quinta-feira, 14 de julho de 2016

Literatura, Identidade, uma pequena reflexão sobre "Minima Azorica" de Onésimo Teotónio Almeida



A temática de Minima Azorica O meu mundo é deste reino, livro de ensaios da autoria de Onésimo Teotónio Almeida, incide na afirmação de uma identidade específica: a açoriana.
Na obra supramencionada, Onésimo Almeida realça a quão problemática fora a aceitação da reflexão em torno da tese da identidade, pelo que foram necessários longos períodos de tempo para que se verificasse o estabelecimento da mesma. A este propósito é fulcral fazer referência ao ensaio intitulado Minima Azorica, ou a fala de açorianos no meio do mar patente no terceiro volume da obra BorderCrossings Leituras Transatlânticas, da autoria do ensaísta Vamberto Freitas que afirma: “[…] Levou muitos séculos para nomearmos o que nos aconteceu e nos moldou como povo- a açorianidade […]”.
Não obstante viver no continente americano, Onésimo Almeida revela-se incapaz de esquecer a sua origem açoriana, razão pela qual alega: “[…] Jamais escondi que os Açores me foram e são, ainda e sempre, um lugar íntimo. […] Os primeiros vinte e dois anos de vida imprimem um caráter a qualquer um […]”. Uma das diversas ideias a destacar da sua obra assenta, sem dúvida, no desinteresse do público continental face à cultura açoriana e, consequentemente, na irracionalidade da insistência em obter tal interesse. É, precisamente, neste contexto que o Onésimo Almeida afirma: “[…] Esforço vão, como tantos outros no país. A partir de certa altura, achei mais sábio desistir. Não vale a pena tentar captar o olhar e os ouvidos de quem vive há séculos obcecado com a atenção dos estrangeiros […]”. Significa isto que de, acordo com o autor, o importante é focarmo-nos na afirmação da nossa cultura em detrimento da preocupação com a indiferença nacional. Esta indiferença perante a cultura açoriana é reiterada por Vamberto Freitas: “[…] Não tem sido nada fácil a nossa afirmação histórica e cultural como parte fundamental e indesligável da restante nação”.
Segundo Onésimo Almeida, a reforçar a existência da açorianidade surge a elevada publicação literária açoriana, de qualidade, que tende a superar a nacional. É neste âmbito que, de entre uma multiplicidade de autores, se alude a alguns açorianos, tais como, Pedro da Silveira, Natália Correia, Vitorino Nemésio, Dias de Melo, Daniel Sá, Fernando Aires, Antero de Quental, Emanuel Félix, José Enes, Madalena Férin, Rogério Silva e José Martins Garcia, os quais em muito contribuíram para a dinamização da história cultural literária. A açorianidade transparece na forte influência que a geografia e os elementos físicos que a compõem exercem sob a escrita dos autores mencionados. Quer isto dizer que, de acordo com autor, o isolamento, as tempestades, os vulcões, as chuvas prolongadas e os cataclismos açorianos produzem um ambiente específico que molda a cultura e, por conseguinte, a escrita que, assim, apresenta traços peculiares. São destes elementos climatéricos que decorre a predominância da melancolia e da fatalidade na produção literária açoriana.
A necessidade de afirmação da identidade açoriana é fruto do confronto com a realidade cultural exterior, representada pelo continente português, do qual resulta a consciencialização açoriana das diferenças existentes nessa mesma realidade e a consequente necessidade de afirmação de uma identidade distinta. Deste modo, faz todo o sentido o subtítulo da obra Minina Azorica: O meu mundo é deste reino.


Sara Simão
Helena Frias

Ponta Delgada 14 de julho, 2016

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