quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Cinema entre os anos de 1915 e 1940






No início da I Guerra Mundial, por volta de 1915, o cinema norte-americano predominava mundialmente, uma vez que a produção europeia foi praticamente parada pela Guerra. As produções aglomeravam-se em Los Angeles, na Califórnia, onde o clima e as luzes eram melhores e as leis de impostos menos restritivas. Assim, Hollywood torna-se sinónimo de filmes e nascem vários estúdios independentes, tais como os Warner Brothers, a MGM e a Fox. Consequentemente, aparece o fenómeno do estrelato e culto das estrelas de cinema. Charlie Chaplin é considerado a primeira verdadeira estrela da indústria cinematográfica, tendo conquistado o público com a sua personagem de “Tramp” ou “Charlot”, que encarnou pela primeira vez em Kid Auto Races at Venice (1914), e cujo sucesso fez com que o ator em poucos meses já realizasse os seus próprios filmes, como The Tramp (1915). Nesta altura, a duração dos filmes aumenta e, para financiá-los, são criadas “máquinas de publicidade”, como a Star System para criar estrelas de cinema perfeitas, e substitui-se os “nickelodeons” por grandes casas de espetáculo, os “Picture Palaces”, cada vez mais frequentadas pelas classes médias. Em 1918, em Portugal, é criada a Invicta-Film, no Porto, que foi a primeira tentativa de estabelecer em Portugal uma empresa produtora de filmes, mas foi abafada pelas produções americanas e terminou a 1925. Os anos 20 foram um período muito fértil para o cinema, principalmente em Hollywood, com a expansão dos grandes estúdios, como a Paramount e a Universal. Na Europa, foi na Alemanha que a cinematografia teve o seu renascimento no pós-guerra, destacando-se o expressionismo alemão, do qual é exemplo Der Lezte Mann (1924) e Nosferatu (1921). Na Rússia, Lenine deu apoios aos cineastas, mas os filmes russos vão ser censurados e a sua divulgação restringida pela ocidentalidade, devido ao seu conteúdo ideológico comunista, como Potemkine (1925). O ano de 1924 foi, particularmente, importante para França, pois surgiram os primeiros trabalhos de René Clair e Jean Renoir, dois célebres produtores franceses. Esta década, que marcou a História como “The Roaring Twenties”, ficou para o cinema como “The Laughing Twenties”, isto porque o género mais popular era a comédia, com Charlie Chaplin, Buster Keaton e Harold Lloyd. A transição para os “talkies”, ou seja, filmes com diálogo, aconteceu em meados de 1926/1927, com os Warner Brothers e a Fox na vanguarda.
O aparecimento dos filmes falados foi visto como um desenvolvimento desnecessário e efémero. Foi Jazz Singer (1927), dos Warner Brothers, que mudou as opiniões em relação aos sonoros, quando o público ouviu Al Jolson cantar, cuja personagem imortalizou a frase “You ain’t heard nothing yet”. Com isto, os estúdios norte-americanos começaram-se a atualizar com equipamentos de som, fazendo com que, em meados de 1929, quase todo Hollywood estivesse convertido aos “talkies”, dando início à chamada Era de Ouro de Hollywood. Apesar desta transição ter sido rápida, foi também difícil. Os primeiros sonoros eram muito estáticos e restringidos pelos novos instrumentos de som, tendo as câmaras de estar dentro de uma cabina à prova de som, impossibilitando a sua mobilidade, os atores eram obrigados a falar diretamente para microfones que estavam estrategicamente escondidos no cenário e o realizador já não podia dar instruções aos atores durante uma cena. Isto fez com que os filmes fossem versões estáticas de peças teatrais com diálogos longos, levando a que os críticos reclamassem o retorno do filme mudo. No entanto, essas dificuldades foram rapidamente ultrapassadas, utilizando a técnica de gravação das falas a priori e, depois, sincronizá-las com os movimentos labiais dos atores, e solucionou-se a imobilidade das câmaras, montando-se rodas na cabine de insonorização. É assim que aparece que aparece o género do musical, com The Broadway Melody (1929) nos EUA, e Sous les toits de Paris (1930) em França. A introdução do som provocou, simultaneamente, o nascimento e a morte de estrelas de cinema, que viram as suas carreiras arruinadas, muitas vezes pelo simples facto das suas vozes não corresponderem à imagem que o público já tinha delas. Os mais afetados foram os comediantes dos mudos, com a exceção de Chaplin que, apesar de ter recusado fazer filmes falados, continuou a ter sucesso. Em 1928, Walt Disney apresentou o primeiro “talkie” de animação, Steamboat Willie, e contribuiu para a acreditação do som com as suas Silly Simphonies. Os anos 20 viram, ainda, ser criada, por Louis B. Mayer da MGM, a Academia das Artes e Ciências Cinematográficas, que ficou célebre pela cerimónia anual dos Prémios da Academia, ou seja, os Oscars. O drama Wings (1927), alusivo à I Guerra, foi o primeiro a ganhar o Oscar de melhor filme, em 1929. Em Inglaterra, o primeiro filme com diálogo foi Blackmail (1928) de Hitchcock, que teve de ser lançado também na versão muda, porque os cinemas europeus ainda não tinham investido em equipamentos de som. O decénio de 30 foi uma década de tumultos, com a Grande Depressão e o surgimento de ideologias fascistas por toda a Europa. Isto levou à popularidade de filmes de fantasia escapista, aventuras e terror, que faziam esquecer a crise. A Universal criou, com sucesso, o género de “Universal Horror”, filmes de monstros, tais como Dracula (1931), com Bela Lugosi, e Frankenstein (1931), com Boris Karloff, cujos sucessos levaram a sequelas ainda nesta década. Houve, também, uma grande aposta em filmes com valores familiares e que exaltavam as virtudes capitalistas, ao mesmo tempo que combatiam o comunismo. Ganham fama os filmes sobre “gangsters”, como Little Caesar (1931), mas duram pouco tempo devido a protestos públicos contra a violência, e os filmes de género “western”, dos quais se destaca Stagecoach (1935), que tornou John Wayne no símbolo máximo do “Far West”. Mae West tornou-se no sex symbol de Hollywood, aparecendo em filmes com diálogo picante e explícito, levando à criação do “Hay’s Code”, que foi uma tentativa de censura aos filmes de Hollywood, para evitar escândalos.  
O ano de 1939 foi um dos mais lucrativos para o cinema americano, graças a êxitos como Wuthering Heights, Gone with the Wind e The Wizard of Oz, sendo estes dois últimos exemplos máximos dos avanços técnicos do uso da cor, com a “Technicolor”.  No período que antecede a II Guerra Mundial, as mais famosas criações eram as de Walt Disney, sendo o Rato Mickey considerado o herói da Depressão. Disney foi aclamado pelo seu inovador uso da cor e do som, começando a produzir filmes de animação, tal como Snow White and the Seven Dwarves (1937), cujo sucesso catalisou o surgimento de Pinnochio (1940), Fantasia (1940), Dumbo (1941) e Bambi (1942). Enquanto o cinema prosperava em Hollywood, os totalitarismos alastravam-se pela Europa, reprimindo toda a liberdade artística e intelectual, incluindo o cinema. Na Alemanha, quando Hitler chegou ao poder, Goebbels, ministro da propaganda nazi, controlou a sétima arte para difundir propaganda do regime, destacando-se o documentário Triumph des Willens (1935), de Leni Riefenstahl. Em Portugal, nos anos 30, aparece Manoel de Oliveira, com o seu primeiro filme Douro, Faina Fluvial (1931), que foi vaiado pelo público nas suas primeiras exibições nacionais, mas muito elogiado em França, acabando por ser considerado uma obra-prima. O cinema falado chega a Portugal em 1931, com A Severa e filmes como A Canção de Lisboa (1933), com Beatriz Costa, e Aldeia da Roupa Branca (1938). Em Inglaterra, foi difícil competir com a proeminência de Hollywood, tendo sido feita uma lei que obrigava qualquer distribuidor a ter sempre um determinado número de filmes britânicos, levando às chamadas “quota quickies”, filmes feitos à pressa para preencher a quota. No entanto, The Private Life of Henry VIII (1933) tornou-se no primeiro êxito mundial britânico, induzindo a uma tentativa de um Hollywood Britânico, “Hollywood on the Thames”, que falhou, pois todos os grandes artistas ingleses, como Hitchcock, partiam para Hollywood, e porque, devido ao London Blitz, os bombardeamentos aéreos a Londres na II Guerra, os cinemas foram fechados. Esses encerramentos duraram pouco tempo e os cinemas abriram com muitos filmes que propagavam a resistência inglesa na guerra, como Target fot Tonight (1941) e Fires Were Started (1943). Em princípios da II Guerra Mundial, os filmes vão ter um caráter mais realista, sendo populares os documentários, que revelavam ao público os horrores da guerra e, ao mesmo tempo, elevavam a causa Aliada, tais como Our Russian Front (1942) e Battle of San Pietro (1945). 
 Os cinemas estavam submissos aos governos, que apoiavam filmes que mostrassem os esforços do país na guerra e ajudassem com a perda de familiares. Em Inglaterra, surgem filmes que ensinavam a reconhecer espiões alemães, como esconder informação de inimigos e como ajudar soldados, sendo exemplo disto Confessions of a Nazi Spy (1939) de Hitchcock. O envolvimento dos EUA proporcionou uma proliferação de filmes de propaganda patriótica e antinazi, como The Story of G.I. Joe (1945). O filme mais aclamado do período de guerra foi Casablanca (1942), dos Warner Brothers, juntamente com The Great Dictator (1940) de Chaplin, que falou pela primeira vez em filme. 


Trabalho realizado por Daniela Medeiros, 
no âmbito da cadeira de História dos Media do curso CSC da Universidade dos Açores


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