Elena
Ferrante assume-se como uma das figuras mais enigmáticas no campo literário da
atualidade.
Provavelmente,
Ferrante terá nascido em 1943, em Itália, num pobre e popular bairro de
Nápoles, tendo vivido na Grécia. O mistério que se lhe associa advém do
desconhecimento do seu género, constituindo o seu nome um possível pseudónimo. Publicou,
pela primeira vez, em 1991, o romance intitulado Um Estranho Amor. A reforçar o seu anonimato surge a inexistência
de um contacto direto com jornalistas nas entrevistas, escassas, escritas e intermediadas
pelos próprios editores, em que aceitou participar. Ferrante sempre evitou
comparecer à entrega de prémios ou à estreia de adaptações cinematográficas das
suas obras. A honestidade apresenta-se como uma constante da sua escrita, ideia
que é ilustrada pela seguinte frase proferida por Ferrante numa entrevista publicada
pela revista literária The Paris Review:“A
ficção literária parece-me feita de propósito para dizer a verdade”.
Editada
em Portugal pela Relógio D’Água, a tetralogia de Elena Ferrante compõe-se de Amiga Genial, de História do Novo Nome, História de Quem Vai e de Quem Fica e História da Menina Perdida. A sua carreira
adquiriu um enorme prestígio com a publicação das suas obras em diversos países
e, consequentemente, com a obtenção de excelentes críticas nos Estados Unidos
da América. James Wood em 2013 na revista The
New Yorker, elaborou um extenso artigo a elogiar a capacidade criativa
literária afirmando: ”Elena Ferrante” is one of Italy’s best-known least-known
contemporary writers. She is the author of several remarkable,
lucid, austerely honest novels […]”. De igual modo, o
jornal inglês The Guardian efetuou
rasgados elogios acerca de Ferrante. Não obstante serem reinventadas, as
histórias são inspiradas em acontecimentos reais, facto que se encontra patente
numa entrevista que Ferrante aceitou para o New
York Times: “As mulheres das minhas
histórias são ecos de mulheres reais que, por causa do seu sofrimento ou da sua
combatividade, influenciaram muito a minha imaginação: a minha mãe, uma amiga
de infância, mulheres conhecidas cujas histórias eu sabia”. A este propósito
surge em Amiga Genial, a personagem
Raffaela Cerullo, mais conhecida por Lila, que desempenha, entre diversos
papéis, o de amiga de infância de Elena e de mãe de Rino. A escrita de
Ferrante, geralmente, incide nas angústias de um passado das quais as figuras
femininas se revelam incapazes de se libertar. A narrativa do primeiro volume
da tetralogia foca a angústia de Lila, mais propriamente, o seu desejo de
desaparecer sem deixar rasto: “[…] Há
pelo menos trinta anos que me diz que quer desaparecer sem deixar rasto, e só
eu sei bem o que ela quer dizer. […] A sua intenção foi sempre outra: queria
volatilizar-se; queria que todas as células desaparecessem; que dela não fosse
possível encontrar nada […]”. O estado de alma de Lila acaba por ser
transposto para o seu filho Rino e amiga Elena aquando do seu desaparecimento
sem rasto: “Rino ligou-me esta manhã […]
Mas o motivo do telefonema era outro: não sabia da mãe. […] Mas acabara por
ficar preocupado. Perguntara a toda a gente, dera uma volta pelos hospitais,
até tinha ido à polícia. […] Disse-me coisas sem pés nem cabeça. Queria ir à
televisão, ao programa onde se fala das pessoas desaparecidas, fazer um apelo,
pedir perdão à mãe, suplicar-lhe que volte”.
A identidade de Elena Ferrante restringe-se à personagem literária, constituindo-se, por isso, na vida real como um enigma. Socorre-se da absoluta liberdade de criação artística, fruto do forte respeito pela sua vida privada, de modo a reinventar acontecimentos reais por via da escrita.
A identidade de Elena Ferrante restringe-se à personagem literária, constituindo-se, por isso, na vida real como um enigma. Socorre-se da absoluta liberdade de criação artística, fruto do forte respeito pela sua vida privada, de modo a reinventar acontecimentos reais por via da escrita.
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