domingo, 11 de abril de 2010

Diário Volúvel


“De novo na esplanada do café de Perec, espero, em vão como sempre, que passe Catherine Deneuve, que vive na praça. Mas, uma vez mais, ela não aparece. Surpreende-me, um pouco mais tarde, ler na revista Lire que Vargas Llosa também vive nessa praça, tem um dúplex num edifício do século XVIII: «Neste bairro, sinto-me como em casa. É um bairro muito literário. Umberto Eco também vive na praça. Há quinze anos que espero ver Catherine Deneuve, mas ela nunca aparece.»
Nesse momento, aparece Deneuve. Fico mudo de surpresa e pergunto-me se, durante um momento, Deneuve não foi «o que se passa quando não se passa nada».”


Enrique Vila-Matas, Diário Volúvel, Ed. Teorema


Este livro, pretenso diário, baseia-se no caderno pessoal de EnriqueVila-Matas. Trata-se de um diário literário com origem na leitura, uma obra escrita desde o próprio centro da escrita.
Combina os comentários sobre livros lidos com a experiência e a memória pessoal, e vai propondo o desaparecimento de certas fronteiras narrativas e abrindo caminho para a autobiografia ampla, sempre na busca de que o real seja visto como espaço idóneo para albergar o imaginário e assim romancear a vida. Diário Volúvel não se afasta, de resto, dos procedimentos literários mais habituais em Vila-Matas, onde as diferenças estilísticas entre livros de ficção e colecções de ensaios são cada vez menos relevantes e mais fieis a uma feliz linha de literatura híbrida e fragmentária na qual os limites se confundem sempre e a realidade baila na fronteira com o fictício, e o ritmo apaga essa fronteira.



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