segunda-feira, 10 de março de 2014

Álamo Oliveira sobre borderCrossings: leituras transatlânticas 2





VAMBERTO FREITAS
– o leitor atento da nossa escrita
Álamo Oliveira

BorderCrossings/ leituras transatlânticas – 2  reune 80 textos recenseativos e ensaísticos, que dão continuidade aos incluídos em BorderCrossings – 1. Os textos estão agrupados por quatro espaços geográficos, cada um com título próprio, assim designados: «Literatura e açorianidade», «Diáspora e literatura», «Imaginários americanos» e «Brasil próximo e distante». Nestes subtítulos, cabe um conjunto significativo de leituras que, de uma maneira ou de outra, motivaram Vamberto Freitas para comentários críticos e opinativos que, por sua vez, exercem a função de originarem um outro e alargado número de leitores.

A aproximação analítica aos livros dos outros faz com que Vamberto Freitas seja, de forma indiscutível, o nosso crítico mais atento, mais ecléctico, melhor informado e também o que melhor domina as ferramentas que permitem a dissecação do texto, para proporcionar melhor leitura e melhor entendimento, sem que o seu ponto de vista fique maculado por qualquer tipo de pragmatismo. Aliás, acrescente-se que ele é um crítico generoso, exercendo o seu direito de opinião sob uma perspectiva pedagógica otimizada. Não fosse a sua generosidade e o seu gosto pela leitura e muito pouco se saberia, a nível regional e nacional, sobre a actividade editorial açoriana.

Como se sabe, Vamberto Freitas é a voz autorizada dos livros de autores portugueses, com predominância para os dos Açores e também dos livros de autores que escrevem na língua dos seus países de adoção e que têm procurado conquistar visibilidade nas designadas literaturas étnicas dos espaços da emigração portuguesa.

São já muitos os livros que Vamberto Freitas tem publicados, nos quais vem a reunir um trabalho persistente no âmbito da recensão crítica. Sabem disto quantos têm acompanhado o que faz publicar em jornais, revistas e, sobretudo, em suplementos literários, muitos dos quais coordenados por ele. Todos têm a noção de que se está perante um contributo inestimável para a revelação e apreço do que tem sido a nossa escrita criativa.

E veja-se o conteúdo de Border Crossings – 2:

«Literatura e açorianidade» é o capítulo que acolhe as recensões sobre os livros de autor açoriano. São diversos os nomes, alguns já desaparecidos do nosso convívio (Natália Correia, Fernando Aires), e outros tão novos ainda como Joel Neto e João Pedro Porto. O capítulo dedicado à «Literatura da diáspora» está aberto a diversas aproximações críticas sobre livros de autores lusodescendentes, mas também europeus e até islâmicos. Em «Imaginários americanos» cabem muitas abordagens a autores e livros que ajudam a reflectir sobre aqueles «imaginários» específicos. O quarto capítulo apresenta alguns escritores brasileiros que Vamberto Freitas vem a ler (Assis Brasil e George Monteiro, entre muitos) e que partilha com os outros.

Ao folhear este livro, cada leitor se apercebe facilmente que um dos aspectos importantes é o da sua estruturação, arrimada a uma arrumação lógica e cuidada, tornando-o de fácil consulta e fazendo com que os textos, para além da sua virtualidade pedagógica, possam reanimar o gosto pela leitura.

Já alguém disse que, se não fosse a persistência crítica e de registo de Vamberto Freitas, seria muito difícil falar-se da literatura açoriana com sabor a História, cronologicamente exposta e devidamente rodeada pela escrita nacional e internacional. Na verdade, ele contextualiza, sem ser sua intenção obedecer a tal propósito, a produção literária açoriana, relevando-a pelo que ela vale e pelo contributo indelével que vem a dar ao corpus da literatura de Língua portuguesa.

Posto isto, pretendo deixar expresso que o que devemos a Vamberto Freitas não se paga com agradecimentos de circunstância. Claro que temos outros nomes que têm prestado também um grande contributo na divulgação da escrita açoriana, como José Martins Garcia, António Machado Pires, Urbano Bettencourt e outros. Neste momento, cabe-me fazer emergir a generosidade de Vamberto Freitas, a qual não é passível de qualquer suborno sentimental, mesmo quando bem intencionado. Fico com BorderCrossings/ leituras transatlânticas – 2 para ler grata e atentamente.

 



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