quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A Praia de Manhattan



Sentiu uma torrente de bem-estar cuja fonte não foi de imediato evidente. E então apercebeu-se: a dor do escafandro tinha-se sumido.(...) Sentiu um puxão solitário no cordão umbilical: Estás bem? repetiu o puxão para indicar que compreendia e que não havia problemas. Está tudo bem. Deu por si a sorrir. O ar nas narinas sabia-lhe deliciosamente; até o silvo da sua chegada que o tenente Axel descrevera como ' um mosquito que não precisariam de regular a válvula de escape, mas Anna não foi capaz de resistir a apertar um nadinha mais o local em forma de estrela para que se acumulasse mais ar dentro do escafandro. Começou a subir muito ligeiramente, a lama a agarrar-se às solas dos sapatos enquanto estes se afastam. Uma explosão de prazer rebentou dentro dela. Parecia estar a voar , parecia magia - parecia estar dentro de um sonho. Abriu a válvula de escape e deixou sair o ar em excesso até os pés assentarem de novo no leito da baía.
A Praia de Manhattan, Jennifer Egan, Quetzal, 2018

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