segunda-feira, 20 de junho de 2011

Apenas Miúdos - Patti Smith



“Finalmente, junto ao mar, onde Deus está em toda a parte, acalmei-me gradualmente. Pus-me a olhar para o céu. As nuvens tinham as cores de um Rafael. Uma rosa ferida. Tive a sensação de que fora ele próprio a Pinta-las. Hão-de vê-lo. Hão-de reconhecê-lo a sua mão. Essas palavras vieram até a mim e eu soube que um dia veria um céu desenhado pela mão do Robert. Vieram as palavras e a seguir uma melodia. Levei os mocassins na mão e fui caminhando à beira da água. Tinha transfigurado os aspectos mais retorcidos do meu luto, projectando-os como um pano brilhante, uma canção em memoria do Robert.
Pequeno pássaro esmeralda para longe quer voar.

Se eu fechar a mão, irá ele ficar?
Pequena alma esmeralda, pequeno olho esmeralda.
Pequeno pássaro esmeralda, teremos de nos despedir?
Ao longe ouvi um chamamento, as vozes dos meus filhos. Correram para mim. Nesse instante de eternidade, detive-me. Vi-o de súbito a ele, aos seus olhos verdes, às suas madeixas escuras. Ouvi a voz dele acima das gaivotas, dos risos das crianças e do rumor das vagas. Sorri para mim, Patti, como eu estou a sorrir para ti.”

Este é o primeiro livro de Patti Smith em prosa. É um livro de memórias - que começa no Verão em que Coltrane morreu, do Verão do amor livre e de todos os motins, do Verão em que conheceu a figura central deste livro - o lendário fotógrafo americano Robert Mapplethorpe. Mas é também um retrato de época - dos dias do Chelsea Hotel e de Nova Iorque no fim dos anos 1960 - e uma comovente história de juventude e amizade. Just Kids é uma fábula em que encontramos poesia, rock’n’roll, sexo e arte que começa numa história de amor e acaba numa elegia.

Apenas Miúdos, Just Kids, Patti Smith, Ed.Quetazl, 2011.

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