“Havia
escorpiões na gruta o ano inteiro, mas sobretudo nos dias antes de as plantas
começarem a deixar passar as gotas de água. A velha tinha uma trouxa enorme com
trapos e servia-se dela para os expulsar das paredes e do teto, pisando-os
rapidamente com o calcanhar duro e nu. De vez em quando, um passarozinho ou pequeno animal selvagem aparecia à boca da gruta, mas ela nunca era suficientemente rápida para o matar e já tinha desistido de tentar”.
Paul Bowles, o escritor
nova-iorquino de Queens, começou por viajar em 1929, tendo como destino a Europa,
onde conviveu com Gertrude Stein,
Jean Cocteau e Ezra Pound, entre outros. Em 1931, o viajante escolheu
Tânger como destino para passar grande parte da sua vida, sendo a sua produção
literária influenciada pela dinâmica das múltiplas culturas que conhecera.
A sua vida fora marcada
pela dedicação à composição musical, assim como, à escrita de ficção, poesia,
ensaios e reportagens. Destaca-se, entre a sua vasta obra literária, O Céu que Nos Protege que ocupou o
primeiro lugar da lista dos livros mais vendidos do The New York Times, além de que foi alvo de uma adaptação
cinematográfica por parte de Bernardo Bertolucci. Atualmente, a obra À Beira da Água apresenta-se como o
primeiro de dois volumes que reúnem os contos de Paul Bowles. À Beira da Água contém 29 contos, como por
exemplo O Escorpião que incide na
história de uma velha de escassos recursos e de fraca memória que vivia sozinha
numa gruta de argila frequentemente habitada por escorpiões. Igualmente interessante é o conto
intitulado Paragem em Corazón, onde
um casal em lua de mel se apresenta como protagonista. A ação desenrola-se com
base na intensificação da ansiedade do marido face ao desaparecimento da esposa
e na consequente tentativa de a encontrar. Neste cenário o leitor depara-se com o frenético batimento cardíaco do marido que está intimamente ligado
ao título Paragem em Corazón. Paul
Bowles socorre-se do amor, do suspense
e da intriga, construindo este cativante conto.
À Beira da Água, Paul Bowles, Quetzal
Editores, 2016.
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