quinta-feira, 9 de julho de 2009

Jesusalém e Pronto Final


“A primeira vez que vi uma mulher tinha onze anos e me surpreendi tão desarmado que desabei em lágrimas. Eu vivia num ermo habitado apenas por cinco homens. Meu pai dera um nome ao lugarejo. Simplesmente chamado assim: “Jesusalém”. Aquela era a terra onde Jesus haveria de se descrucificar. E pronto, final.”


Ao transcrever este parágrafo o meu computador ficou baralhado, com a criação que Mia Couto utiliza na sua prosa. Considera-se antes de tudo um poeta, e o que lhe fascina é o “poder fazer a criação poética, não só em cima da linguagem, mas em cima da narrativa.” Jesusalém, e não Jerusalém é como se intitula o seu novo romance, editado pela Caminho. Mia confirma o importante lugar que detêm nas literaturas de língua portuguesa. O escritor Moçambicano defendeu, recentemente no Rio de Janeiro, que é preciso discutir questões do âmbito social e políticas, antes da unificação ortográfica. Mia diz sentir prazer em ler autores brasileiros com “ elementos gráficos diferentes para que essa diversidade esteja presente.” Afirma-se assim resistente ao acordo ortográfico.
Na sessão de lançamento de Jesusalém, salientou que a literatura ainda pode causar encantamento e criar utopias.
“ A literatura pode mostrar o gosto de se poder sonhar e se poder construir outros dias, com o prazer de encontrar um mundo para além desse.”

2 comentários:

Maria Brandão disse...

unificar é uma estupidez. a beleza da LP reside na sua diversidade...e Mia é uma das provas disso

Paula disse...

Comprei Jerusalém há pouco tempo e tenciono ler em breve! Gosto da escrita de Mia Couto.
Abraços