sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Chet Baker Pensa Na Sua Arte




É meia-noite, em fundo toca Bela Lugosi’s Dead, do grupo Nouvelle Vague, e nem sequer a música me impede de pensar nessa realidade «bárbara, brutal, muda, sem significado, das coisas» de que falava Ortega. Olho pela janela e vejo a vida inerte, e parece-me que esse tipo de realidade bárbara e muda é especialmente percebida hoje por quem - como já Musil pensava - acha que no mundo não existe já a simplicidade inerente à ordem narrativa, essa ordem simples que consiste em poder dizer às vezes: «Depois de aquilo ter acontecido aconteceu isto, e depois aconteceu outra coisa, etecetera».
Tranquiliza-nos a simples sequência, a ilusória sucessão de factos.

Chet Baker Pensa Na Sua Arte, Enrique Vila-Matas, Teodolito 2013.


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