quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Lustre


Clarice Lispector
 


"A sala. A sala cheia de pontos neutros. O cheiro de casa vazia. Mas o lustre! Havia o lustre. A grande aranha escandescia. Olhava-o imóvel, inquieta, parecia pressentir uma vida terrível. Aquela existência de gelo. Uma vez! uma vez a um relance - o lustre se espargia em crisântemos e alegria."

O Lustro, Clarice Lispector, Relógio D'Água.


«Ao contrário do seu primeiro romance [Perto do Coração Selvagem], escrito em fragmentos, saltando constantemente de uma cena para a outra, O Lustre é um conjunto coerente. Apesar de os seus extensos segmentos descreverem propositadamente acontecimentos, consistem sobretudo em longos monólogos interiores, interrompidos apenas por um singular e perturbador fragmento contendo diálogo ou acção. O livro progride em ondas lentas que se elevam, alterosas, nos momentos de revelação. As páginas entre estas epifanias são precisamente os momentos em que o livro se torna mais intolerável para o leitor, que é forçado a seguir o movimento interior de outra pessoa com um detalhe microscópico. Acostumado às epifanias, esperando estímulos e surpresas permanentes, o leitor que aborde o livro pela primeira vez depressa se sente desconcertado.
Porém, a intensidade glacial do livro exerce um fascínio particular.
(…) Só quando lido devagar, reflectidamente, e sem distracções, três ou cinco páginas de cada vez, é que O Lustre revela o seu carácter penetrante.» [Benjamin Moser, Clarice Lispector — Uma Vida]


 

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