quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Inacessivel ao Leitor Apressado

Roberto Bolaño

Se fosse uma data, o título 2666 pareceria antecipar um inevitavelmente póstumo trabalho. O romance, que Bolaño escreveu pouco antes de morrer, abre com uma semente do Mal, transformada pelas cinco partes do livro no sonho de um escritor, Benno von Archimboldi. Na primeira parte, quatro críticos literários procuram-no nos seus textos enquanto as suas vidas se envolvem com ele, acabando por senti-lo nas ruas de Santa Teresa, uma versão disfarçada da mexicana Ciudad Juárez. Na segunda parte, a mesma cidade é o claustro onde o filósofo Amalfitano ensina, lê, recorda a mulher que o deixou, e imagina como escapar para encontrar Rosa, a sua filha adolescente. Na terceira, um jornalista desportivo chamado Destino chega a Santa Teresa para a cobertura de um desafio de boxe, mas acaba por envolver-se na investigação de crimes contra mulheres ocorridos na cidade. Esta teia leva à quarta parte, o verdadeiro coração negro do romance; uma impiedosa e exaustiva sucessão de assassínios, as suas datas e a sua fútil investigação. No final da última parte, assistimos à reaparição de Archimboldi, o pseudónimo de um escritor alemão que parece ter atravessado o Século XX apenas para chegar a Santa Teresa. Num desafio inacessivel ao leitor apressado, Bolaño demonstra em 2666, que consegue escrever como mais ninguém e como quiser, combinando a reflexão abstracta mais extrema com acção de tirar o fôlego. E assinando tudo isso com a sua inconfundível assinatura esquerdina.


3 comentários:

Maria Brandão disse...

quase me convenceste, mas precisava de uma semana sem sair de casa para o ler e infelizmente tenho de trabalhar ;)

Sam disse...

Confesso que estou a levar mais tempo do que o normal a ler este 2666 — não só pela sua dimensão como também pelo número de vezes que "agarro" no livro —, mas tem sido, até ao momento, um virar de páginas fascinante.

Vale-me não ser um leitor apressado :)

Abraço.

Paula disse...

Gostei do título do post "Inacessível ao leitor apressado"...
Pelo que tenho lido, a nível de opiniões sobre o livro, é que este é um livro para "saborear" com calma.
Gostei do seu comentário :)
Ainda não o vou ler e penso que não o vou ler tão cedo...(não é que eu seja uma leitora apressada, sinto que não é o momento)
Quem sabe um dia.
Um abraço!