“Os livros são comparáveis a seres vivos, a
pessoas amadas,
permanecendo ligados às circunstâncias do
encontro
e às emoções que suscitam.”
Marcel Proust
A invenção do livro está
intimamente ligada á escrita e á leitura. Aquilo que está impresso tem uma
dimensão cultural inultrapassável, dirigindo-se a um leitor, possuindo como
finalidades: o conhecimento, a reflexão, o ensino, a evasão, a difusão do pensamento
e a preservação da memória coletiva. O livro é um dos grandes meios da história
da comunicação. Desde o séc XV, com a prensa de Johannes Gutenberg, até aos
nossos dias, assiste-se a uma expansão a nível mundial, num aumento de
quantidade de obras publicadas, numa maior distribuição, de tal modo que este
passa a estar presente no nosso quotidiano.
Em finais do séc. XX, na
década de 90, a internet alcança a população em geral, através do World Wilde Web, tendo como seu mentor
Tim Bernners. Lee. Surgem grandes mudanças, que na forma como a informação é
transmitida, que na alteração em quase todas as áreas do nosso modo de vida. É
aqui que nasce o e-book, ou seja, o
livro em suporte eletrónico, a par de um admirável mundo novo- a Era do
Digital. Ganhando cada vez mais força na sociedade contemporânea, esta é a
revolução digital do próprio livro. A questão que se coloca é se o livro
tradicional, e a sua existência enquanto tal, estarão ameaçados pelo e-book?
Para isso, temos de perceber quais as valências de um e de outro. No caso do
livro digital, este será sempre uma cópia do seu antecessor, tem grafia e
páginas semelhantes às do livro impresso, mas numa sociedade de imagens, eis
que o computador nos fixa na obrigatoriedade de ler. No digital o acesso é mais
rápido, a sua capacidade de armazenamento é maior, ocupando muito pouco espaço,
por exemplo: como consultar os 35 volumes e 71.818 artigos, da Encyclopédie de Denis Diderot? A
resposta é: online. Umberto Eco,
distingue dois tipos de livros, aqueles de consulta e aqueles de ler.
Reconhecemos, então, que há outras possibilidades de relação com o livro,
combinando acessibilidades múltiplas e que os modos de leitura têm-se alterado
ao longo da história.
Hoje, tudo é digital,
tudo é móvel, a procura de e-books aumentou
exponencialmente, principalmente nos EUA e Inglaterra, alastrando-se para o
resto do mundo, bem como, o aumento e oferta de novos aparelhos, tais como:
portáteis, smartphones e tablets. O avanço tecnológico é
vertiginoso, o que foi ontem, já não o é hoje. As questões ambientais que se
aponta ao livro tradicional, como o gasto de papel e tinta, são tão pertinentes
como a gestão de resíduos dos equipamentos, e do consumo energético de que
estes necessitam para funcionar. Significa que, para o leitor, será sempre
necessário energia elétrica para manter esses aparelhos operacionais. Ao
adquirir novos equipamentos obriga-nos a toda uma mudança arquitetónica mental,
até à habituação do sofisticado grito tecnológico. A nossa capacidade de
leitura no ecrã, é bem mais reduzida, devido às nossas limitações físicas. Num
estudo levado a cabo pela Universidade da Harvard, provou-se que o e-book interfere no sono,
principalmente naqueles que leem na cama, a luz emitida pelos dispositivos incomoda
e não ajuda. Neste mundo da Internet os focos de distração são muitos, com um
clique podemos aceder a links, a ler
uma notícia de última hora ou até mesmo a ver a página do facebook. No livro impresso isso já não acontece, ele é encerrado
em si mesmo e é fiel a si próprio. Umberto Eco e Jean- Calude Carrière, na obra
Obsessão de Fogo dizem-nos o seguinte
«O livro é como uma colher (…). Uma vez inventados, não se pode fazer melhor.
Não se pode fazer uma colher que seja melhor que uma colher.»
O livro tradicional tem
uma dimensão sensorial, emocional e afetiva únicas. Podemos estabelecer uma
relação física através do toque das capas, da textura do papel, do cheiro, da
tinta, numa experiência singular e individual. São potencialmente eternos desde
que bem conservados, são resistentes ao choque, embora possam cair e
danificar-se, não impossibilita a leitura. Ir a uma biblioteca, autênticos
templos do livro, onde o acesso é gratuito na consulta, sendo permitido o
empréstimo, ou ir a uma livraria, agarrar, ler alguns parágrafos antes de
comprar, é sem dúvida o reflexo das múltiplas possibilidades que o livro
oferece.
Roger Chartier, numa
entrevista intitulada Da história da
Cultura Impressa à História cultural do Impresso sugere que o livro
impresso deveria copiar as mais-valias da técnica eletrónica, permitindo ao
leitor escrever nas margens, como dentro do próprio texto, para que este torne
mais maleável. Aqui levanta-se o problema dos direitos de autor, e neste caso
estaríamos a ser coautores.
Os livros representam um
negócio importante e sempre o foram desde a Idade Média. Contudo, depara-se na
atualidade com dois graves problemas. O primeiro está relacionado com o fator
económico, o elevado custo de produção do livro físico, tendo em conta a
impressão, a distribuição e o seu comércio, em comparação com o e-book, que apresenta resultados de
rentabilidade mais elevados para os editores, ao eliminarem os intermediários
através da venda direta online. O
segundo problema, é a importante defesa dos direitos de autor, pois não estão
criadas condições nas plataformas digitais de proteção contra a cópia indevida.
Podemos afirmar que o
livro é um resistente, pois sobrevive desde o séc. XV, até aos dias de hoje,
bem ao contrário, a internet ainda é jovem. Neste espaço, e neste tempo,
anunciou-se a morte do livro, mas a realidade tem vindo a mostrar o contrário.
Segundo o Financial Times,
contrariando todas a expetativas, as vendas do livros em papel sofreram um
aumento em 2014, no mercado livreiro dos EUA, Reino Unido e Austrália, enquanto
as publicações em dispositivos eletrónicos diminuíram. Este novo paradigma tem
tendência a manter-se, segundo os especialistas, o incremento da compra do
livro impresso tem sido fortemente influenciado por um público mais jovem –
muito curioso é que os jovens leitores acreditam que a informação verdadeira
está fora da Internet. A venda de títulos como A Culpa É das Estrelas, de John Green ou a saga Crepúsculo de Stephenie Meyer, está no topo das preferências dos
jovens adolescentes entre os 13 e 17 anos.
Concluindo, podemos
afirmar que o perigo efetivo para o livro, quer em suporte digital, quer em
papel, será sempre a falta de hábitos de leitura.
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