Quando, aos dezoito anos, retratei pela vez um escritor,
Jorge Luís Borges, não podia sequer imaginar a aventura que se abria no meu
caminho de fotógrafo. Fui o primeiro a surpreender-me ao descobrir, muitos anos
depois, que a magia dessa fotografia dependia do halo de luz que parecia
voltear em torno de uma mão anónima. Mais tarde teria tempo de confirmar que
cada foto é um salto para o desconhecido, em que factores imprevisíveis modelam
e matizam uma identidade.
Ao sair da Argentina,
partilhei viagens e atribulações com amigos escritores e percebi, entre outras
coisas, que também o seu trabalho oscila entre o que queriam dizer e o que as
palavras lhes permitem.O meu encontro com Luis Sepúlveda (e depois dele com tantos escritores) confirmou a intuição de que a minha vida teria a ver com duas margens do Atlântico. Além disso, Sepúlveda, com o seu talento para fazer de cada pessoa e de cada história uma experiência fundamental e irrepetível, deixou-me perceber que era isso também que eu pretendia: que cada foto fosse um momento único e que nesse momento coubesse, por inteiro, o próprio rosto da escrita.
Daniel Mordzinski, Os Rostos da
Escrita
Sem comentários:
Enviar um comentário