É meia-noite, em fundo toca Bela Lugosi’s Dead, do grupo
Nouvelle Vague, e nem sequer a música me impede de pensar nessa realidade
«bárbara, brutal, muda, sem significado, das coisas» de que falava Ortega. Olho
pela janela e vejo a vida inerte, e parece-me que esse tipo de realidade
bárbara e muda é especialmente percebida hoje por quem - como já Musil pensava
- acha que no mundo não existe já a simplicidade inerente à ordem narrativa,
essa ordem simples que consiste em poder dizer às vezes: «Depois de aquilo ter
acontecido aconteceu isto, e depois aconteceu outra coisa, etecetera».
Tranquiliza-nos a simples sequência, a ilusória sucessão de factos.
Tranquiliza-nos a simples sequência, a ilusória sucessão de factos.
Chet Baker Pensa Na Sua Arte, Enrique Vila-Matas, Teodolito
2013.
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