Este segundo volume de borderCrossings:
leituras transatlânticas foi (me) imaginado desde o início quando iniciei a
coluna do Açoriano Oriental (Ponta
Delgada) em 2010, e quando me foi então proposto assinalar todas as semanas o
que, do muito que dentro e fora dos Açores, se ia publicando e que mereceria a
atenção dos leitores. Este “muito” refere-se à literatura açoriana de várias
gerações, assim como à literatura da nossa imigração, incluindo a que desde há
alguns anos a esta parte começou a brotar de vários sectores académicos e
intelectuais entre os luso-descendentes, particularmente nos EUA. Não escrevo
para satisfazer a curiosidade, por parte de alguns, do que acaba de sair no
mercado livreiro português, nem sequer ante os nomes mais novos e sonantes da
literatura portuguesa contemporânea. Interessa-me aqui, em primeiro lugar, a
escrita contemporânea que tem como referencial a experiência e/imigrante lusa
lado a lado com a memória ancestral dos seus descendentes, ou então as ideias
que, entre nós, enformam as sociedades em que nos encontramos e com as quais
nos identificamos, desde qualquer recanto no mundo lusófono ao continente
norte-americano. Nem por um segundo insinuo que o que se encontra comentado e
contextualizado entre estas páginas se aproxima de qualquer “cânone” completo
da literatura das nossas peregrinações. São escolhas minhas, ou então que se
impõem pelos próprios autores que já conquistaram para si um espaço literário
nesta ou nas suas sociedades natais, como no caso dos escritores, poetas e
ensaístas de primeira ou mais gerações nos Estados Unidos. Para mim, tem sido
gratificante ver nascer uma nova geração de escritores que fazem questão de se
identificarem ante o seu público anglo-americano como “Portuguese-American
writers/escritores luso-americanos”. Em nada se “reduzem” com essa designação,
simplesmente reclamam para si todo um passado vivido e/ou transmitido pelas
gerações anteriores, as que lhes deram vida, lhes moldaram o destino.
Aí está, creio, o meu e o trabalho
dos meus colegas em toda a parte – sim, a literatura luso-americana existe, e
promete um dia, a melhor dela, fazer parte de duas grandes Tradições: a
portuguesa e a americana. Não é pouco. É a integração intelectual e artística
nas nossas pátrias sem fronteiras, nem sequer já têm língua oficial – somos
daqui como somos de toda a parte, para agora redizer, ao contrário, o grande
poeta da modernidade lusa transfronteiriça.
Vamberto Freitas
Ponta Delgada
Fevereiro de 2014
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