“ – Que tem? – indaga, delicadamente, o sujeito.
– Caldeirada e bifes – foi a resposta de Daniel.
– E pescada? – pergunta, delicadamente a senhora.
– Só caldeirada e bifes.
E, assim por diante, a senhora a insistir, delicadamente, se não haveria esta ou aquela comida e Daniel, já de olho duro, a repetir a mesma breve ementa. Até que, perdida a paciência, volta-se para os clientes, num meio sorriso, exclama:
– Chiça! O que isto são de chatas, as mulheres! Vocês têm estado a ouvir? Eu a dizer que só tenho caldeirada e bifes e esta a azucrinar-me com pescadas, linguados e nem sei que mais!
De espanto, a senhora entreabriu a boca, suspensa. Alto e forte o sujeito moveu o tronco, como que a levantar-se.
Logo, calmo, dominador, recostando-se na cadeira, com voz lenta e segura, pediu delicadamente:
– Traga a caldeirada. Mas, ao menos, espero que seja boa.
A frase soou a Daniel como uma ofensa.
– Maria! – gritou ele. – Traz daí uma panela cheia!
– e para o sujeito: – Aposto que nunca comeu na sua vida uma caldeirada como as que eu preparo!
– É o senhor que as prepara? – interrogou o sujeito.
De olhos semicerrados, Daniel soltou uma gargalhada:
– E então? Que é que as mulheres além do que é próprio delas, sabem fazer bem feito? Nada!
Veio a panela. Daniel sondava, inquieto, o rosto do casal. Ao notar-lhe a expressão de agrado, voltou a gargalhar:
– Hem? Alguma vez comeram obra desta?
Foi buscar um prato, sentou-se. Dai a pouco conversavam como três velhos amigos íntimos. Daniel alegrando as frases curtas mas muito expressivas interjeições; a senhora e o senhor, sorridentes e discretos, repetindo a caldeirada.
Voltaram a aparecer todas as semanas. Cimentado o convívio em redor da caldeirada, Daniel, virado para os circunstantes, afirmava:
– Não há como uma boa comida para fazer uma boa amizade!
Os senhores sorriam, delicados. E nós, velhos comensais, concordávamos mudamente, quem come não fala, regando com branco, gelado, a bela caldeirada “Chez Daniel”.
– Caldeirada e bifes – foi a resposta de Daniel.
– E pescada? – pergunta, delicadamente a senhora.
– Só caldeirada e bifes.
E, assim por diante, a senhora a insistir, delicadamente, se não haveria esta ou aquela comida e Daniel, já de olho duro, a repetir a mesma breve ementa. Até que, perdida a paciência, volta-se para os clientes, num meio sorriso, exclama:
– Chiça! O que isto são de chatas, as mulheres! Vocês têm estado a ouvir? Eu a dizer que só tenho caldeirada e bifes e esta a azucrinar-me com pescadas, linguados e nem sei que mais!
De espanto, a senhora entreabriu a boca, suspensa. Alto e forte o sujeito moveu o tronco, como que a levantar-se.
Logo, calmo, dominador, recostando-se na cadeira, com voz lenta e segura, pediu delicadamente:
– Traga a caldeirada. Mas, ao menos, espero que seja boa.
A frase soou a Daniel como uma ofensa.
– Maria! – gritou ele. – Traz daí uma panela cheia!
– e para o sujeito: – Aposto que nunca comeu na sua vida uma caldeirada como as que eu preparo!
– É o senhor que as prepara? – interrogou o sujeito.
De olhos semicerrados, Daniel soltou uma gargalhada:
– E então? Que é que as mulheres além do que é próprio delas, sabem fazer bem feito? Nada!
Veio a panela. Daniel sondava, inquieto, o rosto do casal. Ao notar-lhe a expressão de agrado, voltou a gargalhar:
– Hem? Alguma vez comeram obra desta?
Foi buscar um prato, sentou-se. Dai a pouco conversavam como três velhos amigos íntimos. Daniel alegrando as frases curtas mas muito expressivas interjeições; a senhora e o senhor, sorridentes e discretos, repetindo a caldeirada.
Voltaram a aparecer todas as semanas. Cimentado o convívio em redor da caldeirada, Daniel, virado para os circunstantes, afirmava:
– Não há como uma boa comida para fazer uma boa amizade!
Os senhores sorriam, delicados. E nós, velhos comensais, concordávamos mudamente, quem come não fala, regando com branco, gelado, a bela caldeirada “Chez Daniel”.
Estes dois excertos foram retirados de um livro de contos de Manuel da Fonseca, em que a personagem Daniel, não é ficcionada, mas sim a mais pura da realidade. Este senhor era de facto o meu avô, e o seu restaurante Chez Daniel ainda hoje existe. Recomendo vivamente (mesmo sendo suspeita) , caldeirada, bom peixe, e bife claro.
Para quem não sabe Lagoa de Santo André fica no magnífico litoral alentejano. Façam uma boa viagem e tenham uma belissima refeição regada com um optimo vinho alentejano.
4 comentários:
uhmmm o cheirinho a caldeirada já chega aqui :)
Entre a planicie e o mar... o sol, a beleza do areal e a frescura da água vão dar ainda hoje a uma bela refeição... Também eu sou suspeito pela honra que tenho neste Senhor, meu Avô.
Parabéns pela escolha e pelo blogue
Até que em fim, já cá chegaste, espero que continues a fazer comentários,e que gostes das nossas sujestões. Podes ficar por Tenrrinho?
Um Tenrrinho ao vosso dispôr...
E quem quiser uma boa caldeirada é só pedir...
Beijinhos e abraços
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