domingo, 28 de fevereiro de 2010

Como escrever um livro em 12 lições

- Fazer um plano do livro. Quem são as personagens? Qual o enredo? Quantos conflitos existem? Como será o final? Não comece o livro sem saber como vai terminar. O enredo tem três partes simples: problema, conflito e resolução.

- Não adiar o trabalho, um escritor escreve todos os dias, nem que seja só na sua cabeça, não há espaço para a preguiça.

- Encontrar o ponto de vista do narrador é regra básica, temos que definir a voz do livro.

- Para escrever uma página tem de ter lido pelo menos cinco. Escrever é uma maneira de imitar os grandes. Ninguém aprende sozinho.

- Todas as personagens têm de querer algo, um desafio pela frente. As personagens não podem ser banais nem apenas um estereótipo, têm de nos surpreender, têm de nos ensinar algo de novo.
Tem de haver conflito entre as personagens para despertar interesse. Quando temos duas muito semelhantes, acabamos por matar uma delas.

- A investigação é fundamental, mas nada de googlanço, da Internet às bibliotecas, todos os recursos têm uma chave, mas se queremos entender o que alguém sente temos de passar por isto, investigue também pela pratica do acto.

- O primeiro parágrafo é importantíssimo, mas não comece a descrever o tempo, “naquela tarde o vento soprava”, já não se usa , isto vem do século XIX, evite técnicas batidas.
Relembramos a ordem da escrita. Um livro atravessa, no regime clássico, quatro fases: apresentação, complicação, clímax e desenlace, revelar o que se move no enredo e como se move, não se esqueça de criar um cenário.

- Quantos pontos de exclamação usou? Uma regra de oiro: não pode abusar nos pontos de exclamação!
A narrativa terá de ter várias acções, não pode existir apenas uma acção principal.
Deve ter cerca de três personagens e três acções , mais é arriscado.

- Quantos adjectivos tem por frase? O adjectivo usa-se quando o escritor não tem o poder de descrição. É preciso capacidade de perder o amor às suas metáforas, rever o texto e mudá-lo,é essencial apagar mais do que escrever.

10ª- Quantas páginas temos de folhear até chegar alguma acção? Temos de por a personagem a agir, dessa forma entendemos melhor quem é, e passamos para o enredo.
Se pretende um retrato social, faça uma ponte entre a vida do protagonista e a sociedade, ligue o último parágrafo do contexto particular com o primeiro do geral.

11ª- Não termine nunca o livro com “E viveram felizes para sempre”, ou “Acordei e tudo não passava de um sonho”. Não é final que se apresente, são fórmulas fáceis e redutoras, o leitor sente-se traído.

12ª- Na mente do escritor deve estar sempre isto: as pessoas lêem para descobrir mundos e personagens novas e nesse desconhecido encontrarem-se a si próprias.


A Cidade Perdida


O novo look de Brad Pitt, justifica-se pelo facto de o actor ir encarnar no cinema, o papel do coronel Percy Fawcett, numa adaptação ao grande ecrã, do livro do jornalista da New Yorker, David Grann. Em A Cidade Perdida de Z (Livros d’ Hoje), o autor retoma a busca pelo explorador desaparecido na Amazónia em 1925. O britânico, cujas aventuras inspiraram Sir Arthur Conan Doyle a escrever O Mundo Perdido, acreditava que a selva amazónica escondia os vestígios de um povo altamente culto, uma civilização perdida. O sonho de Z começou a desenrolar-se em Fawcett desde os primeiros anos de aventura, através das histórias que ia ouvindo, à medida que se embrenhava na selva. São muitas as teorias: o coronel encontrou a sua civilização e não quis regressar, foi morto por índios canibais, ou ficou a viver no meio dos indígenas. A investigação de Grann , confirma que o explorador podia estar certo em relação à existência da civilização perdida, certo também é que desapareceu no meio do “inferno verde” sem deixar rasto.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Descubra as Diferenças

Em geral as pessoas escolhem os livros pelo que está entre capas, mas um livro com uma boa capa já é um objecto fascinante, ainda que o conteúdo seja fraco. Quando as capas são belas e a prosa ou a poesia lá dentro também são boas, é um prazer completo.
Há nos produtos editoriais, verdadeiras obras de arte, de uma beleza ou inventividade notáveis, e também enormes grosserias, diria mesmo fracassos. Bom mesmo é não julgar o livro pela capa, como abaixo fica provado. Descubra as diferenças.




sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Som Da Nossa Idade

É tudo uma questão de sonoridade. Como se a simples inflexão da voz,
ou uma mudez de circunstância, abrissem o caderno de duas linhas de
uma nova grafia do tempo.
E o som é, então, inseguro de sentido, e o medo aloja-se no significado.


Eu explico:
No ano cujo a queda foi festejada à meia noite do passado dia 31 de
Dezembro, eu tinha cinquenta e nove anos de idade.
Dizer cinquenta e nove anos, ainda cabe na voz do quase nada. Não
imprime nota de rodapé em página de agenda, nem dá aperto de ponteiro
em pulso de relógio.
Cinquenta e nove anos é uma idade sem idade, é a quase idade, é,
ainda, a não idade.
Mas um segundo após a meia noite do passado dia 31, eu entrei na
possibilidade dos sessenta, e ter – (vir a ter) – sessenta anos é
coisa que não se diz com a voz caiada de mel.
Quando afirmo “ tenho sessenta anos”, há um travo hasteado no som da
minha voz, e pouco cabe nos lábios do presente, e tudo fica adiado
para o que me resta de futuro.
Um ano, um único ano, faz com que a minha idade já não seja uma canção.


É preciso tão pouco para a gente envelhecer
Basta que o som da nossa idade mude de nome.


Emanuel Jorge Botelho

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Homem Revoltado


Meio século depois do despiste fatal aos 46 anos, Albert Camus, o escritor morto mais vivo da literatura francesa, regressa para avivar os fantasmas de um mundo em crise de identidade. A proposta de Sarkozy de levar os restos de Camus para o Panteão acendeu uma polémica em França. Será uma forma de consagração simbólica ou uma recuperação vergonhosa? A discussão pode e deve conduzir, à (re)leitura da obra deste escritor solitário mas também solidário. Romances como O Estrangeiro, A Queda, A Peste, ensaios como O Mito de Sísifo e O Homem Revoltado, um punhado de grandes livros junta-se à celebração, todos disponíveis na livraria, desde 5 a 10 euros.
Albert Camus viveu toda a sua vida, enquanto intelectual comprometido com a defesa da sua obra e das suas ideias.
No discurso de aceitação do Nobel da Literatura (1957), afirmou: « Cada geração , sem dúvida, julga-se vocacionada para refazer o mundo. A minha sabe, no entanto, que não o refará. Mas a sua tarefa é talvez maior. Consiste em impedir que o mundo se desfaça.»

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Fronteiras do Saber

Luís França

Escolher interlocutores que, cada qual no seu domínio, marcaram o século XX. Transcendendo os limites das suas disciplinas, da arte, da literatura e da ciência, da música e das ciências da natureza, eles avançaram até às fronteiras do saber, permanecendo, todavia, abertos às questões fundamentais da situação intelectual do nosso tempo. Estão aqui representadas as culturas de todo o mundo. Assim nasceu a ideia deste inquérito babeliano que durou mais de oito anos, grandes entrevistas, para a posteridade, palavras dos grandes espíritos do nosso tempo, Claude Lévis-Strauss, Carlos Fuentes, Oscar Niemeyer, Amos Oz, Tu Wei-Ming, Paul Virilio, Elie Wiesel, entre muitos outros.
A obra O Livro dos Saberes (Edições 70), foi organizada pelo professor Constantin Von Barloewen, nascido em Buenos Aires, é membro do conselho cientifico para os estudos internacionais da Universidade de Harvard e coordenador académico para o diálogo entre as culturas e a civilização da Fundação Château-Neuhardenberg, em Berlim.



“Quando se é arquitecto é necessário ler. Um bom romance tem mais importância para mim do que um tratado de arquitectura. A arquitectura eu discuto comigo mesmo quando faço esboços. Os livros que não têm nada a ver com a arquitectura são precisamente aqueles que, por vezes, contêm preciosas informações.
Oscar Niemeyer


“Não creio que os meus livros se publiquem noutros países para explicar Israel ao resto do mundo. Do meu ponto de vista, o que tem a ver com a obra aqui é a magia da literatura. Quanto mais é de carácter local, quanto mais regional, mais poderá aceder ao universal. É ai que reside a sua magia. Quando a obra visa ser internacional, não chega a lado nenhum. Os meus livros são muito israelitas, da mesma maneira que os de Tchekhov são muito russos, os de Faulkner muito americanos do Mississipi e os García Márquez muito colombianos.”
Amos Oz

Escuta

" O homem que não possui a música em si próprio.
Aquele que não expressa a harmonia suave dos sons.
Está amadurecido para a traição, o roubo, a perfídia.
Sua inteligência é morna como a noite,
Suas aspirações sombrias como o Erebo
Desconfia de um tal homem! Escuta a música
"
Shakespeare

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Vida e Morte da Democracia

« Os perigos de um poder sem controlo são um constante pró-memória das virtudes da sociedade democrática. Mas uma democracia moderna exige uma base filosófica e religiosa mais realista, não só para que antecipe e compreenda os perigos a que está exposta, mas também para que dela dê uma justificação mais persuasiva.»
Reinhold Niebuhr (1945)


Os Gregos chamaram-lhe demokratia. Esta obra de John Keane Vida e Morte da Democracia (Edições 70), apresenta a primeira grande história da democracia em mais de um século. Poderá, por vezes, surpreender o leitor: será que podemos realmente ter a certeza de que a democracia teve as suas origens na Grécia antiga? Como é que os ideais e as instituições democráticas adquiriram os contornos e a forma que têm nos nossos dias? Estará esta forma de governo condenada a desaparecer?
No fundo, o texto confronta os leitores com um novo olhar, irreverente para o passado, presente e futuro da democracia, evocando factos e figuras, algumas delas hoje esquecidas, e traça a evolução desta forma de governo por todo o mundo, da Ásia a África, da Europa à América Latina.
John Keane é professor de Política na Universidade de Westmisnter e fellow da Royal Society of Arts. Foi um dos fundadores do Centre for the Study of Democracy Comission. É, também, autor de Global Civil Society?, Václav Havel: a Political Tragedy in Six Acts e do galardoado Tom Paine A Political Life.






segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Rendez-Vous 9500 Cineclube

“Paris sob uma ligeira bruma ao princípio da noite, com o reflexo das luzes na água, Notre-Dame toda branca do lado de lá das pontes, não é possivel sonhar com uma paisagem mais sedutora.”
Julien Green


Esta é a cidade do romancista Julien Green. Podemos hoje marcar um Rendez Vous na Paris de Eric Rohmer, no Cine Solmar, na sessão inaugural às 21h30m, do 9500 CineClube.
Afinal “Sempre Temos Paris”.




domingo, 21 de fevereiro de 2010

Um Coração Simples


Daniel Gonçalves venceu o primeiro Prémio de Poesia Manuel Alegre concedido pelo Instituto Politécnico de Leiria, com o pseudónimo Inês Finisterra a obra Um coração Simples. O poeta residente em Santa Maria, nasceu na Suíça, é licenciado em Ensino de Português pela Universidade do Minho. Daniel Gonçalves lançou recentemente em Ponta Delgada, Rumores para a transparência do silêncio, e tem também disponível na nossa livraria Dez Anos de Solidão- Poemas revividos (1997- 2007).


a poesia é como o leve aceno que te deixo
sempre deixa no ar a respiração do silêncio

Daniel Gonçalves

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Escritor Fantasma

Ghost Writers, “escritores fantasmas”, são no mundo da edição livreira anglo-americano, aqueles cujo nome nunca aparece nas autobiografias ou nos livros assinados por figuras públicas, mas que são os verdadeiros responsáveis pela sua forma definitiva.
O realizador Roman Polanski, sob prisão domiciliária na Suíça, envolvido num processo judicial longe de estar resolvido, estreou no festival de Berlim o seu último filme. Baseado num romance do inglês Robert Harris, a personagem anónima interpretada por Ewan McGregor (cujo nome nunca é sequer mencionado nas duas horas de filme), é contratado para dar forma ao manuscrito das memórias de um ex-primeiro-ministro britânico, que reside nos EUA, e acaba de ser colocado sob investigação pelo Tribunal dos Direitos Humanos, pela possível cumplicidade em crimes de guerra no conflito do Iraque. Já levantada a hipótese de o primeiro-ministro que Harris admite ser inspirado por, mas não baseado em, ser Tony Blair.
Um thriller mainstream com ecos nos filmes de conspiração dos anos 70, ou dos mistérios de Hitchcock. A casa do escritor recria as famosas mansões de Martha’s Vineyard.
The Ghost Writer fica marcado pela ausência de Roman Polanski na estreia, como se fosse ele mesmo, o maior dos fantasma, o cineasta polaco é protagonista dum complexo folhetim que o persegue, como de um filme se tratasse.

A Escrita dos Políticos

São conhecidas as piadas sobre os políticos que citam livros que não leram, e mais grave que não existem. Para a história ficou a Utopia de Thomas Mann, que esteve na mesa de cabeceira de Cavaco Silva, e na história mais recente, Passos Coelho leu Fenomenologia do Ser de Jean-Paul Sartre, uma obra que afinal não existe. Mas pior que isto, são os livros que políticos e candidatos escrevem ou encomendam a escritores fantasmas, com fins estritamente eleitorais, que se compra e ninguém lê. Candidato que se preze, em campanha esgrima com o livro portador das linhas estratégicas para o país, capa com a foto a preceito, e prefácio do padrinho político.

Ora vejamos, no PSD os candidatos apresentam as suas propostas; Santana Lopes com o título A Cidade é de Todos, ele anda por ai, mas a cidade foi para o Costa, e os livros para a guilhotina. Marques Mendes lançou Mudar de Vida, e mudou, Paulo Rangel para a Europa, escreveu O Estado do Estado, belo título, esqueceu-se da palavra péssimo no mesmo. Muito original é Passos Coelho, chama o seu livro Change , (erro meu este deve ser do Obama) o título correcto é Mudar, com lançamento por todo o país inclusive em Ponta Delgada, jotinhas e aspirantes na sessão de autógrafos, óptima nota de utilidade pública na blogosfera açoriana. Pelo caminho ficou-se o Deus Desceu á Terra do professor Marcelo, resta saber se prefacia algum candidato a líder do partido.

Num patamar mais elevado, muita é a produção dos nossos candidatos presidenciais, até agora temos um poeta, um medico humanista, e um professor de finanças, todos muito bons escribas. Cavaco Silva, conta com dois volumes de Autobiografia Política, curiosamente o título mais procurado do presidente chama-se Finanças Públicas, que se encontra esgotado, tal e qual as finanças do país. Fernando Nobre, dá Gritos Contra A Indiferença, faz justiça ao seu nome e com nobreza escreve Humanidade, o poeta Manuel Alegre, com obra que ficará certamente na história da literatura portuguesa, lança em Março, O Miúdo que Pregava Pregos Numa Tábua, diga-se um título sem qualquer preocupação eleitoral. Quanto ao nosso primeiro, espera-se no futuro o livro de memórias, que forçosamente se chamará Sob Escuta, assim uma espécie de ebook com cd- áudio, links com receitas de almoços acidentados, e vídeos com telejornais indesejados , um verdadeiro plano tecnológico editorial, sucesso garantido ou talvez não.

Nos Açores, as eleições regionais não estão no horizonte, mas é preciso praticar, escrever crónicas de opinião, frequentar cursos de escrita criativa, afinal salvaguardando as devidas diferenças, Winston Churchill foi prémio Nobel da literatura.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Terra Nova de Anthony de Sá







Filho de pais açorianos, Anthony de Sá cresceu na comunidade portuguesa de Toronto. Os seus contos foram publicados em diversas revistas literárias norte-americanas, frequentou a Humber School for Writers aonde agora é chefe do departamento de Inglês. Terra Nova é o seu primeiro livro, com pormenores fantásticos, personagens realistas e uma empatia apaixonada, Anthony de Sá, conta a historia dos açorianos emigrados no Canada, nos anos 50, leva os leitores a viver os sonhos inocentes e a difícil relação com a geração dos filhos, desilusões amargas da imigração. No bairro português em Toronto conhecido como Little Portugal, o autor convida-nos a entrar na vida da família Rebelo e a encontrar ai a promessa e a decepção inerentes às escolhas feitas pelo pai Manuel, emigrante da Lomba da Maia, e às expectativas colocadas sobre o filho António nascido no Canada, e como foi crescer na Toronto dos anos 70 na comunidade portuguesa, uma "comunidade silenciosa", que até agora guardara os seus segredos.
Anthony de Sá é uma história de sucesso, a sua obra foi disputada por vários agentes literários, e ao fim de pouco tempo as editoras estavam a lutar pelo manuscrito.
O livro muito popular no Canada, esteve nas “short-lits” para vários prémios, tendo tido muitas boas criticas, Nelly Furtado recentemente comprou os direitos para o cinema.
Editado em Portugal pela D.Quixote, Anthony afirmou em entrevista ao jornal Publico, "tinha eu 22 anos, a minha mãe decidiu que íamos voltar a São Miguel. Foi ai que pela primeira vez compreendi que estava ligado a esse lugar e me apaixonei por ele. Nessa altura eu era completamente canadiano não queria ter nada a ver com o meu lado português. E lembro-me de sair do aeroporto e ir de carro até Lomba da Maia e sentir uma ligação muito forte a este sitio."

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

ADN da Cidade

"Uma das coisas que me atrai nas grandes cidades como Paris ou Nova Iorque são as livrarias. Desde adolescente que a descoberta dos livros – sobretudo dos romances – é a minha grande paixão.
Passear numa livraria e descobrir um autor ou um livro que suspeitamos nos vai abrir as portas para o mistério e para o deslumbramento, pôr-nos em contacto com personagens extraordinárias cujo o destino não resistimos a partilhar, a descrição de uma paisagem ou um sentimento, o lado encantatório da prosa, a magia de um adjectivo, são prazeres inefáveis que me moldaram para sempre o carácter, a memória e o destino."

António Pedro Vasconcelos, in Sol

As cidades catalisadoras de cultura são as que conseguem reunir em si condições necessárias para o estímulo de múltiplas actividades criativas. As livrarias são espaços por excelência, que fomentam e divulgam conhecimento, trazendo mais valias sociais e registos de memória.
Uma cidade sem livrarias são como um corpo sem ADN.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Ano do Pensamento Mágico

De uma honestidade devastadora, O Ano do Pensamento Mágico de Joan Didion (Natinol Book Award 2005), é um magnífico retrato sobre a perda, a mágoa e a tristeza, pintado ao detalhe. Fala-nos da forma como conseguimos superar e seguir em frente.
A partir deste texto Eunice Muñoz interpréta a solo a peça encenada por Diogo Infante.




Dia 20 Fevereiro no Teatro Micaelense



domingo, 14 de fevereiro de 2010

Paixão Confiável

" a paixão pelos livros é a mais durável e a mais confiável das paixões"

João Lobo Antunes, in Publico

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Leiam Por Amor de Quem Quiserem

Como ler sobre a paixão sem cair na lamechice, e afogar-se na enxurrada de adjectivos e substantivos em erosão. A literatura é como uma veia ou artéria, uma das ruas de sangue que alimentam o coração dos homens. Com Romeu e Julieta, os dois amantes condenados ao equivoco amoroso, Shakespeare, assentou definitivamente o tema, instituindo um modelo universal. O nosso Camilo, homem de paixões reais, escreveu com mão de mestre , Amor de Perdição, a paixão assolapada de Simão e Teresa e a tragédia das famílias rivais Botelho e Albuquerque. Eça com os seus Maias (Os), definiu a excelência da paixão funesta da literatura nacional. Tristão e Isolda, o amor adúltero do cavalheiro pela princesa , a velha lenda celta deste casal infeliz foi apropriada por Wagner, a música inspirada na literatura, inesquecível. A Canção de Amor de Alfred J. Prufrock, de T.S.Eliot, um dos poemas de pelos quais vale a pena chorar., no entanto a poesia é parcelar e não conta histórias, as pessoas tanto como amam as paixões, amam sobretudo as histórias de paixões.



O amante rejeitado, romantismo puro, é Jay Gatsby em o O Grande Gatsby, a vida como uma série ininterrupta de gestos bem sucedidos, amores , renúncias, enganos, Swann que ama Odette que o não percebe, prosa perfeita de Marcel Proust com Um Amor de Swann, paixão inexplicável a de Archer que ama a condessa Ellen Olenski que o não recebe, A Idade da Inocência, de Edith Wharton , desencontro constante. Madame Bovary de Flaubert e Ana Karenina de Tolstoi, dois monumentos à tontice das mulheres apaixonadas pelo homem errado, o canalha. Tão violento que nenhum homem o conseguiria escrever assim, O Monte dos Vendavais, de Emily Brontê, talvez o relato mais destruidor, se não leram pelo menos um livro de paixões, leiam este, e da sua irmã Charlotte, Jane Eyre faz com que a familia tenha produzido duas obras-primas. Nabokov conseguiu escrever Lolita, leiam por amor de quem quiseram, e ao de leve Milan Kundera com A Insustentável Leveza do Ser, com final feliz e personagens que chegam a velhas, leiam O Amor nos Tempos de Cólera. E se ainda tiveram folgo leiam A Mancha Humana de Phlip Roth e de Ian Mcewan a Expiação.
Se me perguntarem o que fica de fora, fica muita e boa literatura, quanto ao resto como diria Woody Allen, têm todos as angústias do temperamento artístico sem terem o talento.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Português Educado

“ Passei um tempo esta semana a ler a História de Portugal, que Rui Ramos coordenou e que escreveram Bernardo Vasconcelos e Sousa, Nuno Monteiro e o próprio Rui Ramos ( a parte que diz respeito aos séculos XIX e XX ). É um livro obrigatório para qualquer português educado, mas sobretudo para qualquer político, muito especialmente pela descrição minuciosa e lúcida do Portugal “Moderno”. Perante as desgraças da Pátria é costume comentar:” Sempre foi assim” . Agora, Rui Ramos mostra que o desafio não é um simples desabafo e que, de facto, sempre foi assim. Os megalómanos que andam por ai a anunciar uma espécie de “ruptura” salvífica e a gente mais modesta que, do seu canto, mais prudentemente promete ”reformas” não sabem do que falam.”

Vasco Pulido Valente, in Público

Num volume único de mil páginas para os quase nove séculos do Pais, um empreendimento ousado da responsabilidade de três historiadores da nova geração, editado pela Esfera dos Livros.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Inveja mal secreto


"Aos navegantes que pretendem empreender essa viagem, o autor pede que levem consigo, para o caso de se perderem , três distinções básicas; ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é não querer que o outro tenha.
E que prestem atenção: a inveja é um vírus que se caracteriza pela ausência de sintomas aparentes. O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde."

Zuenir Ventura

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Açorianos no Divã de Joana Amaral Dias

"Mas a marquesa Jacóme Correia passou por períodos bem mais sombrios, nomeadamente o internamento à força numa clínica na Suíça, onde foi alvo de choques eléctricos, vários casamentos tempestuosos e falhados e, sobretudo,uma dor mental que a acompanhou desde a infância."
Joana Amaral Dias


A psicóloga clínica Joana Amaral Dias traça o retrato psicológico de portugueses célebres tidos como loucos, no livro Maníacos de Qualidade. Baseada numa investigação histórica cuidada e na leitura de escritos e registos biográficos e autobiográficos- cartas, diários, etc.-, a autora revela-nos a dor psíquica destas figuras, bem como o seu respectivo diagnóstico clinico.
Porém J A.D. vai mais longe e, nesta viagem aos universos mentais destas personagens, questiona os rótulos com que estas foram marcadas e os tratamentos a que foram sujeitas- da fogueira a sanguessugas, dos banhos gelados aos choques eléctricos, das tareias ao apedrejamento.
Dos portugueses célebres na consulta com a psicóloga estão - Antero Quental ( Vivo Na Morte) e Margarida Vitória (A Marquesa No Divã) , não deixa de ser curioso que entre as oito figuras no divã da doutora Joana dois são açorianos, bela média a nossa.
Valho-nos que para além de maníacos eram génios.

Atmosfera de Pura Amizade

“Na leitura, a amizade é subitamente reconduzida à sua pureza primordial. Com os livros, nada de amabilidades. Se passamos a noite com esses amigos, é porque assim verdadeiramente nos apetece. A eles, pelo menos, só a contragosto è que muitas vezes os deixamos. E, quando os deixamos, não há nenhum daqueles pensamentos que estragam a amizade. Que pensaram de nós? – Ter-lhes-emos agradado?
- E nem receio de sermos esquecidos. Todas as agitações da amizade expiram no limiar desta amizade pura calma que é a leitura.
Não há tão-pouco lugar de preferência: somente rimos do que diz Moliére na medida exacta em que achamos engraçado; quando nos aborrecemos, não temos medo de nos mostrar aborrecidos, e quando decididamente já estamos fartos de estar com ele colocamo-lo no seu lugar, tão bruscamente como se ele não tivesse génio nem celeridade. A atmosfera desta pura amizade é o silêncio mais puro do que a palavra. (…) Entre o pensamento do autor e o nosso não se interpõem esses elementos irredutíveis, refractários ao pensamento, dos nossos diferentes egoismos.”

Marcel Proust

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Tinta Electrónica

A desilusão continua no mundo dos e-readers, o novo “tablet” apresentado pela Apple, com ecrã táctil e teclado no monitor, de seu nome iPad borra a tinta electrónica . No lançamento Steve Jobs disse “Vê-lo não é a mesma coisa que ter um na mão” pois não, não é pratico, é assim uma espécie de iPhone gigante. Quem já leu um e-book sabe que cansa muito a vista, imagine num ecrã LED dos produtos da Apple, e a luta constante para evitar que o ecrã mude da vertical para a horizontal sem querermos, para além disso, a loja e a aplicação ibooks só estarão disponiveis e a funcionar nos EUA. Os senhores do Kindle e do iPad, enquanto não entenderam que um e-book não pode ser uma cópia simples do livro impresso, continuaram a desiludir no que ler livros diz respeito. No futuro o que mudará é ler o livro mas também aceder a “links”, ver vídeos, ouvir som, ou seja uma experiência capaz de suplantar a que o impresso nos dá, isto é o que os especialistas consideram. Espero eu que seja num futuro longínquo.

fenais da luz


Exposição de Catarina Branco na Fonseca Macedo até 27 de Fevereiro. Imperdível

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Trombas Sagradas

O elefante branco era um animal sagrado que não podia ser usado em trabalho na antiga Índia, quando o rei oferecia um destes animais a um cortesão, este tinha de o alimentar, mas não retirava dai nenhum proveito, ou seja, possuía algo muito valioso, mas só lhe dava despesas, conduzindo-o, muitas vezes, à ruína.
Do meu quarto com vista sobre a cidade, observo vários exemplares dessa espécie, e juro que não estou na Índia.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Borlas


No retrato dos portugueses como consumidores de produtos culturais, segundo o Observatório das Actividades Culturais (Estatísticas- Ministério da Cultura), ficamos a saber que grande parte da cultura disponibilizada pelos organismos públicos é gratuita. Nos museus, nos teatros, no bailado, nos palácios, são mais os que entram sem pagar bilhete do que os que pagam. Não se percebe que num sector com graves problemas crónicos de financiamento, em que o peso da cultura no orçamento do estado está sempre aquém das necessidades, como é possível que haja instituições onde as entradas gratuitas privilegiem quase metade dos espectadores.
Gostamos sobretudo de cinema e pagamos para ver, de preferência se for americano. Nos outros equipamentos culturais aproveitamos as borlas.
Por cá é habitual ver as primeiras filas das salas de espectáculos vazias, o que significa que nem à borla vão.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O Regresso a Casa

Maria José Cavaco

“A minha memória é tão fraca que já me aconteceu mais que uma vez pegar de novo, como se fossem recentes e desconhecidos para mim, em livros que lera cuidadosamente uns anos antes e que rabiscara com as minhas notas. Para acudir a estas falhas, ganhei o hábito, desde há algum tempo, de acrescentar no fim de cada livro a opinião que dele fiz em geral ( refiro-me àqueles de que quero servir-me apenas uma vez) a data em que terminei a minha leitura e a opinião que dele fiz em geral para poder recuperar ao menos a maneira e a ideia geral que concebi do autor durante a minha leitura. Quero transcrever aqui algumas dessas anotações.”
Montaigne

Ao longo de algumas décadas de convívio com os livros da sua biblioteca, Montaigne foi escrevendo os vários volumes dos Ensaios, que, como todos os grandes clássicos, nunca perderam a actualidade, enriquecendo-se, pelo contrário, com as novas leituras que faz cada nova geração.
A esse vasto manancial, fomos buscar esta reflexão sobre os livros que nos pareceu oportuno editar aqui no nosso regresso a casa.