quarta-feira, 17 de agosto de 2016


          Soneto 5 

          As horas que em terno ofício emolduraram
          Essa face gentil onde o olhar se demora
          Hão-de ser a tiranas de si mesmas, as horas,
          Como da fealdade que a perfeição supera.
          Pois não repousa o Tempo, antes guia o Verão
          Ao temível Inverno, para aí o lograr;
          A seiva enregelada, as folhas sem fulgor,
          Soterrada a beleza, e em vez, desolação.
          Assim, não fora a essência do Verão conservada,
          Líquida prisioneira entre vítreas paredes,
          O fruto da beleza por ela era roubado
          E nem memória havia de beleza que fosse.
             Mas a flor, no Inverno, perde só a aparência,
             Sobrevivendo, doce, o que lhe deu substância.

            31 Sonetos, William Shakespeare, Relógio d'Água, 2015

Sem comentários: