terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Urbano Bettencourt - Inquietação insular e figuração satírica em José Martins Garcia



« (...) Fazendo um breve exercício de memória, creio que a escolha da obra de José Martins Garcia, particularmente na sua vertente satírica, começou há quarenta anos, quando, em finais de 1974, Manuel Pereira de Medeiros, o Livreiro açoriano de Setúbal, me chamou a atenção para um livro que trazia um título esquisito, «Katafaraum é uma nação«, e me deixou ainda outras informações de natureza extraliterária, que, aliás, nunca interferiram no meu relacionamento com a obra. Nesse livro chamou-me a atenção o «tom» da narrativa inicial sobre a docência que se esgota no método e na análise da metodologia do método, num jogo de espelhos verbais que se desdobram até ao infinito, esterilmente; mas detive-me em especial na segunda parte do livro, em parte pelos conteúdos narrativos (a guerra em África, entre outros), em parte pelo jogo irónico com alguma nomenclatura gramatical conhecida.
Depois, no ano letivo de 1975-76, o acaso fez-me aluno de José Martins Garcia numa cadeira de Linguística e pude, então, voltar a «Katafaraum» já com outra competência de leitura e descodificar aquilo que me escapara inicialmente: o tratamento irónico a que também aí eram sujeitos nomes e conceitos como Chomsky, competência, «performance».
Eu, afinal, tinha chegado à Linguística por portas travessas, e entre o discurso sério das aulas e o discurso irónico da ficção devo ter balançado bastante. O discurso da ficção acabou por prevalecer…»


Excerto do texto de apresentação da tese de Urbano Bettencourt, ontem na Universidade dos Açores,  "Inquietação insular e figuração satírica em José Martins Garcia",  esta defendida com Distinção e Louvor por unanimidade do júri.

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