Fotografia Lee Miller
“A
imaginação abria espaços por dentro da pessoa. E corria-se o risco de cair por
eles abaixo, como Alice pela toca. A menina, porém, não tinha medo. Sentia-se
tão forte no seu corpo, o seu pesado corpo mineral, que entregava à imaginação
sem que ela conseguisse abrir-lhe feridas. Agia como dona, essa menina, mesmo
no caso de a vertigem a cercar, querendo empurra-la para o desequilíbrio. A
menina, que não parava quieta, que experimentava posições para a lição, tinha o
segredo da estabilidade. Não precisava de dois pés para nada. Usava-os só para
não os desprezar, para que eles não sofressem o abandono. Eram uns pés
minúsculos para os quais nem se achavam sapatos. Se precisasse de sair, teria
que de os pedir emprestados às bonecas. (...)”
Vinte Degraus e Outros Contos, Hélia Correia, Relógio D´Água, 2014.
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