terça-feira, 12 de agosto de 2014

Porquê ir?




Verdadeiro thriller político, com a medina de Fez em pano do fundo e os tempos explosivos do movimento nacionalista marroquino. Embora todos os romances de Paul Bowles espelhem o encontro e o conflito entre civilizações, neste, muito menos subjetivo, a aguda clivagem entre a cultura árabe e a do colonizador francês é profundamente explorada, com grande detalhe e intensidade. A forte tenção política e social que enquadra a intriga - protagonizada por um americano comunista, um rapazinho analfabeto e uma atraente mulher ocidental -, o ambiente de conspiração nacionalista e a infinidade de matizes, que restituem a milenar cidade de Fez à sua complexidade e vida, tornam A Casa da Aranha num marco na obra de Paul Bowles.
A Casa da Aranha, Paul Bowles, Quetzal, 2014.

«Porquê ir? A resposta é que num quando um homem já lá esteve e sofreu o batismo da solidão não consegue evitá-lo. Caso alguma vez tenha estado sob o feitiço do vasto, luminoso e silencioso território, nenhum outro lugar é suficientemente forte para ele, nenhumas outras cercanias conseguem propiciar a supremamente satisfatória sensação de existir no meio de algo que é absoluto. Ele voltará lá, sejam quais forem os custos em conforto e em dinheiro, porque o absoluto não tem preço.»

Entre a imensa e majestosa solidão do Saara e a tranquilidade doméstica da sua ilha tropical no Ceilão - propriedade extravagante e selvagem que manteve durante alguns anos na costa de Weligama -, Paul Bowles percorreu incessantemente os caminhos do globo terrestre. Uma curiosidade inesgotável por todas as paisagens humanas e a atração por dois tipos antitéticos de paisagem geográfica, o deserto e a floresta tropical, alimentaram um fluxo constante de viagens, em que Bowles alternou a deslocação com a permanência em todos esses lugares que quis conhecer e onde escolheu viver por períodos maiores ou menores. Paul Bowles é um dos grandes viajantes eruditos do século XX e o seu legado - musical e literário - sedimenta, em toda a sua originalidade, sofisticação e versatilidade, o património cultural universal.
Viagem, livro inédito e o primeiro de uma série que a Quetzal dedica a Paul Bowles, reúne relatos das suas aventurosas deambulações pela Europa, África, América Central e Ásia.
Viagens, Paul Bowles, Quetzal, 2013.


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