tem como cenário uma cidade da Argentina, mas o pano de fundo é ocupado pela ditadura do general Alfredo Stressner, durante 35 anos, Um grupo de guerrilheiros paraguaios decide raptar um embaixador americano para exigir como resgate a libertação de presos políticos. Mas quem acaba por ser raptado por engano é Charley Fortnum, um cônsul honorário britânico e bêbado diplomado, sem o mínimo valor de troca em termos políticos, O governo britânico não está interessado em salvar o seu cônsul, criando uma situação extremamente grave para Fortnum…
Tal como todos os livros de Greene, O Cônsul Honorário é um romance de acção, de espionagem e , acima de tudo, um drama moral. O seu enredo engenhoso e o seu humor subtil inspiraram, em 1983, um filme com Michael Caine no magnífico papel de cônsul.
Estou já perto do fim do livro, e as personagens temem pelo fim da vida, numa altura em que continua a chover lá fora.

sexta-feira, 12 de março de 2010

It's Mine - Woody Allen

A Cultura - Mundo


A noção de cultura alterou-se profundamente. Nos nossos dias, moda, publicidade, turismo, arte, urbanismo… nada escapa ao domínio da cultura. Esta transformou-se numa cultura-mundo, a do tecnocapitalismo generalizado, das indústrias culturais, do consumismo à escala global, dos media e das redes digitais. Ao transcender agora todas as fronteiras, e tornando mais confusas as antigas dicotomias entre «civilização» das elites e a «barbárie» da populaça, ela manifesta uma vocação planetária e premeia todos os sectores de actividade.
Ao analisarem esta transformação, os autores avançam pistas para um possível curso de acção que enfrente o primado, em crescimento, do consumismo e a desorientação generalizada desta época.
E se os anos vindouros fossem, paradoxalmente, os da «vingança» da cultura»?

Gilles Lipovetsky é um reputado filósofo e sociólogo francês, autor de vasta obra sobre as transformações da sociedade contemporânea, destaque para A Era do Vazio, e o Império do Efémero.
Jean Serroy é professor universitário e autor de várias obras sobre literatura e cinema, com especial destaque para Entre Deux Siècles, obra monumental dedicada ``a produção cinematográfica mundial.

Uma Políttica Cultural Diferente Para o Livro

Uma Política Cultural Diferente

"E o livro? Que papel pode ser o do Estado neste domínio? Seguramente e desde logo, utilizar as novas tecnologias para prolongar a vida do livro e aumentar a sua difusão. Em França, a digitalização empreendida pela Biblioteca Nacional vai no bom sentido, que é o de disponibilizar a todos do seu fundo e aos investigadores as obras mais especializadas e de mais difícil acesso, sem abandonar apenas à lógica do mercado a escolha dos livros a digitalizar. Todavia, isto não é suficiente. Sabendo-se que num país como a França o analfabetismo representa 9% da faixa etária compreendida entre os 18 e os 65 anos e que são mais do dobro os que têm grandes dificuldades em interpretar um texto simples, a prioridade evidente duma política que pretenda democratizar a cultura e lutar contra o que um relatório do movimento ATD-Quart Monde designa justamente como “a cultura truncada” deve ser a aprendizagem da leitura, problema que não afecta apenas os países subdesenvolvidos. A lógica de uma verdadeira democratização cultural é começar pelo princípio!
Depois disso, podem ter lugar outras formas de intervenção pública, cujo papel não é imiscuir-se no mercado do livro, mas contribuir para a diversificação e impedir que as publicações de interesse não comercial fiquem condenadas por não serem rentáveis. Neste caso, cabe ao mercado solicitar a ajuda do Estado em sectores particulares- domínios especializados do saber, traduções, reedições de grandes textos que a lógica do mercado por si só não justifica, livros difíceis-, não é o estado que se deve substituir ao mercado. Um organismo como o CNL (Centre national du livre) é a este respeito exemplar. A sua acção poderia ser alargada do domínio puramente cientifico ao sector económico: tal como fazem para as publicações, os seus comités de especialistas poderiam tratar dos dossiês de apoio, subsídios e empréstimos às pequenas livrarias, aos pequenos editores e aos centros de publicação e de difusão regionais.
A batalha do livro, na qual o preço fixo constitui um elemento indispensável de sobrevivência, consiste, no caso do Estado, em manter vivo o livro.
Insubstituível, o livro é em si mesmo uma porta de acesso à reflexão, ao saber, à beleza e ao imaginário."

A Cultura-Mundo, Resposta A Uma Sociedade Desorientada, Gilles Lipovetsky, Jean Serroy, Edições 70

quinta-feira, 11 de março de 2010

O Divino Bénard

Alfred Hichcock


"A escrita de Bénard, costurada em digressões permanentes, parêntesis e alvéolos, mostra, além disso, como a palavra é inseparável da memória."

José Tolentino Mendonça

Se Eu Seria Personagem

Uma leitora minha, que faz o favor de ser minha amiga, como se dizia em português servil, perguntou-me esta semana, com algum enleio, se eu agora me ia voltar a voltar só para crónicas de cinema.
Descansei-a. Lembrei-lhe que, pelas novenas de Novembro, me tinha dado no goto escrever três amados filmes, que estão ai para se ver. O criminoso volta sempre ao local do crime, mas raramente o reconstitui como morada permanente. Ela que me voltasse a ler em Dezembro e ia encontrar-me em quartos escuros, mas não no escuro do cinema.
Mas quando abri a porta do quarto escuro-ou o quarto escuro abriu a porta quando me fechou a mim-quem me salvou ao caminho, de tal modo que lhe não pude escapar?
Sir Alfred Hitchcok. Ele mesmo, o cineasta. Juro que não premeditei. Juro que não quis enganar nem os leitores, nem a minha amiga. Mas há coisa alguma a fazer se certo dia… Certo dia, mais do que outros quaisquer, são os incertos dias que temos atravessado, distraídos a ranger os dentes ou a observar a lei de Lynch. « Tudo são perigos, mesmo o que semelha necessário consolo», escreveu Guimarães Rosa, depois de pedir à morte para não o enlouquecer mais. « Ah, ninguém sabe quão terrível é a loucura dos mortos. Mortos-isto é-os que ainda dormem.» … Quando não podemos trocar com ninguém e quando a chuva é o nosso único, absurdo, mas irremediável lugar, estamos perto de saber que não há nenhuma coincidência entre o olhar com que nos vemos e o olhar que o próprio espelho nos devolve.
Então pode voltar-se a esperar para o resto da vida. Porque não somos personagens e pode-se sempre voltar para o fim da ida, do fim da vida. Nosso começo, começo dela. Como nos espantaremos quando virmos tudo do outro lado.

João Bénard da Costa, Crónicas: Imagens Proféticas e Outras, Assirio & Alvim

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Coração e a Garrafa



Vencedor em 2009 do Bafta for Children's Animation, Lost And Found baseado num livro de Oliver Jeffers


Era uma vez uma menina que vivia fascinada com o mundo à sua volta. Até que um dia algo aconteceu que a fez pegar no seu coração e guardá-lo num sítio seguro. Pelo menos durante algum tempo...Só que, a partir dai, nada parecia fazer sentido. Saberia ela quando e como recuperar o seu coração?
Com esta história comovente, Oliver Jeffers explora os temas difícies do amor e da perda, devolvendo-nos, de maneira notável, um sopro de alento e de vida.
O Coração e a Garrafa é o seu sexto livro, no qual faz de novo uso de técnica mista, agora com recurso à imagem fotográfica, editado pela Orfeu Mini.

O Incrível Oliver Jeffers





O Irlandês Oliver Jeffers é um artista multidisciplinar, cujo trabalho se estende à escrita e ilustração de livros para crianças. Autor de O Incrível Rapaz Que Comia Livros, já publicado na colecção Orfeu Mini, tem recebido vários prémios, dos quais se destacam o Irish Book of the Year e medalha de ouro do Nestlé Children’s Book Award.




terça-feira, 9 de março de 2010

Excessiva Emotividade

Nascido há cem anos, no dia 9 de Março, Samuel Barber (1910-1981) é um compositor cuja obra representa um dos marcos mais relevantes na música americana, por via de um famoso Adágio para Cordas. A música de Barber é conhecida pelo seu lirismo, assumindo por vezes algumas características a que vulgarmente se chama música de Hollywood. Não deveria tratar-se, em princípio, de uma expressão pejorativa, se nos lembramos da grande música que tem sido feita para cinema. Mas a expressão também pode aludir a uma excessiva emotividade, que Oliver Stone, o realizador premiado com Platoon, tão bem soube utilizar.


Novo Romance de Ian McEwan


“ O que me interessa é o mundo”, diz. Interessa-lhe o mundo em todas as suas vertentes, mas sobretudo o seu lado mais negro, menos bonito, povoado por anti-heróis, com contradições e desentendimentos, sem necessidade de finais felizes. “ Somos cruéis mas simpáticos, somos supersticiosos mas racionais. Somos assim, e esse dilema humano é assunto de romances.”
- Num mundo tão tecnológico, dominado pelo Twitter, blogues e afins, o romance vai morrer? “ Este barulho todo vai criar a necessidade de termos um espaço privado e o romance é esse refúgio” diz.

In, Diário de Notícias 2009


Solar (Gradiva) é o novo romance de Ian McEwan , chega ás livrarias no final do mês.
O tema aborda alterações climáticas, servindo de pretexto para a exposição das fragilidades humanas e individuais.

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Formato Mulher

Ao longo dos últimos cem anos, deixou de ser exclusivo no palco da literatura portuguesa o protagonismo do “sujeito masculino que nos escreve”, para citar Eduardo Lourenço. Com rigor teórico, informação histórica minuciosa e por meio de uma série de leituras de textos de referência, O Formato Mulher (Angelus Novus) examina as circunstâncias e as consequências da emergência da autoria feminina no campo cultural da poesia portuguesa moderna, detendo-se nas grandes figuras que elege: Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner Andresen, Maria Teresa Horta, Luiza Neto Jorge, Ana Luísa Amaral e Adília Lopes.
Anna M. Klobucka é professora no Departamento de Português da Universidade de Massachusetts Dartmouth (EUA), onde ensina principalmente literatura portuguesa.


Eu não sou a que aparece
Eu sou a que me inventei

Sou sem ninguém
Ébria de escrita
Vou renascer do meu fim

Inclina-te a mim
Tenho asas

Ana Hathererly, “Asas”, in A Sophia. Homenagem a Sophia de Mello Breyner
Andresen (2007)


Storytailors


João Branco e Luís Sanchez a dupla de estilistas Storytailors, espalham magia com as suas criações, inspiradas em histórias fantasiosas e recheadas de referências, que vão desde historias tradicionais a contos de fadas, ganharam rapidamente um lugar no mundo da Alta Costura. A assinatura dos designers, é conhecida pelos seus corpetes, volumetria, vestidos encorpados, folhos, e os vestidos de noiva de sonho, que nos remete a um mundo esplendoroso e único, sendo um reflexo da evolução da própria sociedade.
É caso para dizer que se um livro nos conta uma história, um vestido também o pode fazer.

domingo, 7 de março de 2010

Pública



Histórias de Alexandre Andrade, Frederico Lourenço, Gonçalo M.Tavares, Hélia Correia, José Eduardo Agualusa, Maria Velho da Costa, Mário de Carvalho, Miguel Esteves Cardoso, Pedro Rosa Mendes, Rui Cardosos Martins.

Dez Contos para um número Especial Aniversário, da Revista Pública

mercearia

"Numa mercearia, lá atrás, um poster de Marilyn Monroe.
Depois vemos a mercearia. Os alimentos mal arrumados, a sujidade no balcão e em várias prateleiras.
Depois vemos o casal que trabalha na mercearia, provavelmente os seus donos. São feios, terrivelmente feios. Os dois.
Lá atrás, o poster de Marilyn Monroe"


Gonçalo M. Tavares.

sábado, 6 de março de 2010

Ler Ouvir Ver

LER
Enquanto o frio convida, recomendo um par de livros para ler em casa. Destaco primeiro
O Terceiro Reich (Quetzal) de Roberto Bolano, personagens peculiares e um sem-fim de referências literárias, que darão muito gozo ao leitor. O autor do 2666, oferece-nos uma autêntica sinfonia de literatura, política, divertimento surreal, absurdo. Gozo puro. Do John Le Carré recomendo A Gente de Smiley( D. Quixote), uma reedição da que é talvez a melhor obra do escritor inglês. Brilhante, um grande talento para enredar os leitores, o prazer das suas histórias segue o mesmo caminho denso e sombrio que as suas personagens, George Smiley, já na reforma, é convocado para o serviço activo, mas apenas para enterrar o caso, e não para o solucionar.

OUVIR
Estou cheio de vontade de ouvir o novo álbum dos Gorillaz. Damom Albarn, prometeu o disco mais pop que alguma vez criou. De resto é olhar para os convidados: Snoop Dogg, Kano, De La Soul, Lou Reed, entre muitos outros. Uma autêntica constelação a acompanhar a banda virtual, "Plastic Beach" de seu nome, será inovador, mais do mesmo ou simplesmente frustrante, é ouvir senhores.
O trio de Bernardo Sassetti está de volta, nos palcos e com álbum novo, como admirador já sentia falta do formato, com Carlos Barreto no contrabaixo e Alexandre Frazão na bateria, três músicos de grande qualidade que se complementam. A edição de "Motion", vai nos dar certamente boa música, e revelar-nos um Sassetti realizador.


VER
A expectativa é elevada, chegou o filme mais esperado do ano , "Alice no País das Maravilhas" de Tim Burton, um realizador cujo trabalho tenho vindo a seguir e, pelas imagens do trailer, está patente todo o sentido de estética que faz de Burton um cineasta singular. Pena é que não temos direito aos óculos de sol do 3D.
And The Winner Is, na madrugada de segunda, cafeína suficiente, para assistir às escolhas da Academia e confirmar as apostas, com a curiosidade de este ano a escolha ser alargada a dez filmes. O meu favorito, é Estado de Guerra da Kathryn Bigelow, que comparado com Avatar do ex-cônjuge, James Cameron leva as estatuetas douradas todas para casa, excepto nas categorias técnicas. Bons Óscares .

Central de Camionagem

sexta-feira, 5 de março de 2010

A Ministra e o Massacre


«A destruição de milhares de livros pelas editoras portuguesas é “um massacre” que deve ser resolvido a curto prazo. Esta é a reacção de Grabriela Canavilhas, ministra da cultura, que perante as notícias de que o Grupo Leya destruiu dezenas de milhares de livros antigos de autores como Jorge de Sena, Vasco Graça Moura ou Eugénio de Andrade.
“O Ministério da Cultura irá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar a destruição de livros, que afinal, é uma prática regular e generalizada”, afirmou ao jornal i ontem à noite.»





Quando as Editoras Destroem Livros

“As mesmas editoras dedicadas a defender a leitura e os livros vêem-se obrigadas a destruir numerosos exemplares usando-os como pasta de papel ou queimando-os. Esta prática editorial, condena todos os livros invendáveis, os livros com erratas e os textos desactualizados. Os manuais escolares e científicos são postos de lado tão facilmente como as teorias ou dados que os sustentavam.
Os worst sellers são os livros nunca comprados e finalmente deteriorados: quase sempre passam para as mãos de uma equipa de produção que procura um rápido final para eles.
Em determinados casos, as editoras procuram manter em segredo esta informação porque há autores cujos níveis de venda não são o que declaram.”

História Universal da Destruição dos Livros de Fernando Báez, Texto Editora, Grupo Leya.


História Universal da Destruição dos Livros é um relato lúcido e devastador do crime perpetrado contra a memória da humanidade que descansa nos livros. Desde a Antiguidade Grega até ao mundo islâmico, desde os códices pré-hispânicos perdidos no fogo durante a época colonial ou destruição nazi de milhares de livros judaicos até às situações actuais de censura em países de censura em países como Cuba e China.
O autor interroga-se sobre a razão de ser deste empenho em assassinar a memória escrita, para encontrar uma resposta, Fernando Báez recorre a diversos momentos da história, cuja desafortunada pedra de toque tem sido a destruição dos livros, sempre em nome de diversas consignas: raciais, sexuais, culturais, políticas ou económicas.
Certamente da proxima vez que olhar para os livros num escaparate de uma livraria, irá vê-los com outros olhos.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Detalhes


Quais são os pormenores? Qual é a intriga? O que se passa no capítulo X ou Y?
Alguns leitores têm a capacidade para memorizar todos estes detalhes. Mas para honrar uma obra, há outra forma, pelo menos mais amorosa, uma impressão do conjunto, de estilo e de ritmo, esta é a carcterística profunda, que marca um livro e que o carimba com o selo da sua originalidade, a do espírito que se liberta, depois de cada leitura.

segunda-feira, 1 de março de 2010

200 Anos de Chopin

Georg Sand e Chopin, rostos da tela Delacroix

Frédéric Chopin, em 1838, iniciou uma relação íntima com George Sand, seis anos mais velha do que ele, divorciada e mãe de dois filhos, pouco convencional e escritora de muito êxito. A seu lado, encontrou o que procurara desde a sua partida da Polónia: o carinho e calor do lar. Chopin e Sand passaram juntos o inverno de 1838-1839 em Maiorca, numa antiga Cartuxa Valldemossa, onde a saúde do compositor piorou sensivelmente. Após uma curta convalescença em Marselha, passou todos os Verões na residência familiar de Sand, em Nohant, até 1846; este foi, sem dúvida, o período mais feliz e produtivo da sua vida. Sand e Chopin nunca se casaram, mas recebiam tratamento de casal oficial nos círculos que frequentavam em Paris e partilhavam inúmeras amizades, como Eugène Delacroix.



Em 2000 Yundi tornou-se, aos 18 anos, o mais jovem vencedor de sempre do prestigiado Concurso Internacional Chopin Varsóvia.
O chinês alcaçou rapidamente o estatuto de super-estrela à escala global.

As Praias de Àgnes

Hoje no 9500 Cineclube pelas 21.30H