sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Novelas Eróticas




Tomei à esquerda pela margem do mais próximo canal, e mesmo
em frente às ruínas da Ópera recentemente destruída por um
incêndio, quando a minha heroína ladeava direito a uma ponte,
encontrámo-nos; cruzaram-se os nossos olhares e ela, após hesitação
muito breve, retrocedeu para tomar o meu caminho, passando-
-me logo adiante. Estuguei o passo, alcançando-a sem demora, e
dirigi-lhe não sei já que banal galanteio. Recebi pela expressão indignada
dos seus olhos coriscantes a resposta esperada, mas sem
me intimidar perguntei-lhe se falava francês e ela, evitando o meu
olhar, mas tornando-se da cor de lacre, respondeu:


Novelas Eróticas, M. Teixeira-Gomes, Relógio D’Água.
 
«M. Teixeira-Gomes, tal como na sua obra se nos apresenta ou tal como em certas personagens se projecta, está longe de ser um gozador desenfreado, à maneira de Casanova, ou um perseguidor do infinito no finito dos corpos, à maneira de Don Juan. Homo eroticus, sim; mas buscando, acima de tudo, a harmonia entre o sentimento e a sensação, o equilíbrio da emoção e da volúpia.
(…) Por curiosa inclinação do seu espírito, se não também do seu corpo, Teixeira-Gomes revela, de facto, impressionantes afinidades com o pensamento grego dos séculos IV e III antes de Cristo.»
David Mourão-Ferreira, em Aspectos da Obra de M. Teixeira-Gomes

 

 


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