O ROSTO DOS SERAFINS - I
"A palavra surrealismo já apareceu associada ao nome de Tomaz Vieira. Contudo, julgo que não se poderá dizer que este pintor é surrealista. Nunca ele disse de si tal coisa e é pouco provável que algum dia o venha a dizer. Todavia, julgo que podemos encontrar uma zona de contacto entre a sua obra e esse movimento cultural sem que uma coisa se converta, necessariamente, na outra. Acontece que o surrealismo, na sua essência, pretende ser um libertador do inconsciente, a parte mais blindada do eu, aonde só tem sido possível chegar através de processos psicanalíticos agressivos. Por isso as obras surrealistas são muitas vezes desconcertantes porque se percebe que os artistas ficam sempre na fronteira entre o consciente e o inconsciente. Para se falar do inconsciente é sempre necessário utilizar a racionalidade criando-se uma zona de conflito que os artistas pretendem resolver de modo a tornar o discurso inteligível. Há artistas que, junto à fronteira acima referida, conseguem avançar um pouco mais, não sendo necessário que se denominem surrealistas. Ninguém vai a essa zona da psique humana sem inquietação. Dê-se o nome que se der a uma obra de arte que tem origem nas profundezas da alma o resultado é sempre estranheza e inquietação. Cito como exemplo António Dacosta que mesmo nas suas últimas obras, depois do longo interregno a que se impôs, e, de certo modo, afastando-se do surrealismo, nos traz uma simplificação extraordinária vinda da memória mais profunda do seu eu individual. Se há pintor açoriano que se move nessa zona do ser é Tomaz Vieira". (...) continua aqui .
José Maria França Machado
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