quarta-feira, 30 de março de 2011

A Inimizade e a Amizade

René Char et Martin Heidegger


«No nosso tempo, aprendemos a sujeitar a amizade àquilo que se chama as convicções. E mesmo com o orgulho da réctidão moral. De facto, é preciso alcançar uma grande maturidade para compreender que a opinião que defendemos é apenas a nossa hipótese preferida, necessáriamente imperfeita, provávelmente transitória, que só os indivíduos muito limitados podem fazer passar por uma certeza ou uma verdade. Ao contrário do que sucede com a pueril fidelidade a uma convicção, a fidelidade a um amigo é uma virtude, porventura a única, a suprema. Observo a foto de René Char ao lado de Heidegger. Um, celebrado como resistente contra a ocupassão alemã. O outro, denegrido por causa da simpatia demonstrada, em determinado momento da vida, pelo nazismo emergente. A foto data dos anos do pós-guerra. Estão de costas; boné na cabeça, um alto, o outro baixo, caminham na natureza. Gosto muito desta fotografia. »

Milan Kundera, Um Encontro, D.Quixote, 2011.

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