Roberto Saviano, jornalista que, infiltrado durante anos no seio da Máfia napolitana, denunciou a organização criminosa no seu livro “Gomorra”, best-seller que deu origem a um filme, galardoado com o prémio do juri do festival de Cannes. Com a cabeça a prémio, Saviano tem andado em fuga permanente, clandestino no mundo. Estou a ler o livro que publicou a seguir a “Gomorra” que se intitula “A Beleza e o Inferno”. À sua vida de foragido, ao conhecimento da podridão, contrapõe a beleza, os focos de beleza que surgem no meio do inferno. É um conjunto de narrativas poderosas pelo seu humanismo, pela elegância das palavras, pela articulação do pensamento. Se por um lado, nos faz perder a esperança na humanidade, escrevendo sobre os malefícios do polvo napolitano, logo nos levanta com a descrição do esforço sobre humano de Lionel Messi, futebolista conhecido como “a pulga”, para, contrariando as suas limitações físicas se impõe com um dos grandes futebolistas de sempre. E de Joe Pistone do FBI que nos anos setenta, infiltrado numa família mafiosa fez julgar e condenar cerca de 150 pessoas envolvidas em actividades ilícitas. Durante seis anos longe da sua própria família Pistone teve de sobreviver ao medo. Ainda é foragido, com a cabeça a prémio, mas aprendeu a viver com esse peso imbuído com o sentido de justiça dos anos em que foi Donnie Brasco o seu nome de infiltrado que deu origem ao filme homónimo. “Nunca tive realmente medo. Se o tiveres lêem-to na cara. Estava sempre alerta. Sabia sempre que se tivesse feito um erro podia morrer. E o medo faz-te cometer erros.”
Roberto Saviano é um homem com coragem, como há poucos, empenhado num mundo melhor. É uma lição. “Escrever, não prescindir das minhas palavras, significou não me perder, não me dar por vencido, não desesperar.”
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